Ibovespa em queda e dólar em alta não assusta analistas

Especialistas ouvidos pelo BP Money elencaram que Selic, incertezas políticas e cenário externo influenciam na bolsa e na moeda americana

Nesta sexta-feira (11), o Ibovespa sofreu a nona queda seguida no mês de agosto. O principal índice acionário brasileiro encerrou o dia com recuo de 0,24%, aos 118.065 pontos. De acordo com dados da plataforma TradeMap, sucessões tão longas de recuos só ocorreram outras duas vezes desde 1994, quando foi lançado o Plano Real. A última delas aconteceu em agosto de 1998.

O dólar, por sua vez, deu sinais consistentes de recuperação após sucessivas quedas em julho. A moeda americana encerrou o dia com 0,45%, cotado a R$ 4,90, acumulando ganhos de 0,59% na semana e de 3,69% em agosto.

Para analistas ouvidos pelo BP Money, os números não devem assustar. O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias explica que uma das causas para o aumento da bolsa de valores foi justamente o corte na Selic feito pelo Copom (Comitê de Política Monetária) na semana passada. 

“O mercado tem normalmente o padrão de subir no boato e cair no fato. Então já existia uma expectativa grande do mercado de ver esse corte na taxa de juros. Com a confirmação, é normal que alguns investidores que estavam esperando a queda encerrarem suas posições para colocar um pouco de lucro no bolso. A gente viu o mercado brasileiro saindo de um patamar de 100 mil pontos para 120 mil pontos, numa sequência de quatro semanas e em algum momento os investidores querem realizar esses lucros”, avaliou Dias. 

Dias ainda cita as incertezas internas e externas. No Brasil, ele analisa que as indefinições em relação às propostas do governo na área econômica deixam os investidores receosos. 

“Tem um somatório na reforma tributária que ainda não ficou claro, que é do quanto vai ser a alíquota do IVA e de como vai ser essa transição do modelo atual para o modelo do IVA”, destacou. 

Ele também atribui a queda do Ibovespa ao cenário externo. “No front internacional a gente vê uma dinâmica das ações americanas se desvalorizando também por um patamar de preços ter sido alcançado num período muito curto. A gente vê também algumas brigas entre China e Estados Unidos trazendo uma tensão para o mercado. Então é importante que a gente entenda que existe também no front global uma incerteza no mercado e tudo isso acaba sendo motivo para não ter alta nos preços”, acrescentou 

Dólar

O CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, acredita que o cenário externo seja o principal responsável pela alta do dólar. De acordo com ele, com a Selic em queda, o mercado de câmbio aguarda os próximos passos do Fed (Federal Reserve), que podem influenciar os rumos da moeda norte-americana. 

“Se o Fed não começar a cortar os juros tão cedo nos EUA, isso deve pressionar o dólar a se manter em alta. Por outro lado, outros fatores podem provocar uma queda na moeda, como alta nas commodities e uma melhora no cenário fiscal no Brasil”, afirmou.

Para Bazzo, é pouco provável neste ano que o dólar chegue a R$ 5. “Isso considerando o cenário fiscal, a atual política monetária e a retomada de alta das commodities, como o petróleo. Além disso, o segundo semestre historicamente tem uma maior demanda por remessas para o exterior de empresas que têm filiais aqui. Acredito que o dólar se encontra hoje em uma zona de conforto e não deve sair disso”, cravou.

O especialista projeta que para 2024 a expectativa é de queda da moeda americana.”Para o ano que vem, a tendência é que um cenário de corte de juros nos EUA possa pressionar o dólar para baixo. O dólar também pode desvalorizar com a melhora no cenário fiscal no Brasil e um impacto positivo nos balanços das empresas com a queda da Selic”, finaliza.