Recuperação

Fundos captam R$ 105 bi no 1T24 após mudanças em títulos isentos

O destaque foram os fundos com mais de 70% de crédito privado em suas carteiras

Fundos
Prédios na Faria Lima; Cláudio Penna / Mauricio Moreno

A indústria de fundos de investimentos no Brasil registrou uma captação líquida de R$ 105 bilhões no primeiro trimestre de 2024 (1T23), marcando o segundo melhor desempenho para o período nos últimos cinco anos, apontou a Anbima.

Para o vice-presidente da Anbima, Pedro Rudge, a retomada da indústria de fundos de investimento no Brasil pode ser atribuída a dois fatores principais. Ao avanço do ciclo de cortes de juros no País e as novas regras que restringiram a emissão de instrumentos financeiros isentos de Imposto de Renda para o investidor pessoa física.

A recuperação foi impulsionada pela classe de renda fixa, que apresentou uma entrada líquida de R$ 131,7 bilhões durante o período. Isso contrasta com a saída de R$ 11,8 bilhões nos primeiros três meses de 2023, quando a indústria de fundos como um todo registrou resgates líquidos de R$ 73,4 bilhões.

“Com títulos [de renda fixa isentos] mais restritos, fundos de renda fixa e infraestrutura acabam ganhando mais atratividade. O investidor, naquele leque de alternativas, acaba concluindo que ficou mais atrativo investir por meio de fundos de investimento”, contou Rudge.

Embora os fundos de renda fixa tenham se recuperado, os fundos multimercados e de ações continuaram registrando resultados negativos, com saídas líquidas de R$ 28,2 bilhões e R$ 2,1 bilhões no acumulado do ano, respectivamente.

Até março, o patrimônio líquido total da indústria de fundos atingiu R$ 8,7 trilhões, representando um aumento de 15,5% em comparação com março de 2023.

Crédito privado é destaque

Nos últimos meses, os fundos de renda fixa crédito privado têm recebido maior atenção, especialmente após a restrição do Conselho Monetário Nacional (CMN) aos títulos isentos, o que resultou em uma diminuição das ofertas.

“Um concorrente importante para os fundos ficou com uma capacidade limitada de oferta”, afirmou Rudge ao mencionar o vencimento de títulos emitidos há 12 e 18 meses, o que obrigou os investidores a procurarem novas alternativas para alocar seus recursos.

O destaque durante o período foram os fundos com mais de 70% de crédito privado em suas carteiras, cujo patrimônio líquido alcançou R$ 843,5 bilhões em fevereiro.

“Com os investidores buscando melhores retornos e num cenário de maior confiança, a tendência é que fundos com componente maior de crédito privado recebam maiores aportes”, disse o executivo, que também é sócio-fundador da gestora Leblon Equities.

Na categoria de renda fixa, os fundos de infraestrutura se destacaram, registrando uma captação líquida de R$ 22,2 bilhões até março e acumulando um patrimônio líquido de R$ 86,7 bilhões, equivalente a 3% da classe.

“Os fundos de infraestrutura estão experimentando um crescimento interessante nos últimos meses. Temos visto uma procura maior e um lançamento de novos fundos para atender à demanda”, afirmou.

Impacto do Fed nos fundos

De acordo com Rudge, um possível atraso nos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) pode influenciar a decisão dos investidores no Brasil, adiando a disposição dos brasileiros para assumir riscos e adiando uma recuperação de produtos mais arriscados, como os fundos multimercados e de ações.

“As expectativas de corte de juros pelo Fed e de inflação americana impactam até as decisões do próprio Banco Central no Brasil. À medida que vemos uma menor velocidade de queda dos juros, isso pode fazer com que os investidores prefiram e encontrem retornos ainda bastante atraentes na renda fixa”, disse.

Inicialmente, porém, de acordo com Rudge, a situação atual não altera o ritmo previsto, especialmente considerando uma melhora no ambiente de negócios e na situação fiscal do país.

“O que vai acontecer é que veremos uma retomada um pouco mais à frente do que o inicialmente esperado”, finalizou o executivo.