As notícias envolvendo a companhia aérea Gol (GOLL4) sobre a possibilidade de entrar com um pedido de recuperação judicial (RJ) nos EUA, conforme informações da coluna Painel da Folha de S. Paulo do último domingo (14), movimentaram o mercado nesta segunda-feira (15).
Ouvidos pelo BP Money, os especialistas do mercado avaliaram e comentaram os desafios enfrentados pela empresa e os possíveis desdobramentos dessa decisão.
“A empresa segue deficitária, apresentando prejuízo de R$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre de 2023 (3T23), conforme demonstrado no seu relatório de resultados. O mercado de aviação é complexo e desafiador, não tendo se recuperado ainda do solavanco decorrente dos fechamentos causados pela crise de Covid-19 do ano de 2020″, comenta o advogado empresarial, sócio do escritório Morais Advogados, Carlos Yury.
Inicialmente, o advogado especialista da área Insolvência do Rayes e Fagundes Advogados, Brenno Mussolin, ressalta que a Gol está vivenciando uma crise econômico-financeira internacional, especialmente devido aos efeitos da pandemia, retorno de mercado abaixo do esperado. “Assim como o efeito cascata da crise no setor de turismo, sendo que a relevância de suas dívidas são decorrentes de sua operação nacional”, explicou.
Contudo, Mussolin destaca que o motivo de cogitar a RJ nos EUA se dá por uma maior segurança jurídica e flexibilidade de negociação da companhia com seus credores. Para Yury, a opção por ingressar com recuperação judicial nos EUA, e não no Brasil, decorre sobretudo, por dois fatores: “a previsibilidade do judiciário norte-americano e concentração dos contratos de leasing das aeronaves em companhias estrangeiras”.
“Isso implica, se possível, em uma redução de custos, o que pode gerar demissões e até levar a empresa descontinuar trechos menos rentáveis”, destaca o sócio-fundador da Santis e especialista em M&A e Finanças Corporativas, Felipe Argemi.
Acionistas da Gol
Quanto aos acionistas, Mussolin alerta para as variações bruscas nas ações e a possibilidade de a companhia aérea enfrentar dificuldades em seu processo de reestruturação, podendo até mesmo falir. Por outro lado, Yury ressalta, que na sua visão, a princípios os acionistas da companhia não precisam se preocupar. “O que a Gol vem deixando claro nas suas comunicações ao mercado é que a empresa está se recuperando gradualmente e gerando caixa para pagar suas dívidas”.
Argemi, destaca que, “já existe a preocupação de uma diluição, pois a depender do plano, a empresa pode necessitar de uma nova capitalização”.
Ações da Gol, como ficam?
A ações da companhia aérea Gol (GOLL4) apresentaram uma forte queda, em resposta a notícias de que a companhia estaria considerando a possibilidade de entrar com um pedido de recuperação judicial nos EUA. O head de renda variável e sócio da A7 Capital, André Fernandes, explica que, toda empresa que pede RJ, o mercado não vê com bons olhos, já que isso aponta que a companhia está em dificuldade para lidar com suas dívidas e compromissos com seus credores, o que acaba atraindo fluxo vendedor para o papel.
“A situação dos EUA com o possível pedido de RJ lá pode influenciar o papel no Brasil, pois a Gol já vem de diversas emissões captando recursos no mercado, e agora com esse pedido de RJ o mercado começa a desconfiar ainda mais da capacidade do management de conseguir reestruturar a empresa, visto que mesmo com as últimas emissões a empresa não conseguiu se reestruturar”, explica Fernandes.
De maneira geral, para o head de renda variável, o mercado não gostou da notícia. “O investidor não quer ficar com um papel na mão que a empresa está em dificuldades em pagar suas dívidas, denotando uma saúde financeira instável na empresa, portanto acabam migrando para outros papéis, de mesmo setor em melhor condição ou outros setores mais promissores, que estejam apresentando crescimento e com uma saúde financeira melhor”, acrescenta Fernandes.
Otimismo no setor aéreo
Yury ressalta que, todas as previsões para o setor aéreo são otimistas, com a ABEAR informando que as empresas que atuam no país têm enfrentado problemas na oferta de voos devido à alta demanda. “Com tanta gente querendo voar e as empresas sem dar conta, a tendência é que a reestruturação da dívida dê fôlego à Gol para passar a gerar bons resultados”, afirma o advogado.
Por sua vez, Mussolin destaca que, o mercado aéreo é um setor da economia que há anos apresenta margem estreita de lucro, sendo que após pandemia, muitas companhias iniciaram medidas de reestruturação, sendo que até o final deste década a maior parte das companhias devam realizar alguma medida de reorganização, uma vez que o mercado possui uma visão cética quanto às perspectivas do setor aéreo.