Apesar da polarização instaurada nos EUA, seja republicano ou democrata, uma preocupação pode ser considerada um consenso entre os grupos: que a trilha da desinflação norte-americana fique estagnada por mais tempo.
Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve), expressou preocupação com a trajetória fiscal dos EUA, destacando que a situação atual “não está em um caminho sustentável”.
Enquanto a autarquia monetária permanece vigilante, ela admite frustração com os últimos dados de inflação.
Para além dos dados, há outro fator relevante a ser levado em consideração. Com cerca de cinco meses para a eleição presidencial estadunidense, agendada para 5 de novembro, surgem dúvidas se o período político poderá impactar essas decisões.
Embora não haja dúvidas sobre a imparcialidade da diretoria do Federal Reserve, é inegável que a atuação da autoridade monetária seja, no mínimo, sujeita a questionamentos durante esses períodos.
Especialistas ouvidos pelo BP Money explicaram que o Fed não costuma ajustar suas taxas de juros com base no ciclo eleitoral.
As análises enfatizam que os dirigentes do Banco Central dos EUA manterão a independência da política monetária para assegurar o cumprimento do duplo mandato do Fed.
“Corte de juros com o objetivo de afetar as eleições parece algo altamente improvável. Nosso cenário, a propósito, é que o juro só caia nos EUA ao longo do ano que vem”, disse Homero Guizzo, economista da Terra Investimentos.
“A expectativa do mercado é de que o juro seja cortado próximo das eleições é alimentada pela avaliação de que a inflação cairá até novembro, não por conta das eleições”, completou o especialista.
Com aproximação das eleições, Fed pode aumentar cautela?
Segundo Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital, o posicionamento do Fed em relação aos juros não deve ter impacto nas eleições.
Nobile ressalta a autonomia da autarquia monetária norte-americana e afirma considerar a implementação dessa liberdade de forma ‘madura’
“O primeiro ponto é que a independência do Federal Reserve nos Estados Unidos é algo primeiro histórico e segundo maduro”, disse.
Guizzo completa afirmando não esperar uma mudança substancial na condução da política monetária, independentemente do candidato vencedor.
Ele destaca que Jerome Powell, por exemplo, foi indicado por uma administração Republicana e não adotou medidas que seriam consideradas impensáveis para um presidente do Fed nomeado por uma administração Democrata.
Além disso, Powell foi reconduzido ao cargo durante uma administração Democrata, o que sugere uma continuidade na abordagem da política monetária, independentemente da afiliação partidária do presidente em exercício.
“A experiência mostra que nomes alinhados ao governo costumam ser escolhidos – por exemplo, ninguém esperaria que um republicano escolhesse Lael Brainard para a presidência do Fed, e ninguém esperaria que um democrata escolhesse Neel Kashkari. No entanto, não consigo identificar uma transição de governo que tenha alterado a implementação da política monetária de forma decisiva”, completou.
O que tem lá, não se vê por aqui?
Nobile ainda destaca as diferenças entre os EUA e o Brasil em termos de democracia e política econômica.
O profissional observa que nos EUA há uma democracia forte e estabelecida, enquanto no Brasil a democracia ainda está em desenvolvimento.
“Aqui [no País] a gente vê uma democracia um pouco mais fraca, se estabelecendo aos poucos ao longo da história; lá a gente vê uma liberdade econômica de fato”, afirmou o economista destacando que no Brasil ainda há uma significativa intervenção estatal na economia.
Em relação à independência do Banco Central, ele menciona que nos Estados Unidos essa independência é estrutural e historicamente aceita, independentemente da transição de governo.
“No Brasil, se a gente parar para ver, é o primeiro mandato de um presidente do Banco Central independente, então isso ainda está num contexto muito novo e claro que tem muito ruído, muita pressão, então ainda acho que precisa se estabelecer ao longo do tempo”, avaliou.