De um lado puxam os produtores, principalmente do Rio Grande do Sul, afirmando que a operação para importar arroz é desnecessária. Do outro lado, o Governo Federal mantém pressão firme nas cordas, levando adiante a operação inédita, com vistas a controlar o preço nos mercados e a inflação.
O arroz é, sem dúvidas, um item indispensável no prato dos brasileiros, sua falta seria sentida no paladar e, sobretudo, no bolso da população. Pensando nisso, o governo federal editou uma MP (Medida Provisória), autorizando a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) a comprar o grão do exterior e distribuir internamente.
A ameaça de abastecimento às prateleiras é efeito das enchentes no Rio Grande do Sul, principal produtor de arroz do País. Porém, segundo o grupo de executivos do segmento, cerca de 84% do plantio do estado já havia sido colhido antes das chuvas.
“O problema maior é na logística de distribuição desse arroz. As estradas do Rio Grande do Sul ficaram muito prejudicadas com tudo que aconteceu. Com isso, já houve uma queda de 7,2 milhões para 7,1 milhões na safra”, indicou Alexandre Miserani, economista e professor da Faculdade Arnaldo Janssen, em resposta ao BP Money.
“Além disso, a distribuição vai ficar muito prejudicada. Então, a atitude do governo federal ao garantir a importação de arroz, primeiro para manter o preço, segundo para manter a oferta do produto, é muito pertinente”, avaliou o ele.
Tentando um puxão mais forte na corda, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) levou briga ao STF (Supremo Tribunal Federal), com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade movida contra a operação do governo.
O argumento é que a importação vai desestruturar a cadeia produtiva, desestabilizar os preços, prejudicar os produtores locais e que desconsidera os grãos colhidos, além de comprometer ainda mais os produtores rurais do RS.
Na contramão, considerando os prejuízos que a não importação do arroz causaria à população, Miserani ressalta que haveria uma alta considerável nos preços do grão, e na inflação, devido ao problema logístico.
“As consequências para as empresas brasileiras é que elas vão ter que brigar frente a frente com o arroz importado. Lembrando que essa atitude do governo federal não é da agora. Os governos usam esse artifício para regular a economia quando há algum problema”, afirmou o professor.
Operação do Governo Federal pode se estender ainda mais
O empenho para recuperar os estragos causados ao Estado tem vindo de diversas frentes. Ao final do mês de maio, somente o Governo Federal destinou o total de R$ 62,5 bilhões ao RS, para socorrer a população.
Entre ações emergenciais, de cuidado e de apoio, às empresas e à população, bem como medidas para os governos estadual e municipais, além da liberação de recursos, o poder executivo, na esfera federal, tem trabalhado com a antecipação de benefícios e a prorrogação do pagamento de tributos.
“Dada a extensão dos danos no Rio Grande do Sul devido às enchentes, a importação de 300 mil toneladas de arroz pelo governo provavelmente ajudará a aliviar a escassez e a controlar os preços, mas pode não ser completamente suficiente para resolver todos os problemas do mercado”, disse Marlon Glaciano, gestor e planejador financeiro.
Será necessário um monitoramento contínuo e uma distribuição eficiente para garantir que o arroz chegue onde é mais necessário, ressaltou ele.
O primeiro leilão para a compra das 300 mil toneladas de arroz pelo Conab está previsto para acontecer nesta quinta-feira (6). Segundo a Companhia, o quilo do produto será vendido ao consumidor por no máximo R$ 4.
“O arroz que vamos comprar terá uma embalagem especial do Governo Federal e vai constar o preço que deve ser vendido ao consumidor”, afirmou o presidente da Conab, Edegar Pretto.
Conforme a MP editada pelo governo, a Conab tem autorização para comprar até 1 milhão de toneladas de arroz, o que deve acontecer através de novos leilões no decorrer de 2024.
“Novas operações de importação de alimentos básicos pelo governo brasileiro podem ocorrer, especialmente devido a eventos climáticos adversos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram a produção de arroz, soja e milho”, analisou.
Segundo o gestor, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já publicou manuais para facilitar o processo de importação, indicando que o governo está se preparando para futuras necessidades de segurança alimentar, abrangendo possivelmente outros produtos essenciais além do arroz.