Após implementar reduções no quadro de funcionários e nos gastos com pessoal após sua privatização em 2022, a Eletrobras (ELET3; ELET6) pretende agora cortar os salários de seus empregados em 12,5%.
A proposta foi apresentada durante as negociações para um novo acordo coletivo, iniciadas no início do mês, e abrange todo o sistema da empresa, incluindo as concessionárias CGT Eletrosul, Chesf, Eletrobras, Eletronorte e Furnas.
“A Eletrobras está em negociação com os sindicatos que representam seus profissionais e busca um acordo coletivo baseado nas determinações da lei e na construção de uma empresa cada vez mais robusta”, afirmou a empresa, em nota.
Conforme a proposta da direção da empresa, a redução de mais de 10% atingiria todos os funcionários que recebem até R$ 15.572,04, com o objetivo de alinhar a companhia à realidade do mercado privado.
A empresa afirmou que os trabalhadores afetados serão indenizados, mas não forneceu detalhes sobre como e quando ocorrerá esse pagamento.
Representantes dos trabalhadores calculam que cerca de 5.000 funcionários estão dentro dessa faixa salarial.
Eletrobras: negociação
O acordo salarial atual expira neste semestre e as negociações estão em andamento nas últimas semanas, porém ainda sem perspectiva de acordo. O Coletivo Nacional dos Eletricitários tem promovido mobilizações e assembleias para pressionar em relação às suas reivindicações e se opor ao corte salarial proposto.
Durante as negociações, o grupo solicita, entre outras coisas, que a empresa forneça os dados que justificam o corte salarial e que haja uma discussão sobre o percentual proposto. “Não adianta fazer ajuste de um lado para aumentar o gasto com outro lado”, diz o coletivo, em nota.
“Ajustes, se necessários, devem valer para os dois lados da balança. Jamais pode pesar para o lado mais fraco da relação de trabalho. A defesa dos salários e dos direitos das pessoas trabalhadoras é nossa pauta primeira”, completa.
Na apresentação feita à mesa de negociação da categoria dos eletricitários, a Eletrobras afirma que a “arquitetura salarial” da empresa precisa de “valores condizentes com o mercado” e que, por isso, é necessária a “redução de todos os salários” abaixo dos R$ 15 mil.
Apresentação da proposta
No comunicado interno distribuído aos trabalhadores após a apresentação da proposta, a Eletrobras adota um tom diferente e menciona apenas uma “proposta de renegociação de 12,5%” para os profissionais representados pelas entidades sindicais, sem especificar claramente em nenhum momento que se trata de uma redução salarial.
No comunicado interno, a Eletrobras fala que a medida faz “parte da estratégia da companhia de se adequar às práticas do setor privado”.
“Os salários das lideranças já foram negociados de acordo com as regras trabalhistas para os hipersuficientes”, completa o comunicado.
De acordo com fontes envolvidas nas negociações, a Eletrobras também tem abordado individualmente funcionários que recebem acima dessa faixa salarial e indicado a possibilidade de aplicar o mesmo corte. A reforma trabalhista de 2017 passou a permitir que as empresas negociem diretamente com os funcionários com salários mais altos.
A proposta de cortar salários acontece após a Eletrobras já ter realizado Planos de Demissão Voluntária (PDVs), enxugado quadro de funcionários e reduzido custos com pessoal.