O governo, ao menos inicialmente, recuou da decisão de proibir que beneficiários do Bolsa Família utilizem o cartão do programa para apostas online (bets). Um dos principais defensores dessa postura foi o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, que argumentou contra a adoção de medidas “discriminatórias” em relação aos beneficiários. Em sua visão, não se pode “demonizar” esses usuários.
“Nós estamos tratando de um problema de jogos (bets) que atinge 52 milhões de brasileiros, 52 milhões de brasileiros dizem em estudos que jogam. Estamos falando de cerca de metade da população adulta. Quando a gente separa o público do Bolsa Família, a população adulta do Bolsa Família, nós estamos falando de aproximadamente 17% deste público”, afirmou o ministro após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros sobre o tema na quinta-feira (3).
“Portanto, não é razoável que a gente entre nessa de querer demonizar o público do Bolsa Família. Estamos tratando de um problema grave”, completou o ministro.
Segundo o ministro, o governo está implementando medidas, mas com cuidado para evitar ações “discriminatórias” contra esse público. Ele garantiu que serão propostas soluções que envolvam toda a população, incluindo os beneficiários do programa social. Como exemplo, mencionou a proibição do uso do cartão de crédito, uma medida que afeta todos os cidadãos, sem distinção.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o governo federal considera mais prudente aguardar os efeitos das medidas já anunciadas pelo Ministério da Fazenda antes de tomar qualquer decisão relacionada ao Bolsa Família.
Segundo o jornal, o presidente Lula expressou preocupação durante a reunião, ressaltando que muitas pessoas estão viciadas em apostas online, gastando além de suas posses e se endividando. Ele também afirmou que o governo tomará uma posição sobre o assunto em breve.
Febraban estuda força-tarefa para medir impactos das bets
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) está avaliando a possibilidade de sugerir ao governo a formação de uma força-tarefa para analisar os efeitos das apostas virtuais na renda das famílias brasileiras. Esse grupo incluiria representantes do governo, do setor produtivo e das instituições financeiras.
“Estamos cogitando propor ao governo a criação de uma força-tarefa multigovernamental, multissetorial para aprofundar os impactos da atividade das bets no Brasil. É importante que se tenha um diagnóstico preciso”, disse o presidente da Febraban, Isaac Sidney, que se reuniu nesta quarta-feira (2) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Essa força-tarefa poderia, para além do Ministério da Fazenda, contemplar outros órgãos governamentais que cuidam da defesa do consumidor, da prevenção à lavagem de dinheiro e de benefícios sociais, como Bolsa Família”, completou Sidney.
Focado em debater o impacto do endividamento causado por apostas eletrônicas e jogos de azar online, o encontro terminou sem um desfecho claro. De acordo com o presidente da Febraban, nenhuma decisão foi definida durante a reunião, e a entidade ressaltou que seu papel não inclui a formulação de políticas públicas.
“A reunião hoje não foi para tomada de decisões. Nossa preocupação é com as medidas de prevenção para o superendividamento, com a saúde financeira e com o bem-estar das famílias”, disse Sidney na saída do encontro.