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Petrobras (PETR4): plano de investimento não surpreende, dizem analistas

Estatal anunciou investimentos na ordem de US$ 102 (R$ 500 bilhões na cotação atual) para os anos de 2024-2028

A Petrobras (PETR3;PETR4) apresentou, na quinta-feira (23), seu planejamento estratégico com previsão de investimentos na ordem de US$ 102 (R$ 500 bilhões na cotação atual) para os anos de 2024-2028.

Mesmo este número representando um valor 31% superior ao último plano apresentado pela companhia, especialistas ouvidos pelo BP Money dizem que o valor não surpreende.

“A revisão anual do Plano Estratégico da Petrobras leva em consideração uma série de premissas importantes para a indústria de petróleo, como estimativa de preço médio do tipo Brent e o câmbio, para período de investimentos, além do direcionamento da gestão sobre alocação de recursos nas principais áreas de atuação da estatal. Ou seja, o plano divulgado traz características que a nova gestão da Petrobras acredita ser importante para o futuro da estatal. Portanto considerando essas premissas e o direcionamento da nova gestão, pode-se considerar que a revisão está alinhada”, avaliou a estrategista de renda variável da InvestSmart, Mônica Araújo.

Já o especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, analisou que o plano ainda traz dúvidas em relação ao destino dos investimentos. Ele pondera que a interferência do governo pode surtir efeitos negativos no desempenho financeiro da companhia.

“No passado, a Petrobras alocou menos capital do que estava previsto no orçamento. O orçamento apresentado representa um aumento de 30,7% em relação ao plano em vigor.. Se este maior investimento for alocado em projetos onde a Petrobras tem capacidade de gerar valor, isto reverterá na geração de caixa, porém, ocorrendo intervenções políticas para a empresa voltar a ser um braço social, o futuro não se torna promissor”.

Um outro ponto destacado pelos especialistas, foram os sinais dados pela Petrobras em relação à produção. A estatal vai aumentar o volume de investimentos destinados à área de Produção & Exploração no que foi chamado de portfólio em Implementação, que atingiu US$ 73,4 bilhões, valor 13% maior que o anterior.

“De acordo com a empresa, parte desse aumento do volume de investimentos está associado a potenciais aquisições, incluindo retorno de ativos que voltaram para carteira de investimentos. Porém, na projeção de produção de óleo e gás natural não foi observado um crescimento para o mesmo período comparável, o que significa que a empresa aumentou investimentos na área sem que isso represente aumento de produção”, ressaltou a estrategista da InvestSmart.

Hulisses Dias aponta que até mesmo a produção do carro-chefe da companhia pode ser diminuída. “As estimativas para a produção de petróleo ficaram menores, devido às condições atuais de mercado oriundas do contexto global, onde alguns sistemas de produção e projetos complementares de águas profundas tiveram seus cronogramas impactados”, explicou.

Sustentabilidade

Na estratégia para os próximos anos, a Petrobras deu destaque aos investimentos voltados para a sustentabilidade. O valor que será destinado para a preservação do meio ambiente e com foco na agenda ASG (Ambiental, Social e Governança) foi bem avaliado por Mônica Araújo.

“O volume de investimentos destinados à sustentabilidade atendeu a diretriz da empresa deu continuidade aos projetos e ampliou o volume de investimento para US$ 11,5 bilhões destinados a projetos de baixo carbono nos próximos 5 anos, representando mais do que o dobro do volume de investimentos aprovado no plano anterior”.

Já Hulisses alerta para a forma como será feita a transição. “Jean Prates afirmou que serão escolhidos projetos rentáveis, priorizando parcerias para redução de risco e compartilhamento de aprendizados. O que não pode acontecer novamente é a empresa investir em projetos com VPL negativo, como ocorreu no passado. Na minha visão, a Petrobras deveria focar no que sabe executar muito bem, que é a produção de petróleo. No passado, quando a empresa quis diversificar suas atividades não acabou colhendo os resultados esperados, se tornando uma das empresas mais endividadas do mundo”, chamou atenção.

Acionistas

Os especialistas divergem enquanto o retorno para os acionistas. Mônica Araújo projeta que, apesar das mudanças num futuro próximo, as ações da companhia devem continuar atrativas para os investidores.

“O plano manteve o foco principal na área de Exploração e Produção, responsável pela maior parte da geração de caixa e consequentemente o que vai garantir maior retorno para o capital empregado e retorno aos acionistas. Portanto, nesse aspecto, considerando viável as premissas assumidas pela empresa para o preço do petróleo e o câmbio, acreditamos na manutenção de retornos interessantes para os acionistas”, projetou.

Já Hulisses Dias é mais cético. “Vejo o plano apresentado como negativo em relação ao anterior, o valor de 11 US$ bilhões que está direcionado para projetos em avaliação dá indícios de que a empresa estuda realizar fusões e aquisições. Com a redução dos dividendos, dividend yield ficaria próximo de 8%. Os múltiplos da empresa continuam bastante atrativos frente aos concorrentes. Considero o valuation atrativo, mas existem riscos no horizonte”, pontuou.