As ações do setor de petróleo decepcionaram a Bolsa brasileira no decorrer do terceiro trimestre deste ano. Com todas as principais ações desvalorizadas no período, especialistas consultados pelo BP Money apontaram que os vilões principais desse resultado foram os preços internacionais da commodity.
O setor foi um ponto totalmente vermelho em meio ao quadro verde do Ibovespa, que fechou o trimestre com valorização de 5,69%.
O Itaú BBA, em seu relatório mensal de setembro, assinado por Victor Natal, estrategista de ações para pessoa física, afirmou que o setor “apresentou um fraco desempenho devido, principalmente, à forte desvalorização do petróleo, que caiu aproximadamente 9% no mês”.
Outra combinação de fatores derrubou as ações do setor de petróleo no trimestre passado, sobretudo a junção das incertezas geopolíticas e a redução da demanda global, especialmente em mercados como a China e a Europa, conforme explicou Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.
“Além disso, os custos operacionais aumentaram, pressionando as margens de lucro, e questões regulatórias em alguns países produtores trouxeram mais desafios para o setor”, disse Santos.
Confira o desempenho do setor de petróleo na Bolsa:
Empresa | Ação negociada na Bolsa | Desempenho no 3TRI24 |
Petrobras | PETR4 | – 4,65% |
Prio | PRIO3 | – 4,48% |
PetroReconcavo | RECV3 | – 8,47% |
Brava Energia | BRAV3 | – 36,95% |
Petrobras e cenário global do petróleo
No caso da Petrobras (PETR4), ação que exerce um peso relevante no índice da Bolsa brasileira, além do efeito da queda dos preços do petróleo sobre a receita das petroleiras, a percepção dos investidores também refletiu as mudanças na política de preços dos combustíveis e incertezas regulatórias internas.
“Discussões sobre intervenções governamentais e ajustes na gestão da empresa também aumentaram o risco percebido pelos investidores, o que impactou negativamente as ações no 3º trimestre”, prosseguiu.
Já no quadro global, as flutuações da commodity no 3TRI24 foram influenciadas pela desaceleração econômica global e pela redução da demanda, especialmente na China. Na tentativa de estabilizar esses valores, a OPEP+ também contribui para o ambiente cortando a produção.
“No entanto, as expectativas para o restante do ano indicam que a volatilidade continuará, com os preços sendo influenciados tanto por condições macroeconômicas quanto por tensões geopolíticas”, finalizou Santos.
Entre as juniores do segmento, a Brava Energia (BRAV3) é uma empresa nova, resultante da fusão entre as antigas 3R Petroleum e Enauta. As operações do papel começaram no dia 09 de setembro, razão que explica porque a ação teve desempenho tão desigual aos pares.
Alguns dias após o inicio das negociações, a empresa informou ao mercado que anteciparia itens de inspeção e manutenção no FPSO Papa-Terra que estavam previstos para os próximos meses, o que forçou o adiamento da parada na produção de petróleo.
No dia em questão, a notícia derrubou a ação em 10% e seguiu repercutindo mal, até o final do mês, quando voltou a se recuperar.
Expectativa de desempenho frente aos conflitos no Oriente Médio
A expectativa é que o setor siga enfrentando volatilidade, ao passo que os preços internacionais do petróleo flutuam seguindo o temor do mercado com a intensificação dos conflitos no Oriente Médio.
Especialistas consultados pelo BP Money explicaram que esse novo foco de conflito na região gera um temor de que os países produtores e os navios transportadores de petróleo sejam afetados, o que leva a oscilações nos preços da commodity.
Além da preocupação com a continuidade do transporte e exportação, o fator especulativo ainda atua sobre o mercado, disse Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Os conflitos armados na região, que há duas semanas estava focada entre Israel e o movimento Hezbollah, no Líbano, ganharam um novo capitulo após o Irã lançar mais de 100 mísseis contra Israel na terça-feira (1º). O país já fala em retaliação.
Desempenho da Ibovespa
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, observou que “julho e agosto foram meses muito fortes para a Bovespa, ajudados pela antecipação da queda de juros nos Estados Unidos.”
Para Cohen, a principal movimentação que impactou o mercado foi a redução das taxas de juros americanas, que “subiu no boato e caiu um pouquinho no fato”
Apesar da correção em setembro, que foi influenciada pela necessidade de elevação dos juros no Brasil devido a gastos excessivos, ele ressalta que isso não desfez o crescimento dos meses anteriores.
Ao comparar o desempenho do Ibovespa com índices globais, Cohen destaca que “o S&P 500 subiu 5% no último trimestre, enquanto o Ibovespa avançou 7%.”
Além disso, ele menciona que o ouro teve um aumento significativo, “subindo em torno de 14%,” especialmente em decorrência dos recentes acontecimentos nos Estados Unidos. Assim, ele conclui que “o que realmente se destacou foram a China e o ouro” nesse período.