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Dólar: o que o governo deve fazer para conter disparada?

O presidente Lula fará reunião nesta quarta (3) para discutir medidas de controle à alta da moeda, que atingiu o maior patamar em quase 2 anos

Dólar
Foto: Marcello Casal Jr / Divulgação

A disparada do dólar frente ao real tem preocupado o mercado e setores do governo. Na última segunda-feira (1), a moeda norte-americana atingiu a sua maior cotação em quase dois anos, fechando a R$ 5,64.

Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião em Brasília para esta quarta-feira (3), a fim de discutir medidas contra a especulação que, segundo ele, estaria por trás da alta do dólar.

O presidente chegou a dizer que era preciso “fazer alguma coisa” em relação ao avanço da moeda, mas não deu detalhes sobre o que deveria ser feito. “Se não, estarei alertando os meus adversários”, destacou o presidente na ocasião.

Mas, afinal, o que o governo precisa fazer para conter a disparada do dólar? Especialistas ouvidos pelo BP Money destacaram algumas medidas.

Alta do dólar: corte de gastos e fim de “guerra” com BC são necessários

Não é de hoje que o o governo vem sendo pressionado para revisar os gastos públicos. Segundo José Alfaix, economista da Rio Bravo, este é justamente o primeiro passo que deve ser dado para conter a disparada do dólar.

“Apesar de muito difícil, devido ao custo político e a aversão de Lula à ideia, a proposta das desvinculações de pisos constitucionais traria o maior alívio para as contas públicas, visto o peso dessas despesas obrigatórias quando contrastadas com as discricionárias”, afirmou Alfaix.

Em um cenário mais provável, o economia chama a atenção para o redirecionamento de programas assistenciais do governo e “revisão de alguns gastos tributários”.

De acordo com Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, um “plano coerente de corte de gastos”, na casa dos R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões, “mudaria completamente o jogo do mercado”.

“O dólar desaceleraria, a bolsa voltaria a ganhar fôlego. Então, seria a única medida que salvaria o arcabouço fiscal”, disse Laatus.

Além disso, Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, chamou a atenção para a necessidade de o governo parar de promover atritos com o BC.

Nos últimos dias, Lula não poupou críticas à autoridade monetária e ao presidente Roberto Campos Melo. O petista chegou a dizer que ele tinha “lado político” e agia para “prejudicar o país”.

Lula também afirmou que o comportamento do BC é a única coisa “desajustada” no Brasil neste instante.

Ademais, o presidente da República também criticou a decisão do BC em manter a Selic em 10,50%, alegando que não há “explicação ou critério” para juros tão altos.

“Nos discursos do dia a dia, deve-se deixar a parte técnica, econômica, de fora. Sempre há muito mais ruido do que ganhos em relação a isso”, pontuou Volnei.