Um dos setores mais impactados com a alta taxa de juros no Brasil é o varejista. Porém, mesmo após os seguidos cortes na Selic promovidos pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), as empresas do ramo continuam amargando resultados desastrosos no Ibovespa.
Em setembro, as ações de gigantes do setor despencaram: Casas Bahia (BHIA3) (-53,54%), Magazine Luiza (MGLU3) (-25,72%) e Renner (LREN3) (-15,32%) são exemplos do péssimo desempenho que as companhias tiveram ao longo deste mês.
Para o especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, o que mais pesa para as varejistas não são os juros atuais e sim os futuros. “Os principais juros são negociados no futuro, então a gente vê os juros de 2025, 2033 em tendência de alta. Essa queda dos juros que o Banco Central fez estava refletindo na queda de juros que aconteceu no futuro lá em novembro, dezembro do ano passado. O investidor que precisa ficar atento a essas oportunidades e olhar os contatos como o DI [juros] futuro de 2025, 2026 e 2033”, explicou Dias ao BP Money.
O economista e CEO da Ativo Investimentos, Diego Hernandez, acrescenta que um dos motivos da queda do setor está na macroeconomia global. Ele destaca que a política monetária mais expansionista no Brasil, com a contração de juros, faz com que o lado real da economia tenha um movimento mais próspero, de mais aquecimento dado que o crédito fica mais barato. Porém, este movimento vai de encontro ao que está sendo feito pelos EUA, onde há uma política mais “contracionista” que ainda não deu sinais mais claros se o aumento de juros chegou perto do fim.
“Essa política contrária entre as duas economias acaba gerando a dúvida no Brasil de até quanto nossos juros vão baixar, visto que lá fora temos juros de 5,5% e aqui 12,75%. À medida que o juros lá fora vão subindo e aqui baixando, por sermos um país emergente, tem um prêmio de risco em relação a economias desenvolvidas como nos EUA para que a gente tenha aqui uma entrada de capital. Fica cada vez mais previsível o tamanho do corte dos juros aqui no Brasil. Enquanto não tivermos uma segurança de quanto serão os juros finais na economia americana, a economia brasileira não acordará. Esse é o motivo mais macro que sustenta esse patamar bem baixo das varejistas”, detalhou Hernandez.
Ainda segundo Hernandez, um outro ponto a ser considerado, é que existe uma crise de confiança contra as varejistas por conta da crise da Americanas (AMER3). O especialista destaca também o grau de endividamento muito grande das empresas, que sofreram bastante no período de juros elevados.
“Não é da noite para o dia que vai resolver. Precisamos ter um trimestre de resultado positivo para que os preços dos ativos voltem para patamares satisfatórios”, pontuou.
Lojas Renner
Questionado sobre qual gigante do setor vale a pena ficar de olho, Hulisses Dias não titubeou e colocou a Renner como promissora. Na avaliação dele, a gigante é a melhor alternativa por ser uma companhia que já vem dando sinais de um futuro próspero.
“É uma empresa que tem um histórico de boa gestão, de boa estrutura, de capital conservadora, ou seja, não é uma empresa assolada em dívidas. É uma empresa que vem fazendo recompra de suas próprias ações a preços mais altos. Acredito que as lojas Renner sejam a melhor alternativa do varejo brasileiro atualmente”, classificou.
Magazine Luiza
Já Diogo Hernandez aposta suas fichas na Magazine Luiza. Para ele, a empresa deve se recuperar numa velocidade maior da crise, embora tenha enfrentado bastante problema com seus resultados.
“Ela tem uma situação financeira um pouco mais ajustada comparado com as Casas Bahia, Americanas e outras empresas do setor. Acho que ela tem uma situação de caixa melhor que as demais e já há inclusive recomendações das casas de análises que estão começando a colocar recomendação de compra na Magazine Luiza.O investidor precisa de muita cautela na compra desses ativos porque são de bastante volatilidade e a gente não sabe ainda se chegou a um patamar final de preço”.