O Payroll, relatório de emprego dos EUA mais aguardado pelo Fed (Federal Reserve), pegou o mercado de surpresa na manhã desta sexta-feira (4). Os dados indicam aquecimento do mercado de trabalho, com criação de 254 mil postos de trabalho fora do setor agrícola em setembro.
Número veio muito acima do previsto pelo consenso LSEG de analistas, que previa a abertura de 140 mil vagas. A criação de empregos não agrícolas em setembro superou a média mensal dos últimos 12 meses, que era de 203 mil vagas.
Ao BP Money, Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, pontuou que o dado, ao evidenciar um mercado de trabalho muito mais aquecido do que o previsto, afasta completamente a ideia de recessão que pairou sobre o mercado nos últimos meses.
De acordo com o economista, o Payroll muito forte evidencia o que Jerome Powell, presidente do Fed, falou sobre “não ter pressa” para cortar os juros, no início da semana.
“Eles não querem enfraquecer a economia, o mercado de trabalho, mas também não querem que a inflação saia do controle”, disse Gala, destacando que, após a divulgação, as chances de um corte de apenas 0,25 p.b em setembro foi a quase 100%.
O economista Maykon Douglas concorda. Segundo ele, o Fed reconhece a resiliência do mercado de trabalho e seu perfil ainda benigno, apesar da nítida desaceleração na geração de vagas e nos ganhos salariais em relação ao ano passado.
“Portanto, também tendo em vista os últimos dados de consumo e atividade, o banco central norte-americano não deve ser tão agressivo ao afrouxar a política monetária”, destacou Douglas.
Ainda segundo Maykon, a autoridade monetária “contratou um seguro” ao iniciar o ciclo de cortes com um ajuste de 0,50 p.b. “Quiseram evitar uma deterioração adicional do mercado de trabalho e sinalizar confiança no processo de desinflação”, disse.
Como payroll e mais juros impactam os negócios e a Bolsa?
De acordo com Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, um Fed menos agressivo quanto à proporção de corte de juros impacta de forma negativa os negócios e a Bolsa.
“É um momento em que boa parte dos segmentos da economia carece de uma taxa de juros menor. A continuidade do patamar de juros elevado impacta diretamente a demanda global, afetando, como consequência, a lucratividade de boa parte das empresas e a atratividade de muitas ações”, explicou Lima.
Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, chamou atenção para os sinais de resiliência econômica dos EUA apesar das “pressões externas”.
“O cenário global está marcado por incertezas e cautela, especialmente devido ao prolongamento da guerra no Oriente Médio, o que alimenta um ambiente de aversão ao risco. Esse cenário de insegurança política e econômica tende a impactar diretamente os mercados globais, levando à queda nas bolsas, valorização do dólar e aumento nos juros dos títulos do Tesouro dos EUA”, afirmou Andrade.