Ruídos políticos, desconfiança com as contas públicas, piora nas expectativas sobre os juros, todos esses fatores influenciaram a valorização do dólar, em 0,96% na semana, frente ao real.
Para o dólar, na verdade, a semana começou com uma queda ante a moeda brasileira. Isto porque os investidores estavam digerindo a notícia de desistência do presidente Joe Biden na corrida pela presidência dos EUA, anunciada no domingo (21).
“Na esteira do anúncio de Biden, as moedas emergentes retomavam os ganhos frente ao dólar […] A desistência de Biden foi uma boa notícia para os mercados, já que a volta dos doadores do Partido Democrata faz com que a vitória de Trump seja mais incerta”, disse Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank.
Porém, o cenário virou na terça-feira (23), quando os investidores estrangeiros tomaram a rota de fuga da Bolsa brasileira e o mercado interno assumiu uma postura de maior cautela com os ativos de risco, considerando a política fiscal do Brasil.
Apesar do ministro Fernando Haddad (Fazenda) ter anunciado a contenção de R$ 15 bilhões em gastos, o entendimento do mercado é que o valor é insuficiente para alcançar a meta de déficit zero este ano.
E ainda no quadro interno, o IPCA-15 (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), considerado a prévia da inflação, veio acima do esperado e lançou sobre os especialistas a percepção de que um corte de juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária) pode demorar ainda mais, o que fortaleceu o dólar contra a divisa brasileira.
Dólar se apoiou também no exterior
Bazzo lembrou ainda que os fatores externos também colaboraram para deterioração da B3 e do câmbio. “A China, o principal parceiro comercial do Brasil, enfrenta dificuldades econômicas, o que impacta negativamente o real. A queda no preço do minério de ferro também contribuiu para o aumento da aversão ao risco”, disse.
Em paralelo a isso, na sessão de sexta-feira (26) O PCE (índice de preços de gastos com consumo) que é o dado de inflação mais observado pelo Fed (Federal Reserve) e acelerou 0,02% em junho.
O indicador em 12 meses se manteve em 2,6% até junho, a mesma taxa observada em maio. Analistas esperavam taxa mensal de 0,2% e taxa anualizada de 2,5%.
O resultado animou os investidores quanto às apostas do início do corte de juros no país norte-americano.
“Esse dado ajuda a abrir caminho para um corte na taxa de juros americana em setembro. O tesouro americano é a aplicação mais segura do mundo e está pagando juros altos. Por isso, os investidores do mundo todo saem das bolsas — principalmente as de países emergentes como o Brasil — para aplicar lá”, comentou Bazzo.
“Com o corte, espera-se que os investidores voltem para o Brasil. Dinheiro entrando no país ajuda o dólar a baixar e, consequentemente, os preços também caem”, finalizou.