A medida de recuperação extrajudicial das Casas Bahia (BHIA3) anunciada no fim do último domingo (28) deu conta de movimentar o mercado no início da semana, com os investidores fazendo uma leitura positiva do contexto.
Na Bolsa de Valores brasileira, a B3, os papéis ordinários da varejistas lideraram os ganhos durante a manhã na sessão desta segunda-feira (29), com altas consideráveis, tocando os 20%.
A novidade foi lida como uma estratégia “esperta” e “persuasiva” vindo de uma companhia que pertence a um dos setores mais espinhosos da economia brasileira, que é o varejo.
Ao BP Money, Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, destaca que o setor de varejo e de eletrodomésticos vem há alguns anos operando com “margens estreitas”, no país. Seja por diversos fatores, que variam dos impactos da pandemia, crise no mercado de chip, à cenário macroeconômico.
“Se isso não bastasse, com a oscilação de demanda e com a necessidade de financiamento e caixa, em razão dos altos estoques e de uma operação muito onerosa, essas empresas contraíram dívidas”, explica Corano.
Somente no ano passado, o Grupo Casas Bahia (BHIA3) encerrou as atividades de 55 lojas e implementou uma redução nos estoques equivalente a R$ 1,2 bilhão em comparação com o quarto trimestre de 2022.
“Na verdade, o que vem acontecendo há muitos anos é a total perda de rentabilidade da empresa, prejuízos recorrentes, e necessidade de tomar capital de giro para conseguir fechar o rombo do caixa. E, com isso, ela assumiu uma dívida astronômica, bilionária”, Max Mustrangi, especialista em reestruturação de empresas e CEO da Excellance em resposta ao BP Money.
Adicionalmente, houve uma diminuição de 18% nas despesas com pessoal, seguindo a mesma base de comparação.
No entanto, a estratégia de reestruturação não teria sido suficiente para controlar a crise de dívidas, agravada pela alta da taxa básica de juros, a Selic.
“Essas dívidas se mostraram muito nocivas com o aumento dos juros recente, fazendo com que operacionalmente os resultados fossem afetados e comprometidos só pelo custo de se rolar a dívida”, disse o economista.
Casas Bahia (BHIA3) empurra dívida para depois
Com o comunicado anunciado na véspera, a varejista estabelece uma reestruturação da sua dívida bancária, garantindo uma economia de R$ 1,5 bilhão em seu caixa para este ano.
Na ocasião, o Grupo Casas Bahia (BHIA3) assinou um acordo com seus dois principais credores, o Bradesco e o Banco do Brasil, que detêm em conjunto 66% das dívidas que serão incluídas no processo de recuperação extrajudicial.
Desta forma, o plano estabelece o alongamento da dívida da companhia, que antes era de 22 meses, para 72 meses, além de uma renegociação dos juros pagos.
“O CEO da Casas Bahia foi muito feliz, muito inteligente, muito persuasivo, em conseguir renegociar mais de 80% das dívidas financeiras com os bancos, principalmente Banco do Brasil e Bradesco, e jogar para muito lá para frente, dando um fôlego enorme para que a empresa possa se dedicar à operação e tentar encontrar as melhores soluções para os desafios próprios do negócio”, avaliou Bruno Corano.
A fala do especialista cita o recente comentário do CEO da varejista, Renato Franklin, que afirmou, após o anúncio da operação, pretender estabelecer um foco nas operações da Casas Bahia.
O Dr. Leonardo Adriano Ribeiro Dias, head Contencioso, Arbitragem e Insolvência, no Marcos Martins Advogado, destaca que o mercado já vinha monitorando as dificuldades financeiras do grupo.
Em sua análise, o profissional, que também é Diretor do IBR (Instituto Brasileiro de Estudos de Recuperação de Empresas), avaliou que a estratégia de ingressar com Recuperação Extrajudicial foi adequada e cabível para a situação.
“Trata-se de solução pontual e objetiva para o reajuste financeiro do grupo, muito mais célere e menos traumática do que uma recuperação judicial”, completou.
Mercado deve monitorar proximos passos da varejista
O CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, destaca que o plano apresentado pode ser positivo, porém há pontos a serem considerados.
Para o executivo, por um lado, a notícia é positiva, uma vez que proporciona mais fôlego financeiro para a companhia em meio ao seu plano transformacional, enquanto os termos do acordo parecem favoráveis.
“Por outro lado, pode levar a uma possível diluição ligada à conversão das dívidas em ações, enquanto a reação dos consumidores ao anúncio é um dos riscos a monitorar”, completou.
Papéis são atrativos nesse contexto?
Para o curto prazo, a visão é de uma melhora aparente, onde há uma reserva maior de caixa devido aos pagamentos e vencimentos, segundo a análise de Max Mustrangi, especialista em reestruturação de empresas e CEO da Excellance.
De acordo com o profissional isso permite à empresa honrar suas obrigações diárias e investir em estoque para grandes eventos de venda, como a Black Friday e o Dia das Mães.
“A longo prazo, o que a gente vê nos últimos cinco anos pelo menos, com trocas sucessivas de presidentes e prejuízos recorrentes cada vez maiores, inclusive do ano passado, você não vê evolução nenhuma do modelo financeiro da empresa”, completa.
Mustrangi ressalta que Nos últimos cinco anos, a empresa tem enfrentado prejuízos crescentes, sem melhorias em seu modelo financeiro. A falta de rentabilidade e a incapacidade de gerar caixa operacional indicam uma trajetória negativa.
O espcecialista vê com pessimismo os cenário futuros, ao ressaltar que com a persistência dos prejuízos, é provável que a empresa acumule mais dívidas no futuro, o que pode levar à diluição das ações e até mesmo à intervenção dos bancos.