Para Sebástian Serrano, CEO e fundador da Ripio, uma das empresas pioneiras no mercado de criptomoedas na América Latina, 2024 será um ano forte para o mercado de cripto, e possivelmente, na sua visão, isso deve se estender até o ano que vem. “E tudo isso, traz ainda mais usuários, e já estamos vendo essa movimentação, e estamos registrando usuários como nunca”, comemorou Serrano.
Além de discutir o desenvolvimento das criptomoedas desde a fundação da Ripio, Sebastian também aborda temas relevantes como o impacto do halving do Bitcoin no mercado e a influência dos ETFs de Ethereum nas tendências atuais.
Sua visão experiente nos oferece um panorama detalhado sobre os ciclos de crescimento e retração da indústria cripto, além de destacar como a Ripio tem se adaptado para manter sua relevância e inovação contínua.
Durante a entrevista ao BP Money, Sebástian compartilhou os planos futuros da Ripio, incluindo o evento Modular que será realizado em São Paulo e o crescimento do Ripio Select, um serviço voltado para operações corporativas com criptomoedas. Sebastian compartilhou suas expectativas para 2024 e como a Ripio está preparada para enfrentar novos desafios e aproveitar as oportunidades emergentes no mercado de criptoativos.
Confira a entrevista na íntegra:
1. Qual a história da empresa e como ela evoluiu desde sua fundação? De onde veio a ideia de criar a Ripio e quais foram os principais desafios que você enfrentou no início?
A Ripio tem 11 anos, eu comecei muito cedo, com 8 anos eu já desenvolvia, antes de criar a Ripio eu tinha uma empresa de desenvolvimento de software, havia terminado a universidade, nos Estados Unidos.
A Argentina, que sempre teve uma história muito complexa economicamente, estava tendo um controle de capital muito forte, com grandes taxas de câmbio e estava muito difícil fazer cobranças aos nossos clientes, e buscando outras alternativas, eu encontrei o bitcoin, no final de 2012, e achei interessante cobrar nossos clientes usando bitcoin. Mas naquele momento, eu não entendia nada de criptomoedas, não sabia como funcionava efetivamente, mas comecei a testar e foi funcionando, criei interesse para entender mais como funcionava.
Naquela época, em 2012, existiam apenas o bitcoin, não tinha nenhuma outra cripto, e eu entendia que tinha que trabalhar nisso. Em abril de 2013, iniciamos a empresa, primeiro fazer processamento de pagos e nesse momento, há 10 anos atrás, era muito difícil convencer as pessoas de utilizar a tecnologia, o universo inteiro era muito cético, exceto alguns grupos de pessoas muitos libertários ou estudantes de economia austríaca, mas investidores, usuários e empresas não acreditavam.
Então os primeiros anos da empresa, foram muito difíceis para encontrar essa segurança para mostrar que iria funcionar e ficaria com o tempo.
Um ano depois que já havíamos começado a empresa, percebemos que tínhamos que trabalhar no acesso ao cripto para que a população tenha acesso aos ativos, nessa época não existia wallet ou exchange, onde surge o nome Ripio, como wallet. Eu sou da Patagônia, cresce no Sul da Argentina, e lá as ruas são todas feitas de Ripio, se você pesquisar no Google, você verá “caminhos”. E com um pouco de metáfora e nostalgia, surgiu o nome da empresa, em 2014, e nesse momento, nós lançamos a carteira. Os primeiros anos foram, foram anos de tentar crescer a adoção do cripto.
2. Como você vê o desenvolvimento das criptomoedas, desde a fundação da empresa?
Nosso primeiro bom ano foi em 2017, quatro anos mais tarde de sua criação, e é quando a empresa teve um desenvolvimento maior. As criptos têm ciclos muito fortes, e nesses ciclos têm períodos muito intensos de muito crescimento, e depois correções, e isso é um dos desafios desta indústria, passar por momentos diferentes de mercados, muito intensos, com muito crescimento e depois muita contração. Sem dúvidas, esse é o maior desafio desse mercado, por ser muito flexível, momentos de pisar no acelerador no máximo, e momentos de frear ‘como louco’. Eu costumo falar que, o mais importante nessa indústria, é sobreviver.
Uma coisa que sempre falei: o cripto precisava ser velho, porque como é dinheiro, na minha visão precisa da prova do tempo para ganhar confiança, de que é uma tecnologia que vai persistir ao longo dos anos. Nos últimos tempos, começou a ter mais opções institucionais e as aprovações de ETFs, isso é muito claro. Cada vez mais tem mais empresas que operam com criptomoedas para fazer suas operações, têm cada vez mais a utilização de stablecoins como alternativas de transferências internacionais. Eu acredito também que haverá um momento de tokenização, é o futuro da indústria.
3. Com o recente halving do Bitcoin, muitos esperam uma nova alta nos preços. Como você vê o impacto desse evento no mercado de criptomoedas e na Ripio especificamente?
O mercado de cripto é muito cíclico, como mencionei anteriormente, com um ciclo muito marcado de 4 anos, que foi determinado pelo halving. Quando o criador do bitcoin criou o sistema de emissão, fez um sistema de tal forma que a emissão vai variando no tempo. Vai até 19 milhões de BTC, a emissão é a cada 10 minutos, e a cada 4 anos essa emissão baixa pela metade, isso faz um choque na oferta, depois tem uma correção no preço. Via de regra, meses depois do halving, o preço do Bitcoin costuma subir, como já estamos vendo acontecer.
Esse ano será muito forte para o mercado de cripto, e provavelmente isso se estenda para o início do ano que vem, E todas essa tração de preços, traz ainda mais usuários, e já estamos vendo essa movimentação, e estamos registrando usuários como nunca. E com mais usuários e mais atividades, acaba trazendo, como consequência, mais desenvolvedores e empreendedores que creem nos casos de usos, e atrai investimento na indústria.
Afinal, o halving não é tão relevante, como um evento particular. Mas é um ritmo, marca o “ritmo da balada”, mas o que importa é a “balada”.
4. Os usuários costumam buscar investimentos em criptos nos momentos de maiores altas?
Um dos desafios da Ripio é que tem muito mais atividade quando os preços estão em alta e estamos trabalhando cada vez mais nisso, entender que os casos de usos não são especulativos para que os níveis de atividades sejam mais estáveis na empresa. Nesse momento estamos muito contentes.
5. Os ETFs de Etherium têm sido um tópico quente na indústria. Qual é a sua opinião sobre a aprovação desses ETFs e como eles podem influenciar o mercado de criptomoedas?
Todo mundo acreditava que seria muito importante, mas acho que ninguém acreditava no impacto que isso poderia ter no mercado. Os ETFs da BlackRock, por exemplo, esperavam ter 10 bilhões de assets manegement até o fim do ano. As discussões sobre a aprovação dos ETFs começaram a rolar em fevereiro, e eles já têm 19 bilhões de ativos.
Ou seja, todo o objetivo que eles tinham até o final de 2024, eles compriram nos três primeiros meses do ano. As demandas dos ativos foram bem fortes, começou perto do halving, tiveram alguns dias negativos, e agora está forte novamente. Todos os dias os ETFs crescem, está atraindo muita demanda, que antes não tinham, e isso tem um impacto forte nos preços.
Na última quinta-feira (23), foi um dia importante, em que a Securities and Exchange Comission (SEC) aprovou uma alteração que permite transações à vista de ETFs de Ethereum (ETH), a segunda maior criptomoeda do mundo (atrás apenas do Bitcoin). Foi histórico para o ecossistema cripto e para a tecnologia blockchain.
Mesmo antes da SEC aprovar as propostas das empresas solicitantes, o próprio mercado parecia já ter dado sua opinião, antecipando o resultado da deliberação. A instituição agora parece mais tolerante com criptoativos, o que pode abrir espaço para uma entrada de players tradicionais no mercado.
6. Em setembro, a Ripio está organizando o evento Modular. O que podemos esperar deste evento e quais são os principais objetivos que vocês esperam alcançar?
Para nós é um evento muito importante, que fazemos uma vez ao ano, a edição de 2023 foi em Buenos Aires e recebemos cerca de 1000 pessoas. Este ano a edição do Modular será sediada em São Paulo, esperamos 1500 pessoas.
O Modular é um evento de indústria, é direcionado ao público que trabalha com cripto, tanto de comunidades cripto, quanto pessoas que trabalham na indústria. Teremos muitas palestras sobre o desenvolvimento e as tendências da indústria, e ainda aproveitamos para fazer anúncios de lançamentos, produtos que trabalhamos ao longo do ano.
Como 2024 será um ano de muita atividade, acreditamos que o mercado vai esquentar. Acreditamos que o Modular deste ano será um evento forte, com muita expectativa e muita participação. Estamos trabalhando bastante para isso.
7. O que é o Ripio Select e como ele se diferencia dos outros serviços oferecidos pela Ripio? Quais benefícios ele traz para os investidores?
Dentro da oferta de produtos da Ripio, tem um produto corporativo chamado Ripio Select, que é o principal serviço de over the counter, em que ajuda as empresas. E estamos puxando o crescimento desse nosso serviço no Brasil.
Um dos nossos focos no mercado brasileiro, atualmente, é o crescimento do Ripio Select, estamos fazendo uma série de reuniões, eventos e trabalhando cada vez mais com empresas que estão utilizando cripto para as suas operações, e sobretudo, muito trading de stable coins – no Brasil a procura está cada vez maior por partes de empresas, e acreditamos muito no crescimento dessa área, porque as stable coins são uma alternativa mais rápida que muitos sistemas tradicionais e totalmente global.
8. Quais são os planos futuros da Ripio para continuar inovando e se mantendo relevante no mercado de criptomoedas?
Cada vez mais surgem novos concorrentes para o acesso a cripto ativos, nós começamos muito cedo, já temos muitos anos, e começamos com a ideia de ser o primeiro aplicativo, primeira porta do acesso a ativos digitais. E acreditamos que essa etapa já terminou para nós, e agora com tantas alternativas podemos construir na Ripio uma experiência mais avançada, para usuários avançados que buscam coisas que não vão encontrar na concorrência.
Nós também estamos trabalhando ainda mais na nossa plataforma, para se tornar um aplicativo mais avançado, mais sério, com mais protocolos, inovando, integrando novas tecnologias. Por exemplo, recentemente, nós integramos uma tecnologia chamada UMA – que simplifica os envios e recepções de bitcoin usando Lightning Network, fazendo as conexão como se fosse um email.