As discussões sobre finanças têm, cada vez mais, perdido o tom engessado e o caráter elitista observado outrora. Ao mesmo tempo, as promessas de enriquecimento relâmpago e aplicações “mágicas” são cada vez mais questionadas pela população.
Foi seguindo esta nova abordagem que o planejador e consultor financeiro Gabriel Engmann começou a produzir conteúdos sobre dinheiro e investimentos, inicialmente através do Instagram. Agora, a sua nova aposta é a newsletter Conversa Fiada – um projeto solo com o objetivo de trazer o assunto dinheiro de forma leve, realista e pé no chão.
“Um convite a olhar com mais carinho para a sua vida financeira”. Foi com essa descrição que Engamann escolheu apresentar o poduto aos seguidores, através do e-mail. A newsletter já trouxe, até então, temas como pagamentos no cartão de crédito e débito, investimentos e planejamento financeiro.
Ao BP Money, o especialista apresentou a sua visão sobre eduçação financeira, detalhou o seu mais novo projeto e contou quais são as suas expectativas em relação a ele.
Confira a entrevista na íntegra:
Como surgiu a ideia de criar a newsletter sobre finanças? E por que uma newsletter, ao invés de site ou publicações nas redes, por exemplo?
Percebo que a newsletter é um canal onde consigo aprofundar mais sobre o assunto, levar o meu olhar e a forma como eu penso dinheiro para mais pessoas. Tento fazer isso no meu Instagram também, porém acho que é um ambiente raso. É uma aposta.
Busco, com a news, gerar conexão com um público saturado de discursos meritocráticos, aquele “só depende de você”, sabe? Em uma sociedade onde o capitalismo impera cria-se a ilusão de que existem fórmulas para enriquecer, o que acaba fazendo com que as classes menos favorecidas sejam exploradas para o enriquecimento de pouquíssimas pessoas.
Portanto, a ideia de criar a newsletter Conversa Fiada surgiu com a intenção de levar o tema finanças de forma saudável, realista e pé no chão para pessoas comuns. Gente como a gente.
Em quem você pensou como público-alvo para este projeto?
O público-alvo da newsletter são as pessoas que não se conectam com o perfil Faria Limer e estão fartas dos conteúdos sobre finanças que vende ilusão. Eu acho que grande parte do meu público, que não está em condição de vulnerabilidade social, já sabe da importância da educação financeira, só que não se conecta com a abordagem padrão da internet.
Todos temos questões que nos incomodam sobre finanças e isso é super normal. Quando tenho um primeiro contato com os clientes da consultoria, é comum ouvi-los dizer que não aprenderam a lidar com dinheiro na infância, com os pais, na escola ou até mesmo na graduação.
Portanto é para todos que lidam com dinheiro no dia a dia: celetista, pessoas que trabalham por conta, famílias.
Qual é o principal desafio para conseguir chamar a atenção deste público e fazê-lo entender a importância da educação financeira?
O principal desafio para esse recorte da sociedade, que não está em situação de vulnerabilidade e não é detentor do capital, é fazer as pessoas entenderem que é possível olhar para as próprias finanças de forma mais humana e criar planejamentos possíveis de acordo com a realidade de cada um.
Dinheiro é um tema para todos, é um ato político e emancipatório que pode nos fazer chegar em um lugar melhor individualmente, mas também como sociedade.
Notei que a newsletter tem uma linguagem fácil, descontraída. Você acha que essas características são importantes para falar sobre dinheiro?
Sim, eu acho super importante. Acredito que finanças é pra todo mundo. Esses dias fiz uma reunião com uma cliente e o assessor de investimento dela. Fiquei perplexo com o linguajar técnico usado por ele na conversa. Ficou parecendo algo meio: “Estou falando difícil, você não precisa entender, só acate as minhas recomendações”. É uma abordagem cheia de conflitos de interesse que bancos e corretoras usam para vender seus produtos.
A minha ideia com a newsletter é levar clareza sobre o mundo dos investimentos e formas de lidar melhor com dinheiro no dia a dia.
Quais resultados você espera com o projeto Conversa Fiada?
Espero que o público consiga lidar melhor com as próprias finanças, que entendam o dinheiro como um ato político e que criem planejamentos possíveis como veículo emancipatório.
Quando se trata de educação financeira, para você, qual(is) é (são) o(s) tópico(s) principal(is) que devem ser debatidos?
Para mim, o principal tópico a ser debatido dentro da educação financeira, são as políticas públicas. Para a maioria das pessoas do nosso país, não há de se falar de planejamento financeiro sem antes resolver questões de extrema importância como o abismo da desigualdade social, por exemplo.