Os dados econômicos dos EUA estão no radar do mercado financeiro, especialmente com a “nuvem cinza”, mais conhecida como recessão, pairando no ar e ainda gerando incertezas para os investidores. Dentre eles, a inflação, medida pelo CPI (Índice de Preços ao Consumidor) norte-americano, que será divulgado na manhã da próxima quarta-feira (14), vem recebendo atenção.
Diante disso, o BP Money ouviu uma série de especialistas de mercado que trouxeram suas perspectivas e projeções sobre os dados de inflação norte-americana.
É consenso entre os analistas que o mercado está apreensivo com os dados a serem divulgados. Segundo o economista e investidor da Corano Capital, Bruno Corano, o índice geralmente apresenta uma “certa imprevisibilidade”.
“Nos últimos 10 meses, o CPI oscilou, às vezes demonstrando mais aquecimento e, outras vezes, mais ou menos atividade econômica”, disse Corano.
Já nos últimos três meses, o índice registrou leve retração: queda de 0,3% em abril, contração de 0,1% em junho, e um percentual neutro de 0,0% em maio.
Para julho de 2024, o consenso é que o indicador registrará um aumento de 0,2%.
Com a alta, o cofundador da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen, explicou que o corte de juros (já esperado pelo mercado) por parte do Fed (Federal Reserve), Banco Central dos EUA, para setembro deve se aproximar.
Foram avaliados dois cenários para a inflação:
Cenário desfavorável
Dentre as análises apresentadas pelos especialistas, foram considerados dois cenários: um pessimista e outro otimista.
No cenário menos favorável, a inflação não cederia ou teria uma alta muito expressiva; consequentemente, a taxa de juros não poderia ser reduzida — o que seria uma “dor de cabeça” para os mercados.
Sem a inflação ceder, como apontaram os especialistas, o desemprego poderia apresentar um leve aumento.
Para Pedro Afonso Gomes, presidente do Corecon (Conselho Regional de Economia-SP), os dados menos favoráveis poderiam gerar uma queda inicial nos mercados, bem como no dólar, “que está muito valorizado no mercado internacional”.
“Se o CPI surpreender para cima, o mercado pode reagir com preocupações renovadas sobre a persistência da inflação, o que poderia reduzir as chances de cortes significativos nos juros ou até mesmo levar à manutenção da taxa atual”, acrescentou o especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias.
Cenário favorável
No cenário otimista, a inflação recuaria, permitindo e reforçando a possibilidade do corte de juros pelo Fed. Além disso, essa tese afastaria com maior força os temores de recessão.
Outro ponto positivo seria, como consequência, também a contração dos juros, fazendo os ativos em geral, especialmente as ações, se valorizarem.
“Caso o CPI venha em linha ou abaixo das expectativas, o mercado pode interpretar isso como uma confirmação de que a inflação está sob controle, o que reforçaria as expectativas de um corte de juros maior, possivelmente de 50 pontos-base”, pontuou o especialista Hulisses Dias.
Temores de recessão nos EUA já podem ser realmente ‘deixados de lado’, mesmo com inflação controlada?
Mesmo com o alívio recente, após dados EUA mais positivos, os analistas destacaram que a recessão ainda é uma preocupação.
“Essa é a grande dificuldade do Fed, entender se já chegou o momento em que deve reduzir a taxa de juros e impedir um desaquecimento maior da economia”, pontuou Corano, da Corano Capital.
Complementando a fala, Gomes, da Corecon-SP, destacou que o Fed já havia avisado que pretende cortar os juros para dar um fôlego às empresas.
Além disso, Pedro Afonso Gomes acrescentou que a política econômica dos EUA está sendo conduzida de forma que tende à “normalidade”. Assim, indicadores econômicos e bolsas do país retornarão aos seus níveis habituais.