Futuro animador?

Embraer (EMBR3) terá turbulências no Brasil antes de decolar ao exterior

Para aumentar vendas no mercado externo, é preciso antes resolver desafios no mercado interno, disseram analistas ao BP Money

Foto: Unsplash
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O bom tempo que se forma à frente da Embraer (EMBR3) pode engajar suas demandas e presença no exterior. Contudo, a pista não está totalmente livre de obstáculos, ao passo que a má fase das companhias áreas brasileiras, com recuperações judiciais e dívidas, pode projetar uma turbulência. 

A fabricante de aeronaves brasileira ainda é considerada uma empresa de médio a pequeno porte frente às concorrentes internacionais, como a Boeing (BOEI34) e a Airbus (AIR). 

Sendo assim, para decolar no cenário global a Embraer precisa vencer os desafios de investimento em tecnologia e produtividade, avaliaram economistas em resposta ao BP Money. Isto porque, no momento, sua participação doméstica é baixa, mesmo sendo a maior fabricante de aviões do Brasil.

“O cenário brasileiro é desafiador, temos três companhias aéreas, as quais duas estão em recuperação judicial e uma vive de subidas e descidas na bolsa. A Embraer precisa ter cautela, principalmente uma segurança que evite prejuízos, em caso de não cumprimento dessas companhias”, disse Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial.

No Brasil, o tráfego aéreo ainda está restrito a 3 grandes empresas, que são a Latam, Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), o que deixa poucas opções para a Embraer, estando as duas últimas em processo de recuperação judicial.

Entre as razões que levam as companhias aéreas a comprar mais aeronaves do exterior, Gerson Brilhante, analista da Levante Inside Corp. cita, justamente, os acordos financeiros e históricos com Boeing e Airbus, além da dificuldade de troca nas frotas.

“A substituição ou atualização de frotas é um processo caro e demorado. Muitas companhias ainda operam com modelos adquiridos anteriormente”, afirmou.

Nesse cenário, uma das fontes de segurança da companhia é o “aval do governo”, através de um financiamento blindado, para evitar que o problema nas empresas do setor afetem os resultados e as vendas da Embraer, comentou Bravo. 

Na semana passada, a fabricante divulgou a entrega de 47 jatos no 2TRI24, um resultado 88% maior que o trimestre anterior, mas 2% menor na comparação anual. 

Nesse cenário, grandes bancos como o Citigroup, o Itaú BBA e o BTG Pactual (BPAC11) divergiram quanto à avaliação dos números. Enquanto o 1º viu dados promissores, os outros dois encaram o balanço com decepção. 

Perda de confiança na Boeing (BOIE34) favorece Embraer (EMBR3)

Conforme consenso dos especialistas consultados pelo BP, as polêmicas de segurança com os modelos da Boeing e os recentes aportes do governo brasileiro surgem como uma oportunidade para a fabricante.

“Se a Boeing, ou qualquer outro concorrente global, se atrapalhar nos seus processos produtivos, ou ter problemas de segurança, a Embraer, estando como ela está hoje, em um processo de crescimento contínuo, ela tem toda a oportunidade de abraçar esses mercados”, explicou Bravo.

A fabricante norte-americana viu a confiança de seus clientes se enfraquecer após os acidentes com o modelo 737 Max. A empresa, inclusive, já se declarou culpada por 2 deles junto ao Departamento de Justiça dos EUA

Os acidentes em questão ocorreram na Indonésia e na Etiópia, dentro de um período de cinco meses em 2018 e 2019, e levaram à morte de 346 pessoas.

Além desses episódios, no início deste ano o mesmo modelo de aeronave, que operava pela Alaska Airlines, perdeu parte da fuselagem em pleno voo, forçando um pouso de emergência no Oregon, EUA. 

“Apesar de ter acumulado um grande volume de pedidos, a Boeing reduziu o ritmo de produção para resolver problemas de qualidade. Além das questões de segurança, a empresa tem enfrentado muitas críticas devido a atrasos nas entregas de novas aeronaves. Neste contexto de crise, a companhia está implementando mudanças significativas em sua gestão”, avaliou Chrystian Matias de Oliveira, Analista de bens de capital e logística da Levante Corp.

O caso da Boeing ganhou também outras vertentes quando, quando um dos inspetores de segurança delatou à Administração se Segurança e Saúde Ocupacional, um dos órgãos federais dos EUA, que a empresa havia perdido o controle de centenas de peças defeituosas, que poderiam ter sido utilizadas nos modelos 737 Max.

“Diante desse cenário de expansão da demanda e dos desafios enfrentados pelos competidores, a Embraer, classificada como o terceiro maior player do setor, está em uma posição vantajosa para manter seu crescimento”, continuou Oliveira.

Governo aposta em fabricante para diversificar mercado

Na sexta-feira (19) a notícia de um financiamento por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) às exportações da Embraer animou o mercado. 

Aloízio Mercadante, presidente do banco, além de divulgar o financiamento da exportação de 32 jatos da Embraer para a American Airlines também afirmou que em 1º de agosto uma nova leva de financiamento com o mesmo propósito será aprovada.

O processo de exportação é o principal desafio da brasileira, apesar da fabricação também se mostrar difícil, segundo Bravo. Sendo assim, o apoio do governo ao negócio representa um ganho “imenso” no resultado da empresa.

“Com isso, a Embraer terá a possibilidade de, inclusive, expandir sua carteira de pedidos já tendo o apoio do Banco Público no processo de exportação […] ela vai acumular ganhos significativos no resultado com o incremento desse apoio”, frisou.

Pensando na atração dos investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira, a Embraer é vista como um ativo que diversifica a economia nacional, historicamente dependente das commodities. 

Na avaliação de Oliveira, a indústria aeronáutica representa um setor de alta tecnologia com grande valor agregado, diversificando a base econômica do país.

“Além disso, a Embraer é um dos principais centros de inovação tecnológica no Brasil, desenvolvendo tecnologia de ponta na indústria aeronáutica. Apoiar a empresa é visto pelo governo como uma forma de investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), impulsionando o avanço tecnológico nacional”, emendou o analista.