O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) , divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (9), revela uma inflação mais alta do que o esperado pelo mercado. Especialistas analisam os resultados e as implicações para a economia.
O head de renda variável e sócio da A7 Capital, Andre Fernandes, destaca que os dados ficaram “basicamente em linha com o esperado pelo mercado”. Com uma variação mensal de 0,38%, em comparação com o consenso de 0,35%.
Fernandes observa que, embora o índice de difusão tenha ficado abaixo do ano passado, o segmento de alimentos em domicílio apresentou uma desaceleração positiva de -1,51%, destacando a queda nos preços de itens como tomate e leite longa vida.
No entanto, o aumento no segmento de transportes, que subiu 1,82% devido ao aumento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica, pressionou o IPCA para cima.
“Com esse dado e a expectativa de corte de juros nos EUA, acredito que o consenso ainda é de manutenção da Selic em 2024,” afirma Fernandes. Ele prevê que a Selic deve permanecer em seus níveis atuais até o final de 2024, conforme o Banco Central aguarda novos dados para ajustar sua política monetária.
Análise detalhada do IPCA
Leonardo Costa, economista do ASA, aponta que a variação mensal de 0,38% foi ligeiramente acima das expectativas, com uma surpresa negativa nos itens mais voláteis, como alimentação, sendo compensada por uma surpresa positiva nos bens industrializados e serviços.
Costa observa que os serviços subjacentes tiveram uma taxa de +6,1% na média móvel de três meses em julho, indicando uma piora na inflação dos serviços no início do terceiro trimestre de 2024.
“Seguimos com a projeção de 4,4% para o IPCA de 2024 e 4,2% para 2025,” comenta Costa, acrescentando que a deflação mais ampla dos alimentos deve impactar o IPCA de agosto, sem alterar a projeção anual.
Impactos e perspectivas econômicas
Para o economista da Highpar, Maykon Douglas o IPCA de julho foi 0,38%, superando a expectativa de 0,35%. Ele aponta que o grupo de Transportes foi o principal responsável pelo aumento, com impacto de 0,37 p.p., refletindo principalmente os reajustes nos preços da gasolina e nas passagens aéreas.
O grupo de Habitação também contribuiu com um impacto de 0,12 p.p., devido ao aumento na energia elétrica.
Douglas observa que a deflação no grupo de Alimentação e Bebidas (-0,22 p.p.), especialmente em alimentos no domicílio, não foi suficiente para contrabalançar o impacto dos outros grupos. Ele ressalta que a média dos núcleos de inflação acelerou para 0,43%, indicando uma pressão persistente nos preços.
“A robustez da economia doméstica continuará a pressionar os preços mais sensíveis à demanda”, afirma Douglas, apontando que a inflação corrente representa um desafio significativo para o Banco Central.
Surpresas no mercado
O IPCA de julho trouxe uma surpresa ao registrar uma inflação acima do esperado, destacando a pressão dos preços de combustíveis e energia elétrica, além da persistência da inflação em serviços.
Com uma projeção de manutenção da Selic em 2024 e a expectativa de desafios contínuos para a economia doméstica, o cenário inflacionário continua sendo uma área crítica de monitoramento para analistas e formuladores de políticas.
O Banco Central terá que avaliar cuidadosamente essas dinâmicas enquanto considera ajustes em sua política monetária para enfrentar as pressões inflacionárias.