É consenso entre os especialistas consultados pelo BP Money que o conflito intensificado no último final de semana no Oriente Médio, tem preocupado o mercado. Em resposta, os profissioanis a par do assunto explicaram que a preocupação “de primeira ordem” é uma possível “escalada massiva” no preço de petróleo.
Isso porque o estreito de Hormuz, uma passagem marítima estreita localizada na margem do Irã, é vital para a cadeia global de suprimentos da commodity, destacando sua importância estratégica, explicou o economista da investing Thomas Monteiro.
“Isso se soma a uma crescente tensão em Omã, que também é banhado pelo estreito de Hormuz”, completou.
Gasolina pressionada por tensão
A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Ângelo, afirmou que o conflito pode impactar o petróleo e, consequentemente, o preço dos combustíveis no Brasil diretamente via reajuste da gasolina.
“Caso o petróleo reaja com alta nos preços das commodities energéticas, poderemos ver um espaço ainda maior de defasagem da gasolina.Ou seja, preço interno menor que externo. E assim a Petrobras fica mais pressionada em realizar algum reajuste”, disse.
Um adendo necessário feito pela economista é de que o Irã é também membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) , entidade responsável por coordenar e unificar as políticas relacionadas à exportação e circulação do petróleo no mundo.
Em paralelo a isso, a defasagem do preço da gasolina no Brasil em relação ao preço internacional chegou a 19% nesta segunda-feira (15). É o que a ponta os dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Os números apresentam quedas constinuas, visto que na última sexta-feira (12), a disparidade estava em 17%. A associação atualiza a diferença de preços sempre pela manhã em seu site.
Inflação pode sofrer consequências
A comunidade internacional, composta por EUA, UE e até mesmo China e Rússia, tem feito pedidos de moderação a Israel para evitar o aumento das tensões no Oriente Médio devido ao ataque iraniano.
Ainda assim, de acordo com os profissionais é esperada alguma pressão no petróleo, commodities e dólar, pelo menos até que fique clara qual será a resposta do governo de Netanyahu.
“Se isso não bastasse, devemos levar em consideração ainda o fato de a inflação nos EUA já ter mostrado sinais de resiliência. Ou seja, olhando em sentido macro, uma escalada dos preços do petróleo poderia forçar o Federal Reserve a atrasar ainda mais uma mudança no seu ciclo de juros”, ressaltou Monteiro, visando o cenário inflacionário norte-americano.
Apesar dos esforços do Fed para conter a inflação, os dados recentes do CPI (Índice de Preços ao Consumidor) mostram que ela está mais resiliente do que o previsto inicialmente.
Antes, esperava-se que os cortes pudessem ocorrer já em março, mas as análises atuais sugerem que setembro é o momento mais provável para esses ajustes, o que afeta diretamente os rendimentos dos títulos do Tesouro e o desempenho das ações no mercado financeiro.
Impacto no dólar
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, avalia que o conflito no Oriente Médio pode afetar mais a taxa de câmbio caso haja uma escalada das tensões envolvendo diretamente o Irã. “O que poderia provocar um movimento de aversão a risco e valorização global do dólar”, disse.
Em sua análise, se o real continuar perdendo valor, isso poderá resultar em pressões inflacionárias e, consequentemente, pode comprometer o ciclo de redução das taxas de juros que o Banco Central está implementando.
“Apesar de mediana das expectativas dos economistas para a taxa Selic terminal ser de 9,0%, o mercado de juros futuros já precifica uma Selic final na casa de 10/10,25%”.
Angelo completa destacando que o câmbio, que também é usado para cálculo da defasagem, pode apresentar um movimento de acentuar o movimento. Fora isso, o câmbio impacta todos os bens duráveis, a inflação importada. Sobre impacto: a cada 10% de reajuste na refinaria
Entenda como começou a tensão entre Israel e Irã
A região de Israel e irã ainda não tinham se envolvido em um conflito direto. No entanto, o cenário é de tensão escalada, que se agravou após um ataque à embaixada iraniana na Síria, que deixou ao menos 8 mortos em 1º de abril. Os 2 países atribuíram a culpa do ataque a Israel.
No último sábado (13) a ofensa iraniano foi uma resposta ao ataque ao consulado do Irã na Síria, ocorrido no início de abril e que resultou na morte de sete oficiais do IRGC, incluindo um general. O Irã acusou Israel pelo ataque, mas Israel não confirmou nem negou seu envolvimento.
O ataque foi considerado o maior do tipo contra alvos iranianos desde a operação que resultou na morte de Qassem Soleimani, chefe da Unidade de Força Quds do IRGC, em Bagdá, em 2020, sob aval de então presidente dos EUA, Donald Trump.
A escalada não pegou de surpresa ninguém, uma vez que ambas as nações são inimigas declaradas e têm histórico de sabotagem mútua. Teerã comemorou o ataque realizado pelo Hamas em outubro do ano passado, intensificando ainda mais as tensões na região.
Israel, que tem o costume de não confirmar nem negar seu envolvimento em operações na Síria ou em outros países da região, indicou que o edifício atacado não era um consulado.