Chegou ao fim, na última quinta-feira (24), a reunião da cúpula do Brics. Em meio às inúmeras discussões, como a guerra no Oriente Médio, o novo mandato à frente do banco do Brics e moeda alternativa ao dólar, o ingresso de novos países ao grupo e como os EUA reagirão a isso foi um dos destaques, que acendeu um alerta vermelho no mercado.
Isso porque o fortalecimento do bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, mais recentemente, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã, pode ser encarado como uma articulação política e econômica para rivalizar com o G7, do qual os EUA fazem parte.
A cúpula do Brics confirmou que fará o convite a 13 países: Turquia, Indonésia, Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda. Especialistas consultados pelo BP Money pontuaram que essa expansão pode gerar conflito entre Brasil e EUA.
“A inclusão de novos países no Brics, especialmente os que têm relações tensas com os EUA, como Cuba e Belarus, pode gerar conflito nas relações econômicas do Brasil com o país norte-americano, gerando repercussões comerciais e financeiras negativas, como barreiras tarifárias, avaliações econômicas ou mesmo a redução de investimentos”, disse Jefferson Laatus, chefe-estrategista da Laatus.
De acordo com Volney Eyng, CEO da gestora Multiplike, caso as relações Brasil-EUA enfraqueçam, setores sensíveis como exportações de commodities e acordos financeiros serão os mais impactados.
“O presidente Lula, em suas últimas declarações, já sinalizou ser contra a entrada desses países no BRICS, e isso já acaba dando uma certa tranquilidade ao mercado, e lembrando que o Brasil a partir do ano que vem vai liderar o bloco econômico”, pontuou Eyng.
Expansão do Brics pode impactar política monetária brasileira
As atenções vão além da relação entre Brasil e EUA. Segundo Felipe Vasconcellos, sócio da Equss Capital, a ampliação do Brics pode impactar a política monetária do Brasil.
“Com a entrada de novos membros, o bloco pode pressionar por uma maior utilização de moedas locais nas transações comerciais entre os países membros, reduzindo a dependência do dólar americano. Isso poderia impactar a política de câmbio do Brasil e até mesmo influenciar decisões sobre reservas cambiais e a política de juros”, explicou Vasconcellos.
Felipe afirma ainda que um afastamento excessivo do sistema financeiro ocidental poderia desestabilizar a economia brasileira, afetando a confiança dos investidores e resultando em maior volatilidade nos mercados. O especialista destacou, porém, que essa transição não é tão simples, visto que o dólar é dominante no cenário internacional.
Por meio de videoconferência, Lula defendeu a adoção de uma moeda alternativa ao dólar para comércio entre os países do bloco. Segundo o presidente, essa seria uma forma de garantir que a “ordem multipolar” que os Brics desejam também aconteça no sistema financeiro internacional.
“A mudança, se bem-sucedida, poderia abrir novas oportunidades de exportação para mercados como China e Índia. No entanto, essa diversificação exige uma infraestrutura robusta e políticas comerciais que favoreçam o Brasil em meio à competição com outros países emergentes”. Além disso, o Brasil precisaria equilibrar cuidadosamente suas relações com os EUA”, sinalizou Felipe Vasconcellos.