O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (19) trouxe dois pontos de atenção para o mercado: o aumento, pela quinta semana consecutiva, da projeção para o IPCA, principal medidor da inflação, e uma estimativa de alta da taxa básica de juros (Selic) em 2025.
As expectativas para a inflação de 2024 cresceram de 4,20% para 4,22% – cada vez mais distante da meta de 3% – enquanto agora é esperada uma Selic na cada dos dois dígitos (10% a.a. ante projeção de 9,75% a.a.).
Na avaliação de especialistas ouvidos pelo BP Money, os dados indicam um cenário de cautela para a economia brasileira nos próximos anos e implicações diretas na B3 (Bolsa de Valores).
“Esse aumento na previsão de inflação para 2024 sugere que o Banco Central pode adotar uma postura mais conservadora em relação à política monetária, mantendo a taxa Selic em patamares elevados por mais tempo. A previsão para a Selic em 2024 permaneceu em 10,50%, mas para 2025 houve um ajuste para cima, de 9,75% para 10%, indicando que os investidores ainda esperam um cenário de juros altos no médio prazo”, destacou Fabio Murad, sócio da Ipê Avaliações.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, chamou atenção para os números do setor de Serviços, que representa cerca de 70% do PIB do Brasil, divulgados na semana passada, indicativos de aquecimento. Segundo ele, esses dados somados à diminuição no número de investimentos é um “descasamento esperado”.
“Em 2023 e 2024, o Brasil vem sofrendo muito com a diminuição de investimentos, uma resposta do empresariado devido à alta carga tributária e também à Selic elevada. Com um consumo agora alto na prestação de serviços, resta poucas opções ao BC que não seja aumentar com emergência a Selic. O descasamento é justamente entre a oferta com a ausência de investimentos e o aumento do consumo de demanda com o dinheiro que é colocado no mercado de crédito subsidiado e direcionado”, disse Eyng.
Volatilidade na Bolsa e juros altos por mais tempo impulsionam investimentos em renda fixa
“A manutenção da Selic em níveis elevados tende a atrair mais investimentos em renda fixa, o que pode reduzir a liquidez no mercado de ações”, destacou Fabio Murad, sócio da Ipê Avaliações.
André Colares, CEO da Smart House Investments, também destacou a atração dos ativos de renda fixa em meio à volatilidade da B3. Por outro lado, destacou que alguns setores mais sensíveis aos juros podem ser particularmente afetados, como o de consumo e o imobiliário.
Em relação às empresas, Volnei considera estratégica a aquisição de crédito agora, enquanto os juros ainda estão em um patamar relativamente mais baixo.
“Com a possível elevação da Selic, os custos de financiamento poderão subir, tornando essa janela de oportunidade crucial para acessar recursos com melhores condições”, afirmou Eyng.