Após dois dias de reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), anuncia no fim da tarde desta quarta-feira (8), a decisão do novo patamar da taxa básica de juros, a Selic. Dessa vez, a resolução traz um clima de incerteza.
Entre os especialistas, a expectativa geral é de que haja um corte de 0,25 pontos-base na taxa de juros, a Selic, apesar de haver uma controversa nas projeções.
Em resposta ao BP Money, Ana Paula Carvalho, planejadora financeira da AVG Capital, afirma que a maioria do mercado espera um corte de menor magnitude na taxa de juros, levando de 10,75% (patamar atual ) para 10,50% ao ano.
A economista atrela que essa projeção de redução mais moderada se deve ao cenário internacional, com incertezas relacionadas às decisões de juros nos EUA e a questões geopolíticas em países produtores de petróleo.
“A expectativa de um corte menor veio após o comunicado da ata da última reunião em março, na qual alguns membros do comitê argumentaram que, se a incerteza prospectiva permanecesse elevada, um ritmo mais lento de distensão monetária poderia revelar-se apropriado”, disse.
Além disso, Carvalho enfatiza que a economia brasileira apresenta sinais de recuperação, especialmente no mercado de trabalho e na inflação, o que sugere cautela na política monetária.
O Copom, conforme informado pelo Banco Central, fundamenta suas decisões na avaliação das projeções inflacionárias, no equilíbrio de riscos e no ritmo da economia, visando manter o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro da meta estabelecida em 3% ao ano, com uma margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Outro ângulo
Elcio Cardozo, especialista da Matriz Capital, ressalta ao BP Money que, embora haja consenso sobre um corte menor na Selic, alguns indicadores internacionais têm gerado dúvidas.
O profissional cita que dados recentes dos EUA mostram força na economia e resiliência da inflação, o que impacta as expectativas de corte de juros no curto prazo. Por outro lado, o Brasil enfrenta desafios fiscais, o que poderia justificar cortes mais agressivos na Selic.
“Com isso, os treasuries (juros futuros) do país tiveram um stress na curva, com maior pessimismo sobre a queda de juros no curto prazo”, avaliou.
“Particularmente, eu entendo que haja espaço para o corte de 0,50 ponto percentual, como ocorreu nas reuniões anteriores do Copom. Nossa inflação está bastante controlada, com seguidos dados divulgados abaixo do consenso e o atual patamar de juros reais ainda está muito alto, havendo caminho para maiores cortes na taxa de juros”, completou.
Mudança nas perspectivas da Selic
Em um cenário de aumento de incerteza, as leituras de alguns especialistas foram mudando de percepção em relação ao novo patamar da Selic.
Há pouco tempo, a expectativa era de que o Copom reduzisse a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, refletida em contratos de opção. Essa previsão tinha uma aderência de 90%.
No entanto, em meados de abril, as chances dessa redução mais intensa começaram a diminuir.
Desde agosto de 2023, o Copom vinha adotando cortes de 0,50 ponto percentual a cada reunião, mas a partir de 17 de abril, as estimativas passaram a apontar para um corte de apenas 0,25 ponto percentual.
Essa mudança de cenário ocorreu principalmente devido a duas razões principais. A primeira delas foi a expectativa de que o Fed (Federal Reserve), o banco central norte-americano, manteria as taxas de juros nos EUA em níveis atuais por um período mais longo do que se pensava anteriormente.
Isso levou a ajustes nos preços dos ativos globais e teve um impacto na relação entre o dólar e o real brasileiro.
Atratividade dos investimentos em cada cenário
As análises indicam diferentes oportunidades de investimento dependendo do desfecho da reunião do Copom.
Caso o corte seja de 25 pontos-base, Ana Paula destaca a atratividade de ativos de renda fixa, especialmente em títulos pré-fixados e atrelados ao IPCA.
Para investidores mais conservadores, papéis pós-fixados de curto prazo continuam sendo opções sólidas.
Ainda na renda fixa Elcio salienta que os papéis atrelados ao CDI tendem a se valorizar na marcação a mercado.
“Caso este cenário seja confirmado, com um corte de apenas 0,25 ponto percentual, recomenda-se uma alocação mais conservadora no mercado de ações, com empresas de setores mais resilientes e, também, pagadoras de dividendos”, avaliou.
Por outro lado, em um cenário oposto, em que frustre as expectativas e o Comitê opte pelo corte de 0,50 ponto percentual, Elcio vê potencial de valorização em setores como varejo, construção civil e educacional em caso de um corte maior na Selic.
No mercado de renda fixa, ativos atrelados ao CDI podem se valorizar se as expectativas de corte forem confirmadas.