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B3: saída de capital estrangeiro assusta, mas não é anormal, dizem analistas

Investidores gringos retiraram quase R$ 7,4 bilhões da bolsa no mês de agosto

Do início do mês até a última segunda-feira (14), o fluxo de capital estrangeiro na bolsa brasileira foi de R$ 7,377 bilhões negativos. O movimento de retirada acaba coincidindo com a redução da taxa básica de juros em 0,50 pontos percentuais (p.p.), a 13,25% ao ano – decidida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) no dia 2 de agosto. No entanto, analistas declaram se tratar de um comportamento natural.

Para Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas), a saída dos investidores estrangeiros da bolsa nesse curto período é mais um reflexo de um ajuste do período de realizações de lucros, ou de movimentações da economia americana, do que uma resposta à redução da Taxa Selic.

“O Brasil tem a maior taxa real de juros do mundo, então, o corte da Selic não causa esse reflexo. Os estrangeiros não estão indo embora porque a taxa de juros foi reduzida”, disse a professora.

“É importante também amenizar um pouco esse tipo de discurso e não criar pânico, até porque ele não procede… o Brasil também precisa fazer a condução da sua política monetária independente desse tipo de comparativo. Sim, a taxa de juros do Brasil precisa ser reduzida porque isso é melhor para outro tipo de investimento. Nós temos que nos preocupar com o investimento estrangeiro direto. É aquele que vem para o lado real da economia, que produz bens e serviços. E menos com o capital especulativo”, acrescentou.

Até o fechamento da bolsa nesta terça-feira (15), foram 11 pregões seguidos de queda do Ibovespa, a pior sequência desde fevereiro de 1984. O desempenho ocorre em meio a uma repercussão negativa de dados econômicos, como a alta do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica) do segundo trimestre e a expectativa de uma inflação acima do teto para 2023.

Mas essas quedas contínuas não surpreendem Ricardo Jorge, especialista em mercado de capitais e sócio da Quantzed. Para ele, faz sentido “tirar o pé do acelerador”.

De março a julho, a bolsa subiu com muita força, saindo de 97 mil pontos para 122 mil, uma alta expressiva em um período curto. Esse crescimento, segundo Jorge, se deu por uma melhora da conjuntura econômica e política do país, pela inflação dando sinais de arrefecimento, por pautas importantes sendo aprovadas no congresso e até pela expectativa do início do corte de juros. Então, tudo isso acabou atraindo os investidores, tanto os locais quanto os estrangeiros.

“Passada essa fase de altas, faz sentido tirar um pouco o pé do acelerador, esperar agora uma nova etapa, lembrando que a gente ainda tem pautas importante antes no final dentro do congresso. Então faz sentido realizar um pouco desse lucro acumulado e aí sim, quando o cenário estiver mais claro, a gente volta a volta com esse fluxo de compra novamente. Em resumo, eu não vejo nenhuma anormalidade nesse movimento do investidor estrangeiro”, destacou.

IBC-Br: Atividade econômica desacelera no 2º trimestre

A atividade econômica brasileira desacelerou no segundo trimestre deste ano, de acordo com informações divulgadas nesta segunda-feira (14), em Brasília, pelo Banco Central (BC). O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) teve alta de 0,43% de abril a junho em relação ao trimestre anterior (janeiro a março), de acordo com dados dessazonalizados (ajustados para o período).

Já no primeiro trimestre do ano, o crescimento foi de 2,41%, se comparado ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2022).

Em comparação ao trimestre de abril a junho de 2022, a alta foi de 2,65% (sem ajuste para o período, já que a comparação é entre meses iguais).

Em junho de 2023, o IBC-Br teve alta de 0,63%, atingindo 146,65 pontos. Na comparação com o mesmo mês de 2022, houve crescimento de 2,10% (também sem ajuste para o período). No acumulado em 12 meses, o indicador ficou positivo em 3,35%.

O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica do país e ajuda o BC a tomar decisões sobre a taxa básica de juros, a Selic, definida atualmente em 13,25% ao ano. O índice incorpora informações sobre o nível de atividade de setores da economia – indústria, comércio e serviços e agropecuária –, além do volume de impostos.

A Selic é o principal instrumento do BC para alcançar a meta de inflação. Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas ajudam a redução da inflação, mas também podem dificultar a expansão da economia.