O Índice Nacional de Preço ao Consumidor (IPCA),considerado a inflação oficial do país, concluiu o ano passado abaixo do patamar pré-estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda. Em números, a inflação acumulada em 2023 foi de 4,62%, ante 5,79% em 2022, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (11).
Levando em consideração os resultados de dezembro, os preços subiram 0,56% em dezembro, revelando uma leve aceleração quando comparado com o mês anterior, quando o índice registrou alta de 0,28%.
Para Luiz Felipe Bianconi, do Departamento de Economia da SulAmérica Investimentos, os dados divulgados pelo IBGE vieram acima das expectativas dos especialistas da gestora, bem como a mediana do mercado (0,50% M/M).
“Em termos da composição qualitativa, a abertura do dado de dezembro mostrou avanço superior ao esperado, em especial na parte de serviços subjacentes, que registraram alta de 0,51% M/M, ante 0,45% M/M esperado”, comenta.
Já para o head de renda variável e sócio da A7 Capital, Andre Fernandes, os dados de dezembro vieram abaixo do previsto, em função da inflação de alimentos, que pressionou essa alta do índice. Ele atrela os resultados às questões climáticas, como possíveis catalisadores do desempenho do indicado.
“A inflação de alimentos no domicílio ficou em +1,34% ante +0,75% em novembro, uma alta bem significativa. Acredito que essa alta se deve aos problemas climáticos que os produtores vêm enfrentando, impactando a produção de alimentos e encarecendo os preços”, avalia.
Ainda levando em consideração somente o último ano de 2023, todos os grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram aumento em dezembro. O grupo Alimentação e Bebidas teve a maior variação (1,11%) e o maior impacto (0,23 p.p.), acelerando em comparação a novembro (0,63%). Transportes contribuiu com 0,10 p.p., registrando uma alta de 0,48%. Artigos de Residência teve a segunda maior variação, 0,76%, após uma queda de 0,42% em novembro. Habitação (0,34%) desacelerou em relação ao mês anterior (0,48%). Os demais grupos variaram entre 0,04% em Comunicação e 0,70% em Vestuário.
IPCA abaixo da meta pela 1ª vez desde 2020, mas por que está tudo caro?
Os consumidores brasileiros, que têm frequentado os mercados nos últimos meses, presenciaram uma alta crescente dos alimentos, ao passo em que sentiram o bolso pesar em tamanho proporcional ao aumento. Isso porque o segmento que registrou a maior alta foi o de alimentação e bebidas, com um aumento de 1,11%, apresentando uma aceleração em relação ao mês anterior, que registrou 0,63%.
O CEO da Multiplike, Volnei Eyng, avalia que, embora os dados de dezembro tenham sido de alta, de maneira geral, o número e o cenário continuam bastante positivos. O especialista lembra da progressão anual, visto que em 2022 o IPCA fechou em 5,79% e o ano de 2023 em 4,62%, abaixo da meta, o que não ocorria há três anos.
Além disso, segundo a avaliação, os preços elevados têm chances de gradualmente serem derretidos quando o impacto sazonal perder a força. “Com isso em mente, pode-se observar que a inflação reportada não é ‘maligna’, mas sim benigna e pontual”, disse.
“Quando a gente analisa a cesta de produtos, que levou a ficar acima da expectativa, a gente vê que essa alta foi puxada por bebidas e alimentos. O primeiro está relacionado a um impacto sazonal, e por isso pode-se dizer que esse preço não contamina o cenário econômico e tem a possibilidade de recuar, à frente, de forma mais rápida do que quando se trata de outros componentes”, explica.
Segundo a análise, no setor de bebidas, as empresas capitalizam as oportunidades de impulsionar as vendas no final do ano e simultaneamente ampliam suas margens, resultando em um aumento no preço do produto. Isso ocorre devido à tendência de maior demanda durante esse período.
“Cabe mencionar, ainda, que o governo não vem diminuindo o preço dos combustíveis, apesar de o preço do barril do petróleo estar diminuindo e essa sim é uma situação que influencia todos os núcleos de inflação, e o governo acaba tendo uma gordura, via Petrobras (PETR3; PETR4), de gerenciar e suportar a inflação através de repasses que não vem sendo baixados, para que force uma diminuição dos juros”, ressalta.
IPCA deve impactar decisões do BC?
O número divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira (11) não deve levar a uma mudança de estratégia do Banco Central, segundo a avaliação de Lais Costa, analista da Empiricus Research. De acordo com a especialista, a autarquia monetária brasileira ainda deve manter seu ciclo de queda na taxa básica de juros, a Selic, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
“O Banco Central deve continuar reduzindo a Selic em 50 pontos-base nas primeiras duas reuniões deste ano. Contudo, o mercado deve apagar as (poucas) chances de qualquer aceleração no ritmo de corte de juros nesse ciclo de redução de taxas”, disse.
O economista Paulo Silva, gestor dos ativos e passivos da Efí no time de ALM, também concorda que os dados divulgados não devem alterar a programação do BC em relação ao cenário de curto prazo.
“A Selic irá continuar na sua trajetória de corte de 0,50%, mas irá exigir uma atenção adicional por parte do Banco Central na condução da política monetária daqui para frente, que pode reduzir o otimismo recente do mercado de uma taxa de juros no final de 2024 em 9,5%”, completa.
Inflação em 2024
Os cenários futuros que 2024 reserva são de otimismo contido entre os especialistas. Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, o cenário inflacionário deve apresentar progressos de queda, mesmo que mais contidos.
“Para frente, nossa projeção para o IPCA de janeiro está em 0,43% e fevereiro em 0,87%. Para 2024, nossa projeção é de 4,15%, levando em consideração o efeito do fenômeno climático El niño’, aponta.
A especialista ressalta que o El Niño exerce influência tanto direta quanto indireta na economia nacional. A previsão de temperaturas mais amenas e alterações nos padrões de transporte de umidade sinaliza a possibilidade de um clima mais seco nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, enquanto o Sul e Sudeste podem enfrentar chuvas excessivas. Essas condições climáticas divergentes têm o potencial de impactar diversos setores econômicos, afetando desde a produção agrícola até a logística de transporte. Além disso, há a perspectiva de aumento nos preços de determinados produtos, o que pode repercutir no cenário econômico nacional.