Contração na economia

Brasil caminha para uma recessão? Especialistas avaliam

Crescem as preocupações com o fiscal e a inflação resistente, mas indicadores sinalizam queda do desemprego e crescimento da atividade

Recessão
Foto: Freepik

O crescimento das preocupações do mercado em relação à política fiscal brasileira e à resistência da inflação potencializaram a ideia de que o país pode estar caminhando para uma recessão.

Em contrapartida, indicadores evidenciam a menor taxa de desemprego desde 2014 e indicam crescimento da economia – como o IBC-Br, prévia do PIB, de agosto. Sinais aparentemente controversos levantam a dúvida se há, de fato, uma contração no ciclo econômico a caminho ou um pessimismo exacerbado.

Na última sexta-feira (11), o BP Money veiculou uma avaliação do economista-chefe André Perfeito, sócio da APCE, sobre os ânimos do mercado após falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito da expansão do programa Minha Casa Minha Vida e a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para rendas de até R$ 5 mil.

Segundo ele, o mercado não apenas espera, mas está construindo um cenário de recessão com o objetivo de trazer a inflação ao centro da meta em 2026.

De acordo com Bruno Corano, economista da Corano capital, não é possível bater o martelo se há ou não uma recessão em trânsito. Corano destaca, porém, que todos os sinais indicam que o Brasil está exposto a uma desaceleração – que pode, no final das contas, gerar uma recessão, a depender do cenário externo.

“O país está com o seu sistema produtivo desequilibrado, com o fiscal comprometido e com perspectivas de crescimento limitadas, enquanto, do outro lado, uma previsão de aumento de despesas já foi assumida. É como se já enxergássemos nuvens negras no horizonte. Se os ventos vão trazer elas para cá ou não, é o que nós não sabemos ainda e nem em qual nível”, avaliou o economista.

Fiscal como ‘vilão’ e fatores políticos

O economista Emanuel Pessoa lembra ainda que o Brasil tem juros reais menores apenas do que a Turquia e a Rússia, o que tem pesado na avaliação negativa do mercado. Além disso, o problema dos gastos públicos tem sido o centro das atenções.

“Por conta dessa situação em que o governo não corta gastos mas o aumenta, a economia é impulsionada, mas chegará um momento, com tanto endividamento e com tanta pressão tributária, que não será mais possível seguir gastando com tanta intensidade, o que retira o estímulo à atividade econômica e o crescimento cai”, disse Pessoa.

Segundo ele, a situação é a denominada ‘tempestade perfeita’, já que o governo se veria em uma situação de baixo crescimento e sem folga fiscal ou capacidade de endividamento para empurrar a economia para cima.

Para Pedro Persichetti, CSO da Sail Capital, embora a arrecadação esteja atingindo níveis recordes, o dinheiro não está sendo aplicado da forma correta e o risco fiscal permanece.

“As pessoas estão pagando muitos impostos e as empresas geradoras de emprego não conseguem expandir. Um governo ‘gastão’ piora a economia porque gasta muito, mas gasta mal, há um risco político e fiscal muito maior”, destacou Pedro.

Ademais, há risco em relação à atração de investimento estrangeiro para o país. “Normalmente, quando você aumenta os juros no Brasil, você atrai investimento de fora. Só que quando o país está num cenário deteriorado fiscal, que parece que vai dar ‘calote’, fica muito arriscado. Quanto mais você aumenta os juros, mais você quebra o país”, sinalizou Persichetti.

As inquietações do mercado têm também outro componente como motivador: o político. Segundo Marina Prieto, professora e coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Estácio, a insatisfação dos agentes do mercado em relação ao governo Lula pode estar influenciando as reações e refletindo um nervosismo “que vai além das métricas econômicas tradicionais”.

“Os resultados do governo Lula, na maioria das vezes, mostram um desempenho aceitável, sem indícios claros de um colapso fiscal iminente. As expectativas do mercado em relação ao déficit público e outros indicadores macroeconômicos permanecem estáveis”, pontuou Prieto.