No ano passado, houve um aumento na participação do investimento estrangeiro nas operações de fusões e aquisições (M&A), atingindo o seu nível mais alto em pelo menos sete anos.
Durante 2023, as transações “cross border” (com compradores estrangeiros) representaram 50,1% das 371 operações realizadas, de acordo com um levantamento conduzido pela Seneca Evercore, a pedido do Valor. No período da segunda metade do ano, essa parcela subiu para 54,5% – de um total de 156 operações -, marcando a maior proporção semestral desde 2016. O estudo também revela que, desde 2014, houve 5.061 transações de M&A no Brasil, com 47% delas envolvendo compradores estrangeiros.
O aumento significativo na presença de compradores internacionais reflete uma melhoria na percepção de risco em relação ao Brasil, especialmente em comparação com outros mercados emergentes. Esse cenário tem impulsionado um maior número de negócios durante as primeiras semanas deste ano, de acordo com banqueiros de investimento.
A tendência de maior participação estrangeira nas transações de M&A deve persistir em 2024, embora seja esperado que os investidores brasileiros também se tornem mais ativos, impulsionados por um mercado de capitais mais dinâmico e pelo retorno das ofertas públicas iniciais (IPOs).
“Acreditamos que, com base no que observamos no mercado e no nosso próprio ‘pipeline’ [operações em preparação] de transações, que o primeiro semestre de 2024 será ainda mais forte que o último de 2023 e deverá demonstrar ainda maior predominância na participação dos investidores internacionais”, afirma o sócio da Seneca Evercore, Daniel Wainstein.
Estabilidade econômica impulsiona em aquisição
Conforme relatado pelo executivo, a crescente participação de investidores estrangeiros em operações de M&A no território nacional surge como resultado da melhoria na percepção do risco associado ao Brasil, o qual diminuiu ao longo do ano anterior. Ele enfatiza que esse fator, combinado com a relativa estabilidade do desemprego, controle da inflação até o momento, redução das taxas de juros no Brasil e uma tendência de queda também nos EUA, além do Ibovespa atingindo níveis recordes, contribui para essa dinâmica positiva.
Se analisarmos o volume financeiro, de acordo com dados da Dealogic, uma consultoria que compila informações do mercado financeiro global, podemos observar a mesma tendência. Em 2023, de um total de US$ 37,9 bilhões movimentados em transações, US$ 17,8 bilhões correspondem a operações cross border, representando cerca de 47%, a maior fatia registrada nos últimos anos.
O ímpeto observado no ano anterior foi impulsionado por operações de grande porte, como a venda de participação na unidade de metais básicos da Vale, AESOP e The Body Shop, sendo as duas últimas adquiridas pela Natura durante a reestruturação de seus negócios. Embora essas transações tenham ocorrido principalmente fora do Brasil, elas são contabilizadas no volume total de M&A do país por envolverem empresas nacionais.
Outro indicador do momento positivo para os investidores estrangeiros pode ser observado nos próprios bancos de investimento, com investidores estrangeiros demonstrando proatividade ao buscar ativos no Brasil. Leonardo Cabral, responsável pelo banco de investimento do Santander no Brasil, menciona que no início do ano houve uma demanda significativa de investidores estrangeiros interessados em conhecer as oportunidades de negócios no Brasil, incluindo interesse de investidores árabes e chineses. Ele destaca que existem mandatos em ambas as direções, não apenas com estrangeiros interessados em investir no Brasil, mas também com empresas estrangeiras deixando o país por decisões estratégicas.