Por Rafael Guedes
O que alterou nos últimos anos nos ecossistemas de inovação e startups no que concerne aos modelos de investimentos? A pergunta é pertinente à medida que as dinâmicas macroeconômicas acusam mudanças significativas, sobretudo no que diz respeito aos riscos dos investidores.
Nestas duas primeiras décadas do século XXI, marcadas pelo avanço da digitalização econômica e, via de consequência, na projeção mais assertiva dos riscos, investir requer conhecimento ambivalente. Seja quem apresenta um produto, solução, projeto etc; seja quem está disposto a investir em determinado empreendimento.
Já são perceptíveis alterações significativas no mercado. De acordo com levantamento realizado pelo jornal Estado de São Paulo, no primeiro trimestre deste ano o mercado nacional mobilizou US$ 347 milhões em investimentos em startups em 109 rodadas, valor menor em relação ao mesmo período do ano passado, que aferiu US$396,68 milhões em 109 rodadas de negócios.
Na busca de soluções para seus produtos e negócios, os investidores estão assumindo riscos em projeções nas quais as estratégias para dirimir tais riscos implicam em não apenas conhecer com propriedade as empresas contempladas, mas, e sobretudo, ser partícipe dos seus processos internos.
O antigo e já talvez superado conceito de venture capital, ou capital de risco, modalidade de investimento em que o dinheiro é aplicado em empresas jovens com expectativa de crescimento rápido e rentabilidade alta, gradativamente cede lugar a tratativas que ensejam situações que exigem leituras de cenários com mais acuidade. Para tal, há movimentos diferenciados e que requerem métodos de prospecção e intervenção mais apurados.
Como se trata de investimentos de alto risco, a situação exige melhor gerenciamento. Investidores têm se atentado mais para modelos capazes de garantir algum controle nestes negócios, a exemplo da governança corporativa, conjunto de práticas cuja finalidade é garantir transparência, ética, responsabilidade e sustentabilidade nas empresas.
São processos que envolvem estratégias, análises, fiscalização, planejamento e diversas outras ferramentas de gestão para garantir o equilíbrio entre a criação de valor da empresa e os interesses de todas as partes envolvidas, como sócios, conselho de administração, diretoria e órgãos de fiscalização e controle.
Neste quesito, quando um investidor de risco aposta em uma startup, ele mantém parceria bastante próxima com os empreendedores, inclusive indicando executivos para ocupar cargos estratégicos na empresa-alvo do investimento. Expediente que enseja possibilidade de maior segurança no desempenho da startup.
Vale destacar que a estratégia de venture (risco em livre tradução) para galgar ganhos que implicam altos riscos é, atualmente, atrelado à análise do capital, ou seja, do resultado financeiro. E esta é a nova fronteira à captação de investimentos.
Num outro cenário que também integra o debate em curso, vem à baila a metodologia do pitch reverso. Ao contrário do pitch tradicional, no qual as startups apresentam suas ideias para as empresas, no reverso são as empresas que mostram seus desafios para as startups. Dessa forma, estas são impulsionadas a desenvolverem soluções personalizadas que atendem diretamente as necessidades das empresas. Via de duas mãos, uma vez que apresenta cenário mais seguro para os investidores.
Vale registrar que estes modelos de negócios também são alvo de regulação por parte do Estado. No Brasil, os fundos de venture capital são regulados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e são constituídos como Fundos de Investimento em Participações (FIP), ou Fundos Mútuos de Investimento em Empresas Emergentes (FMIEE).
A reflexão exposta busca contribuir para a aceleração do ecossistema de inovação. Para tanto, é necessário entender os novos modelos e estratégias de investimento no intuito de garantir melhores negócios àqueles que apostam em jovens empresas, assim como estas sejam capazes de responder às expectativas dos que nelas lançam suas fichas.