Se tem uma decisão que impacta significamente os mercados de todo o mundo são as dos bancos centrais quanto às taxas de juros. Nesta quarta-feira (31), a economia brasileira enfrentará os efeitos das reuniões que decidirão os rumos tanto da Selic quanto das taxas dos EUA – fenômeno conhecido como “Super Quarta“.
Especialistas ouvidos pelo BP Money preveem cautela em ambas as decisões. Ou seja, esperam a manutenção da Selic em 10,50% a.a. pelo Copom (Comitê de Política Monetária) e dos juros dos EUA no corredor de 5,25% e 5,50% a.a pelo FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto), assim como nas reuniões, em junho.
“Na ata da última reunião, o Copom avaliou o cenário externo como adverso e o interno desafiador pela ótica da inflação. Diante disso, é de se esperar que o comitê continue conduzindo a política monetária com maior cautela, se mantendo vigilante diante das incertezas”, afirmou Ana Paula Carvalho, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.
Marcus Labarthe, especialista em mercado de capitais e sócio-fundador da GT Capital, também espera que a taxa básica de juros brasileira permaneça estável até o fim de ano, mas chama atenção para a possibilidade, inclusive, de aumento.
Isso porque, na avaliação de Labarthe, a valorização do dólar e a piora na expectativa do IPCA afastam ainda mais as projeções de inflação para 2024 e 2025 no centro da meta oficial de 3%. Além disso, o risco fiscal no cenário doméstico também impacta a perspectiva para a inflação.
“Neste contexto, o colegiado deve ganhar tempo mantendo a taxa de juros neste patamar atual e, se o cambio continuar pressionando, se os números das contas do governo continuarem pressionando negativamente as perspectivas do Brasil, corremos o risco de uma nova rodada de piora nas expectativas no futuro, com reversão da queda e até mesmo encerrar o ano acima dos 10,50%”, destacou o especialista.
Diante do consenso de manutenção da taxa de juros, o ponto principal que o mercado deve ficar de olho é a mensagem da ata, avaliou Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital.
“A grande preocupação do mercado como um todo, até na questão cambial, na questão de renda variável, na questão de risco, é a política fiscal e o descontrole dos gastos por parte do governo. Isso preocupa bastante”, afirmou Nobile, destacando que a mensagem do governo em relação à contenção de despesas ainda está na “banda mais baixa”.
EUA: expectativas estão concentradas na ata da reunião
Segundo a gerente de research da Nomad, Paula Zogbi, a perspectiva é de manutenção dos juros nos EUA, principalmente devido aos dados de atividade mais fortes que o esperado na semana passada, com o PIB do segundo trimestre.
Ao mesmo tempo, destacou Zogbi, a perspectiva de um corte na reunião posterior, de setembro, segue bem embasada nos números de inflação, que continuam em convergência para a meta de 2%.
“É esperado que, no comunicado após a decisão desta quarta-feira (31), haja uma sinalização clara na direção desse início de cortes em setembro – caso o discurso seja diferente desse, é possível que o mercado reaja negativamente, com altas nos juros futuros e volatilidade nas ações”, afirmou a gerente de research da Nomad.
Marcus pontuou que o que será escrito após a reunião do Fed (Federal Reserve) será de “extrema importância” para determinar o futuro e possíveis mudanças na taxa de juros nos EUA. “O mercado acredita que isso pode demonstrar que em setembro a taxa de juros nos EUA possa ter uma queda”.