Economia

BTG Pactual (BPAC11) vê pessimismo exagerado em relação à China

Setores da economia chinesa altamente consumidores de metais continuam crescendo de maneira robusta

Apesar do receio causado pela queda na construção civil na China, outros setores da economia chinesa altamente consumidores de metais continuam crescendo de maneira robusta.

O relatório “The Disconnect” da BTG Pactual (BPAC11) indica que as ações da Vale (VALE3) podem se beneficiar do momento. No relatório “The Disconnect,” os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner dizem que “está na moda” ter uma visão bear da China, mas a realidade dos números do mercado de commodities mostra uma outra história – e parece estar “desconectada” do pessimismo das manchetes.

Segundo os analistas, os mercados físicos de minério e metais “sugerem um ambiente mais normal e apertado do que a narrativa,” e o relatório quer mostrar “esse descompasso entre o noticiário e a realidade.” O BTG elenca uma série de fatores que apontam para um mercado mais aquecido.

O preço do minério de ferro, um dos melhores indicadores da saúde na atividade industrial chinesa, tem se mantido acima de US$ 110 a tonelada. “Quem poderia adivinhar que o minério de ferro permaneceria acima do custo marginal de produção – entre US$ 80 e US$ 100 por tonelada – em meio ao estouro deflacionário no importante mercado de imóveis na China?” indagam os analistas.

A China responde por mais de 70% das importações mundiais de minério de ferro, e seu setor imobiliário é responsável por um terço desse consumo. Os analistas do BTG dizem que mantiveram conversas com executivos da Vale e a mensagem passada por eles foi de que “as condições econômicas na China continuam normais” e “todo o book de encomendas está completo para os próximos trimestres”. Segundo Leonardo, “os estoques de aço não estão se formando,” o que sugere uma sustentação no preço do minério à frente.

Os estoques de minério nos portos e nas siderúrgicas chinesas estão nos níveis mais baixos em muitos anos. Para o BTG, os números do mercado chinês indicam que a queda nas ações da Vale não se justifica, e que os preços atuais representam um ponto de entrada atraente.

O banco tem recomendação de compra para a Vale, com preço-alvo de R$ 94 – um upside de 45% em relação ao preço de tela. Nesta segunda-feira (29), as ações da Vale tiveram um dia positivo, depois do anúncio pelo governo chinês de incentivos para o mercado imobiliário. As ações subiram quase 3% para R$ 65 – ainda distantes dos R$ 98 de janeiro, o pico deste ano. A construção de prédios residenciais pode estar em baixa, mas outros setores de engenharia permanecem aquecidos.

Segundo a Bloomberg, os investimentos em ferrovias subiram 25% nos primeiros sete meses do ano, as fábricas de máquinas tiveram alta de 15% e as montadoras avançaram 12%. No mesmo período, a construção de imóveis recuou 7%. “A China tem problemas e os desafios são bem conhecidos, mas tem muito pessimismo nos preços,” disse Leonardo. “Existe folga na atividade para sustentar as exportações brasileiras.”

Com informações do Brazil Journal

China: desaceleração deixa Brasil em alerta

Nos últimos dias a economia da China mostrou sinais de desaceleração como impacto do desempenho ruim do setor imobiliário. Em consequência disso, o gigante asiático anunciou, no último dia 21, uma redução na taxa de juros crucial como parte das medidas para combater a crescente desaceleração econômica pós-Covid.

Uma das vítimas da crise foi a Evergrande. A gigante chinesa da construção, solicitou na semana passada um pedido de proteção contra falência, o conhecido “Capítulo 15”, em Nova York. Este movimento ligou todos os alertas, devido ao histórico de problemas da companhia.

Afinal, a crise que afeta a China pode prejudicar o Brasil, já que o país asiático é o nosso maior parceiro comercial? O governo não aparenta aflição. De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, não há nenhuma preocupação sobre a crise no país asiático. O ministro diz não enxergar nenhuma conexão entre a crise chinesa e a redução de capacidade investida no Brasil.

Já especialistas ouvidos pelo BP Money têm opiniões distintas sobre os efeitos na economia brasileira, mas concordaram que o momento é de atenção. Para o economista chefe da Planner Corretora, Ricardo Martins, a segunda maior economia do mundo ainda sofre com os efeitos da pandemia.

“Ao observarmos o crescimento do PIB no 2T23 de 6,3% anualizado, muito em função da baixa base comparativa de 2022 por conta da forte política contra Covid-19 ocasionando muitos lockdowns, a evolução em relação ao 1T23 foi de apenas 0,8%, este evoluindo 2,2% sobre o 4T22, muito em função das baixas vendas no varejo e investimentos privados”, avaliou.

Ainda assim, ele mostra otimismo, apesar de manter o alerta ligado. “É fato que a deterioração da relação China x Ocidente tem feito com que investimentos externos e internos sejam redirecionados e América do Sul tem sido um destino certo. Para o Brasil, a China como um dos principais parceiros comerciais com importações de produtos primários não será afetada, embora esteja em desaceleração pelo momento econômico, assim como investimentos no setor de alimentos e energia”, disse.

“O centro do problema chinês reside na falta de apoio a população e Províncias, com endividamento alto, e principalmente ao setor imobiliário já contagiando o setor financeiro. Medidas de curto prazo acalmam os mercados, mas fundamentalmente para o setor imobiliário e sem profundidade não serão suficientes. A China é grande no comércio externo global e essa saída encontra um mundo em desaceleração, o que não é nada bom para o país”, complementou.

Já o coordenador do núcleo de economia da Apimec Brasil, Alvaro Bandeira, encara a crise chinesa com pessimismo. Para ele, a desaceleração afeta a todos, incluindo os EUA. “Afeta especialmente o Brasil, pois é o nosso maior parceiro comercial, principalmente nas exportações minerais e proteínas”, afirmou.

Bandeira chama atenção para o fato de que ainda não foi apresentada uma alternativa consistente para superar a turbulência. “As medidas que o governo vem adotando são essencialmente de curto prazo, faltando planejamento de mais longo prazo. Portanto podemos ter novamente “voo de galinha”, se não tivermos um PAC de fato que busque ampliar a produtividade e com regras e marcos regulatórios estáveis”, pontuou.