O Copom (Comitê de Política Monetária) informou, após o fechamento desta quarta-feira (20), sua decisão de cortar a Selic (taxa básica de juros) a 10,75% ao ano. Tendo em vista a nova política, especialistas relataram ao BP Money suas análises do cenário e previsões de cautela por parte do Comitê.
“Não se trata propriamente de uma desconfiança no cenário atual e sim de obter “graus de liberdade”, avaliou Maykon Douglas, economista da Highpar.
A divisão do BC (Banco Central) tomou um caminho já esperado pelo mercado brasileiro, o corte representa 0,5 ponto percentual (p.p.). Este foi o sexto corte consecutivo realizado pelo Copom, que iniciou o ciclo em agosto do ano passado.
O banco reforçou que “entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025”
Nas linhas do comunicado, Douglas observou alterações no tom adotado pelo Copom na decisão, referente aos cortes futuros.
“Diferente do que esperávamos, o BC retirou o plural do trecho em que antecipava reduções de “mesma magnitude” da taxa Selic nas próximas reuniões, diante da “elevação da incerteza” e necessidade de flexibilidade”, disse.
A instituição deu foco aos dados econômicos do Brasil, divulgados nas últimas semanas, sobretudo, ao cenário inflacionário. Apesar de mencionar a sequência da trajetória de deflação, a instituição sinalizou as medidas subjacentes acima da meta, nas leituras mais recentes.
Na visão de Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, a leitura mais “hawkish” lança uma incógnita e pressiona ainda mais os dados econômicos.
“Achei bem hawk, o que é até pertinente. Acho que o Banco Central foi bem nesse comunicado. Acredito que essa é a linha que tem que seguir”, disse.
Postura do Copom visa Governo Federal
Na mesma linha que Douglas e Jorge, Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, concordou com a visão moderada apresentada no comunicado, mas apontou possível alerta direcionado ao governo federal.
“Penso que pode ser apenas uma forma de comunicar para que o governo mantenha os objetivos fiscais. Penso que há sim espaço para cortes de mesma magnitude”, expôs.
Para justificar o corte na selic, o Banco Central destacou suas projeções para a meta de inflação em seu cenário de referência, em torno de 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025.
“Isso alimenta minha confiança de que estamos no caminho certo para alcançar um ambiente econômico mais estável e previsível. Isso é fundamental para fomentar investimentos e o consumo, pilares para o crescimento sustentável”, concluiu Moura.
Segundo ele, alinhando as reduções já feitas às perspectivas futuras, o ambiente de investimento empresarial e o consumo das famílias se torna mais propício.
Influências do FED sobre o Brasil
Ainda nesta quarta-feira, o FED (Federal Reserve) também divulgou sua decisão sobre a política monetária dos EUA, mantendo a taxa de juros entre 5,25% e 5,50%.
“O grande temor era que os diretores do FED reduzissem a quantidade de cortes esperados, mas eles confirmaram três cortes de 0,25, portanto os juros devem fechar próximos de 0,75 esse ano”, afirmou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Segundo ele, é perceptível que os diretores do FED estão “desconfortáveis com esse juro muito alto, mas também estão desconfortáveis com a inflação ainda alta”.
Gala explicou que, após os próximos cortes, a movimentação do Copom “vai deixar a porta aberta” para pensar no tamanho das reduções futuras.
“O tamanho do ciclo que eles certamente não sabem dizer, ainda. Se chega a 9,5%, se a 9,0% ou a 8,5%. Minha visão hoje ainda é que chegue em 9,0%”, finalizou.
Ademais, de forma geral, o mercado brasileiro sofre muita influência do cenário externo. Com isso, Bruno Corano chama atenção ao fato que: sem agravamento dos conflitos globais, os juros no Brasil devem seguir caindo.
Contudo, os cortes devem ser limitados pelo fluxo norte-americano, que segue em ritmo mais lento.
“Essa é a grande questão, os juros brasileiros vão conseguir baixar até a um ‘limite’, porque vão estar relativamente próximos dos juros americanos. E a economia americana, definitivamente, tem vários indicadores aí a serem aguardados”, concluiu Corano, em sua análise sobre o Copom e o FED.