Moody’s desafia pessimismo local e aproxima Brasil do selo ‘bom pagador’ 

"Foi inesperada, surpreendente e controversa pelas preocupações de mercado", avaliou Martins

Foto: Canva
Foto: Canva

O Brasil está próximo de alcançar o grau de investimento, uma certificação de credibilidade emitida pelas agências que garante aos investidores uma percepção de menor risco de inadimplência. O upgrade do Brasil foi dado pela Moody’s, na noite da última terça-feira (1º), quando elevou a nota de crédito do país de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva.

A recente avaliação ainda coloca o país na categoria de “grau especulativo” — o que, de acordo com as agências de classificação de risco, sinaliza que o Brasil está menos exposto a riscos no curto prazo, embora continue lidando com incertezas em relação a possíveis desafios econômicos e financeiros.

A avaliação desafia a perspectiva do mercado local, que vem demonstrando pessimismo exigindo um compromisso orçamentário maior por parte do governo e uma contenção maior na previsão de despesas. 

De acordo com Ricardo Martins, economista chefe da Planner Investimentos e presidente executivo da Apimec Brasil, o grau de investimento de um país é um parâmetro de bom pagador de suas obrigações e reflete bons fundamentos econômicos, “o que implica teoricamente em apreciação da moeda local e queda das taxas de juros”.

Martins ressalta que a agência de classificação de risco Moody’s, considerou o crescimento econômico mais robusto e o avanço de reformas econômicas e fiscais, para melhorar a nota do Brasil.

“Embora tenha sido inesperada, surpreendente e controversa pelas preocupações de mercado, principalmente na avaliação de deterioração da questão fiscal, a melhora da nota traz uma responsabilidade maior ao governo, porque a perspectiva positiva endereçada pela Moody’s encaminha o Brasil à possibilidade de conquista de país seguro para investimento”, avaliou.

Perspectiva de avanço nos resultados fiscais

Segundo a análise da Moody’s, em um cenário de crescimento estável e com os esforços do governo para aumentar a arrecadação e implementar medidas iniciais de corte de despesas, espera-se uma melhora gradual nos resultados fiscais primários, alinhada com as metas governamentais nos próximos dois a três anos. 

No entanto, a agência alerta que o crescimento contínuo das despesas obrigatórias restringe a capacidade do governo de promover uma consolidação fiscal mais ágil.

Para Paulo Gala, Economista-chefe do Banco Master, o crescimento de 3% ao ano no Brasil tem simplificado o cenário fiscal do país.

“Eu tenho dito isso que aquele velho ditado de onde falta em casa que falta pão todo mundo briga ninguém tem razão. Com o crescimento econômico tudo fica mais fácil”, afirmou Gala.

O economista ressalta, no entanto, que o ajuste fiscal não pode depender exclusivamente do crescimento econômico e de um aumento nas receitas, mas também precisa de um controle de despesas, que ainda é um ponto a ser melhorado. 

“O Brasil está quase virando o grau de investimento”, acrescentou, destacando que a recente melhora na avaliação da Moody’s é um indicativo positivo para o futuro fiscal do país.

‘Decisão da Moody’s não deveria ser recebida com surpresa’, diz economista

Se por um lado, os especialistas se surpreenderam com a classificação, por outro, na análise do economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, a decisão da Moody’s não deveria ser recebida com surpresa por quem acompanha a economia brasileira e as contas públicas. Embora a situação fiscal seja desafiadora, o profissional ressalta que é importante ressaltar que não há risco de insolvência para o setor público.

“Tanto é assim que a demanda por títulos públicos é firme e intensa. Além disso, o caixa do tesouro é uma boa salvaguarda contra turbulências”, avaliou.

Por outro lado, Salto ainda completa afirmando que os desafios estruturais são diversos. “O Orçamento geral é rígido, as indexações e vinculações amarram as contas do governo e o gasto cresce de modo insustentável. É preciso de uma agenda de ajustes com foco na despesa para que se avance mais rapidamente em relação à redução do risco país, sem dúvida”, disse.