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Dólar atinge máxima de um ano; cenário preocupa

A cotação da moeda registrou uma tendência de crescimento constante, sendo uma alta de 1,24% na semana e 3,38% no mês

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Dolár tem alta forte (Foto: unsplash)

Após uma sessão de sucessivas altas do dólar comercial, no primeiro dia útil da semana, a moeda norte-americana estendeu o ritmo de ganhos no pregão desta terça-feira (16) e atingiu a maior cotação desde março do ano passado, cotado a R$ 5,2802, às 11h38 (de Brasília), numa alta de 1,84%.

A cotação da moeda registrou uma tendência de crescimento constante, sendo uma alta de 1,24% na semana, seguido por uma elevação de 3,38% no mês e um incremento de 6,85% ao longo do ano.

A forte alta do dólar reflete a preocupação dos investidores com os respingos do conflito entre Israel e Irã que podem ocasionar no mercado.

O mundo continua atento à possibilidade de retaliação de Israel ao ataque recente do Irã, o que poderia intensificar e ampliar o conflito naquela região volátil.

A situação já tensa no cenário geopolítico tem deixado os mercados nervosos, e a notícia de que o governo não buscará mais um superávit nas contas públicas já em 2025 exacerbou a preocupação dos investidores. 

Agora, a expectativa é de um déficit zero para o próximo ano, juntamente com uma redução nos superávits previstos para os anos subsequentes.

Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank explica que os mercados responderam de forma desfavorável, levantando dúvidas sobre a disposição do governo para implementar cortes de gastos e realizar ajustes fiscais. Isso sugere uma demora maior do que o inicialmente esperado no processo de equilíbrio das contas públicas, revelando vulnerabilidades no sistema fiscal em vigor.

“Embora a adoção de medidas pelo governo fosse esperada, o fato de estas terem sido implementadas começa a sugerir que o governo está disposto a rever metas para proteger os gastos, em vez de simplesmente controlá-los”, disse.

EUA

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, explicou que o cenário externo vem contribuindo para a depreciação do real frente ao dólar, tendo em vista o maior pessimismo com com relação ao ciclo de queda de juros nos EUA. 

“No final do ano passado, apostava-se que o ciclo começaria em março e que o Fed promoveria 6 ou 7 cortes ao longo do ano. Agora, o mercado espera que o ciclo comece em julho ou setembro e nem chegue a incorporar integralmente dois cortes em 2024”, explicou o economista.

Dessa forma, segundo Goldenstein, as taxas dos títulos (chamadas de treasuries) nos EUA vêm subindo consideravelmente desde o início do ano, “contaminando os mercados emergentes”.

Dados de varejo nos EUA

Outro fator impulsionador dos treasuries, citado por Luiz Bazzo, foi a divulgação dos indicadores de vendas no varejo norte-americano, que surpreenderam positivamente ao indicarem uma economia robusta.

Esse cenário pode levar o Fed (Federal Reserve) a considerar a manutenção das taxas de juros por um período mais prolongado do que o previsto. Estaremos atentos aos próximos dados antes de revisar nossa projeção de redução das taxas, originalmente prevista para junho de 2024.

De acordo com o especialista, no contexto global, há indícios positivos na economia, indicando um fortalecimento que pode gerar pressões inflacionárias, exigindo ajustes nas taxas de juros para preservar o equilíbrio econômico.]

Cenário doméstico

Na análise de Sérgio Goldenstein fatores locais vêm amplificando os efeitos do ambiente internacional mais negativo sobre os ativos domésticos, ancorando o valor do real frente ao dólar

“Vale destacar a frustração com a fragilização do arcabouço fiscal, com a mudança das metas para o resultado primário. Isso, por sinal, reduz a probabilidade de acionamento dos gatilhos que evitariam um maior crescimento real das despesas”, ressaltou.

“Além disso, não dá para descartar que novas alterações das metas ocorram” completou o profissional citando a revisão da meta de superávit primário para 2025, anunciada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O governo também ajustou as metas para os anos seguintes, adotando objetivos mais modestos para 2026, 2027 e 2028.

“Essa perda de credibilidade da política fiscal é a responsável por um desempenho do real pior do que o das outras moedas emergentes no período recente e por um significativo deslocamento para cima da curva de juros doméstica”, comentou.

A expectativa da Fazenda era alcançar um superávit de 1% do PIB em 2026, mas agora essa meta foi adiada para 2028. Para 2026, a nova meta de superávit é de 0,25%, enquanto para 2027 foi estabelecida em 0,50%. Todas essas metas incluem uma margem de 0,25 ponto percentual para variação.

 “Os efeitos finais são uma maior pressão inflacionária, um risco bem mais elevado de o Copom ter que encerrar o ciclo de relaxamento monetário com a taxa Selic em patamar ainda elevado, encarecimento do custo do crédito, aumento do custo de financiamento do Tesouro e um menor crescimento econômico”, citou o estrategista-chefe da Warren Investimentos.

Incerteza sobre Selic

Luiz Bazzo explicou que a volatilidade causada pelas tensões entre Israel e Irã, que afetam os preços do petróleo e a inflação, pode levar os principais bancos centrais a considerar cortes nas taxas de juros.

As incertezas em relação ao ritmo de cortes da Selic pelo Copom são aumentadas pelas expectativas de adiamento da redução das taxas nos EUA, o que está exercendo pressão sobre o dólar e a inflação

Embora o mês de maio já esteja praticamente definido, as projeções para junho ainda não estão claras. 

“A expectativa para a Selic deste ano foi revisada no Relatório de Mercado Focus, divulgado nesta manhã de terça-feira, após 15 semanas de estabilidade. Para 2024, a projeção para a taxa básica de juros passou de 9,00% para 9,25% ao ano. Já para 2025, houve uma redução, de 8,75% para 8,50% ao ano”, projetou.

O cenário fiscal não poderia enfrentar um momento mais delicado, especialmente com as tensões geopolíticas em alta. A expectativa é de uma resposta moderada de Israel ao Irã, porém, até que isso aconteça, ninguém pode ter certeza do desfecho desse conflito.