A liderança das mulheres nos cargos corporativos avançaram de 8%, em 2017, para 17% em 2023. A progressão acontece a passos curtos e, ao analisar o cenário amplo, nota-se que 83% das organizações brasileiras ainda são presididas por homens, evidenciando certa celeridade na disposição de equidade de gêneros, quando o assunto é sobre a área executiva. A pesquisa pertence ao relatório “Panorama Mulheres 2023”.
Para Eduarda Camargo, CAO na Portão 3, é importante proporcionar mais oportunidades dentro das empresas e de criar um ambiente mais inclusivo e igualitário, onde as competências e habilidades das mulheres sejam devidamente reconhecidas e valorizadas.
“Acredito que exista uma necessidade de mais oportunidades nas empresas e também de um ambiente mais inclusivo e igualitário, onde as competências e habilidades das mulheres sejam valorizadas e reconhecidas. Por exemplo, programas de mentoria específicos para mulheres em finanças podem ajudar a desenvolver talentos femininos e prepará-las para assumir cargos de liderança”, explicou a executiva ao BP Money.
A pesquisa ainda revela que, em relação às vice-presidentes, elas agora representam 34% dos cargos, em comparação com apenas 18% no primeiro ano em que a pesquisa foi realizada.
A co-fundadora da Plenapausa, Carla Moussalli, ressalta a mudança cultural nas empresas para haver mais mulheres ocupando posições de liderança no mercado. Segundo a profissional, a iniciativa serviria como incentivo às políticas de diversidade e inclusão. Ela cita a disposição de materiais e programas de liderança direcionados às mulheres.
“A criação de redes de apoio entre mulheres em posições de liderança também é fundamental para compartilhar experiências, desafios e estratégias de sucesso. E, é claro, trazer mais homens para essa conversa/mudança de paradigma é elementar para que não vire apenas uma ação pontual/isolada dentro das companhias”, disse.
A sócia e cofundadora da rio Melver, Jaqueline Bourscheidt, sugere que a pauta sobre igualdade de gênero e diversidade seja abraçada por toda a empresa, não se limitando apenas ao departamento de Recursos Humanos, como forma de promover avanços significativos nessa questão.
“Quando um projeto novo tem o apoio e a dedicação de todos os setores, sobretudo do/a CEO, que é, geralmente, a maior referência dentro da empresa, o projeto é fadado ao sucesso”, apontou.
Mulheres na chefia ainda lutam por espaço
Fernanda Cunha, CEO da Kipiai, em resposta à reportagem, avalia que há uma percepção de que alcançar um equilíbrio real de gênero nos cargos de liderança pode ser desafiador, mesmo com o aumento da presença de mulheres nesses papéis.
“Acredito que, embora vejamos cada vez mais mulheres em cargos de liderança, ainda existe a percepção de que dificilmente alcançaremos um equilíbrio real […] O mais importante, na minha visão, não é alcançar um percentual específico, mas sim garantir que as mulheres possam ocupar os lugares que desejam, independentemente de seu sexo. Não se trata de uma questão de números, mas sim de oportunidade e igualdade”, disse.
Moussalli, por sua vez, sugere que as medidas futuras devem abranger a ampliação da transparência nos processos de contratação e promoção, a garantia da equidade salarial, o estabelecimento de ambientes laborais mais flexíveis e inclusivos, e a promoção de uma cultura organizacional que reconheça e respalde as mulheres em seu desenvolvimento profissional.
A executiva da Portão 3 ressalta que durante minha trajetória profissional, durante sua carreira, ela enfrentou desafios relacionados à falta de representatividade feminina em cargos de liderança, preconceitos de gênero e a necessidade constante de comprovar sua competência em um ambiente predominantemente masculino.
“Além disso, percebi que minha idade e orientação sexual também influenciaram as expectativas e desafios que encontrei no ambiente profissional, o que me incentivou a assumir posturas e responsabilidades de forma mais ágil”, completou.
Andressa Bergamo, fundadora da AVG Capital e especialista em mercado de capitais, ainda vê um desafio a mais. Ela destaca que algumas empresas têm adotado políticas de inclusão das mulheres no mercado de trabalho, porém, ainda há um grande obstáculo quando se trata da questão da gravidez.
A especialista em mercado de capitais afirma que poucas organizações consideram esse assunto de forma adequada, apesar de ser uma experiência comum a todas as mulheres em algum momento de suas vidas.
“Vejo empresas investindo no crescimento e na carreira de mulheres, mas quandoo elas viram mães, precisam deixar seus empregos pois não há espaçõ para as duas coisas”, reesalta.
Bergamo relata que percebe uma progressão no número de mulheres que optam por adiar ou até mesmo deixar de lado a gravidez, e isso se deve, em grande parte, à falta de suporte adequado por parte do mercado de trabalho para mantê-las durante esses períodos.
“esse é um tema que ainda deve ser melhor explorado pelas empresas pois nós temos muito potencial para cargos de lideranças mas tudo faz parte de uma trajetória”, completa.
Efeitos da liderança delas
De acordo com a pesquisa, em termos gerais, a presença feminina em cargos de liderança é significativamente mais alta quando a presidência é ocupada por uma mulher. Especificamente, a proporção de mulheres como vice-presidentes aumenta substancialmente em empresas lideradas por mulheres.
Por exemplo, empresas com CEOs femininas têm 28% de mulheres ocupando o cargo de vice-presidente, em comparação com apenas 19% em empresas lideradas por homens. Essa diferença mostra uma probabilidade 50% maior de mulheres ocuparem cargos de vice-presidente quando a CEO também é mulher.
O mesmo padrão é observado nos Conselhos de Administração (CAs), onde a presença feminina é de 43% em empresas lideradas por mulheres, em comparação com apenas 16% em empresas lideradas por homens, representando uma probabilidade 2,7 vezes maior. No entanto, quando se trata da inclusão de mulheres negras, ainda há um longo caminho a percorrer.
Embora a presença delas esteja aumentando, empresas com CEOs femininas têm 17,9% de mulheres negras em cargos de diretoria, enquanto empresas lideradas por homens têm apenas 4%. Esses dados indicam que a diversidade começa a ganhar terreno quando as mulheres ocupam posições de liderança.
“Eu vivi os bastidores do mercado financeiro por quase 10 anos antes de empreender nesse mercado e um dos grandes motivos que me impulsionaram a aceitar o desafio foi justamente o de ser voz e mostrar que é possível prosperar e ter sucesso, para que outras mulheres possam escolher o mercado financeiro”, relatou Jaqueline Bourscheidt.