Indicação à presidência do BC

Galípolo no BC: analistas esperam dissociação política em “nova era”

"Galípolo já demonstrou que não vai agir sob interferência política, mantendo um comportamento técnico nas últimas decisões do Copom”, afirmou analista

Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo / Foto: Divulgação

A reação de especialistas do mercado financeiro à indicação do economista Gabriel Galípolo para comandar o Banco Central (BC), em substituição a Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no final deste ano, revela uma mistura de expectativas e incertezas quanto ao seu impacto na condução da política monetária.

Para o analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen, o mercado vê Galípolo de forma positiva. “Logo após a indicação, o dólar caiu e o Ibovespa subiu, embora tenha se estabilizado logo depois. Ele já demonstrou que não vai agir sob interferência política, mantendo um comportamento técnico nas últimas decisões do Copom”, afirmou Cohen.

Em linha com Cohen, o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala acredita que o mercado deve reagir bem à indicação, dado o comprometimento de Galípolo com o controle da inflação.

Para Felipe Castro, sócio da Matriz Capital e especialista em mercado de capitais, o desafio de Galípolo será manter a independência da política monetária, semelhante à abordagem de Campos Neto, que aumentou os juros em um ano eleitoral.

“O mercado espera que Galípolo se dissocie das pressões políticas e continue a conduzir a política monetária com o mesmo desprendimento de Campos Neto”, afirmou.

Ele observa que Galípolo deverá enfrentar um cenário de desajuste fiscal que, segundo consenso de mercado, pode levar a uma nova trajetória de alta da Selic, alcançando 12% ao final de 2025.

“Será interessante ver o discurso do governo diante da alta da taxa de juros sob a presidência de um indicado pelo próprio governo, após anos de ataques pessoais ao presidente anterior”, completou Castro.

Perfil de Galípolo na visão dos analistas

Cohen descreve Galípolo como um “heterodoxo moderado” e explica que, apesar de sua afinidade com políticas desenvolvimentistas, ele também defende algumas privatizações e parcerias público-privadas, o que lhe confere um perfil mais equilibrado.

“Se ele seguir a cartilha que vem propondo, poderá fazer uma boa gestão no Banco Central, servindo como um elo positivo entre o mercado e o governo”, acrescentou.

“Ele já deu sinais de que, se necessário, subirá os juros. O desafio será reancorar as expectativas de inflação em um contexto de economia aquecida, mercado de trabalho apertado e gastos públicos em expansão, o que não será tarefa fácil”, destacou Gala.

Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo Investimentos, destaca que a nomeação de Galípolo já era amplamente esperada e, por isso, as reações do mercado foram limitadas.

“Ele possui um perfil mais político que os últimos ocupantes do cargo, mas tem experiência no mercado financeiro, o que o mantém conectado ao setor”, comentou.

Apoio ao aumento na taxa de juros

Buccini acredita que, para ganhar credibilidade, Galípolo provavelmente apoiará um aumento na taxa de juros na próxima reunião, mas pondera que só será possível avaliar seu impacto e alinhamento com o novo governo após um período de adaptação.

Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, ressalta a experiência financeira e acadêmica de Galípolo como um ponto positivo para sua indicação. “Ele demonstrou uma abordagem pragmática e técnica como diretor de Política Monetária, o que pode significar uma continuidade na atual política de juros”, disse Eyng.

No entanto, ele observa que a proximidade de Galípolo com o governo pode influenciar a percepção de independência do Banco Central. “Sua gestão poderá impactar a confiança dos mercados, dependendo de como equilibrar o controle da inflação com o estímulo ao crescimento econômico”, concluiu.

A indicação de Gabriel Galípolo traz consigo uma série de expectativas e desafios, especialmente diante do cenário econômico atual. Os especialistas concordam que a eficácia de sua gestão dependerá de sua capacidade de manter a independência do Banco Central e de equilibrar as demandas do mercado com as diretrizes econômicas do governo.