Selic em 10,50%

Cerco se fechando: mercado vê fim dos cortes da Selic em junho

Especialistas afirmam que dados recentes, como payroll dos EUA e IPCA, carimbaram o fim dos cortes de juros na próxima reunião do Copom

BC do Brasil
Banco Central do Brasil/ Foto: Rodrigo Oliveir

Dados recentes do cenário econômico doméstico e dos EUA têm dado indícios ao mercado de que não há mais espaço para cortes da taxa básica de juros (Selic), observados desde agosto de 2023. A Selic hoje está em 10,50%.

Ao BP Money, Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capita, disse que, no momento, as chances de manutenção da Selic são de 91,8%, com base no IEPS (Índice Equus de Precificação da Selic).

O índice mede, através do uso de IA (Inteligência Artificial), a probabilidade indicada pelo mercado de alteração para a próxima reunião do Copom, nos dias 18 e 19 de junho.

Na semana passada, o IEPS apontava um percentual de 78,5% para a manutenção das taxas de juros. No dia anterior à última reunião do Copom, o índice era de 28%.

“Esse movimento foi impulsionado por dados do mercado de trabalho nos EUA, que sugerem que o Fed poderá reduzir sua taxa de juros apenas uma vez em 2024, em vez das duas reduções anteriormente esperadas. A indicação de uma economia aquecida, conforme o payroll, sugere que o Fed terá menos margem para novos cortes, influenciando as expectativas de política monetária global”, disse Uchida.

O relatório Payroll, divulgado na sexta-feira (7), indicou a criação de 272 mil vagas de emprego em maio, muito acima dos 185 mil esperados pelo consenso LSEG de analistas. O resultado foi encarado como uma surpresa negativa do ponto de vista da política monetária.

IPCA carimbou o fim dos cortes da Selic na próxima reunião do Copom

No cenário doméstico, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), divulgado na terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), carimbou, na avaliação de especialistas ouvidos pelo BP, o fim dos cortes na próxima reunião do Copom.

O dado de maio registrou alta de 0,46%, com aumento de 3,93% entre junho de 2023 e maio de 2024, marcando a primeira alta anual desde setembro. No período de 12 meses encerrado em abril, a variação foi de 3,69%.

“Dos 9 grupos aanalisados, 8 subiram, o que é muito ruim. Para as próximas, teremos ainda mais efeitos da enchente no Rio Grande do Sul, impacto da alta do dólar e provável reajuste dos combustível. Esses fatores juntos praticamente eliminam qualquer possibilidade de corte da Selic na próxima reunião do Copom”, destacou Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatus.

Leandro Manzoni, analista de economia do Investing.com, chama atenção para o fato de que, embora a aceleração do IPCA tenha vindo devido à elevação de preços administrados como medicamentos, planos de saúde e energia elétrica, seus efeitos junto com a força da alta de Alimentos e Bebidas foram sentidos em outros grupos, especialmente serviços.

“Os preços administrados desaceleraram de 0,74% em abril para 0,55% mês passado, mas serviços tiveram uma forte aceleração de 0,05% para 0,4%”, disse Manzoni.

“Na ata da última reunião e em declaração de Roberto Campos Neto, há menções sobre a possibilidade do mercado de trabalho aquecido impulsionar a inflação de serviços. Com o fim do forward guidance na última reunião e a sinalização de que as próximas decisões serão baseadas em dados, o IPCA de maio deve reforçar o tom hawkish do comunicado e da ata, e os investidores devem ficar atentos sobre a interpretação do colegiado sobre a relação da inflação de serviços e mercado de trabalho”, completou Leandro.