Política

Guerra Israel x Hamas pode afetar petróleo, dólar e Brasil; entenda

Especialistas ouvidos pelo BP Money alertam que a disputa militar pode trazer consequências para a economia

O mundo acordou assustado na manhã deste sábado (7) com a força dos ataques do grupo islâmico Hamas contra Israel. O comandante militar do Hamas, Mohammad Deif, considerou a ofensiva como o início de uma operação. “Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação”, afirmou.

O contra-ataque israelense veio de imediato. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu lançou a operação “Espadas de Ferro” e a convocação de reservistas do exército. Ao longo do dia, vídeos tomaram as redes sociais mostrando prédios sendo bombardeados em Gaza.

A imprensa local estima que ao fim do dia, cerca de 500 pessoas foram mortas dos dois lados e outras 3 mil tenham ficado feridas. 

Especialistas ouvidos pelo BP Money alertam que a disputa militar pode trazer consequências para a economia, em especial no preço do barril do petróleo e na cotação do dólar, com o Brasil inserido nos dois contextos. 

Embora a possibilidade exista, neste momento ela ainda é remota. Para a reportagem, os analistas avaliam que o risco aumentará à medida que a disputa militar perdurar, ou seja, quanto mais demorada a guerra for, mais chances tem de afetar commodities como o petróleo e desvalorizar moedas mundo afora.

Advogado pela USP, mestre em direito e economia pela Universidade de Chicago, Fernando Guida Sandoval tem interesse em particular pelo assunto. Ele é sobrinho-neto de Oswaldo Aranha, considerado o chanceler de maior destaque na história da República brasileira.  

Aranha foi presidente da primeira sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas e responsável por obter votos suficientes para formação do Estado de Israel no antigo território palestino ocupado pelo Reino Unido com a aprovação da Resolução 181, também conhecida como Plano de Partilha da Palestina.

Para ele, seria inadequado imaginar uma postura oportunista dos grandes produtores de gás e petróleo mesmo sabendo que diversos países árabes são fundamentais para o mercado. “O Hamas não tem poderes suficientes para tamanho disparate”, acredita.

“Israel entrará pesadamente contra o Hamas na administração de Gaza. Quem será o novo administrador é uma dúvida real. Contudo, vista a postura mais recente de aproximação entre os governos Saudita, do Egito, da Jordânia, dos Emirados Árabes com Israel, é possível presumir que tais países participassem de alguma forma de aliança para que o escalonamento da guerra seja o menor possível”, avalia.

A tensão em torno do petróleo voltaria à cena se a guerra se prolongar. “É presumível que os preços do petróleo se mantenham estáveis se a guerra for curta. À longo prazo, seria prematuro dizer que variações daí sim oportunista não ocorreriam”, resumiu.

O economista chefe da Planner Corretora, Ricardo Martins, encara a situação com um pouco mais de cautela. Para ele, apesar da gravidade dos conflitos, o fato não trará estresse ao mercado de petróleo por si só, mas sim por decisões dos envolvidos nesse universo. 

“O aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio pode ameaçar a produção e as cotações do petróleo se coadjuvantes grandes produtores de petróleo passarem a atuar pela potencialidade da oportunidade apresentada pelo Hamas. Da falha do sistema de segurança e inteligência israelita, às mudanças propostas pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que trouxeram crise, divisão na sociedade, impacto econômico e preocupação de aliados do Ocidente, não há como não conviver com um ambiente ainda mais incerto e prolongado”, opinou.

“Nessa contextualização, as negociações de acordo de paz entre Israel e Arábia Saudita intermediadas por Estados Unidos, aliado de Israel, podem não evoluir por conta do Hamas ter como aliado o Irã, rival histórico da Arábia Saudita. Há alto risco ainda a partir do Líbano com o Hezbollah e escalada de embates na Cisjordânia. Neste momento o que o mundo não quer, assim como o Brasil, é mais volatilidade ao mercado de petróleo, sua produção, cotações e consequentes impactos inflacionários, no câmbio e na definição de política monetária além do já observado”.

Dólar

A dúvida em relação ao dólar está diretamente ligada à participação que os EUA terão na guerra. Aliados históricos de Israel, os americanos devem ajudar no que for possível no conflito contra o Hamas. 

Fernando Guida Sandoval indica que o apoio poderia implicar no aumento na produção de armamento e bens de primeira necessidade nos EUA; e, a mobilização dos EUA como coordenador das forças estrangeiras com Israel e, por consequência, com a Palestina.

Na sua avaliação, os dois cenários tenderiam a valorizar a moeda americana. “Não necessariamente no mundo todo, mas em países mais impactados com economias onde o dólar é fundamental, nem que seja apenas em função do comércio internacional.Se isto inclui o Brasil? Provavelmente. Apesar da diminuição pífia contudo progressiva das taxas de juros brasileiras, ainda somos um país de produção substancial de commodities, sejam agrícolas, sejam minerais”, projetou. 

“Mesmo com o resultado da criação de vagas de emprego nos EUA que impactou a valorização do dólar, contudo com a recuperação dos mercados nacionais – IBOVESPA é prova disso -, chances de aumento nas taxas de juros nos EUA, mesmo que subsidiados por alguns mercados, dinheiro especulativo em fundos brasileiros tenderiam a migrar para outras jurisdições menos arriscadas”, pontuou.