Na noite desta quarta-feira (6) o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) elevou a Selic (taxa básica de juros) em 0,50 p.p. o que já era previsto pelo mercado. Especialistas reiteraram a sinalização do comunicado, de que o cenário desafiador e a inflação acima do teto não deixa outra opção além de aumentar a taxa.
Com a elevação atual, a Selic chegou a 11,25% ao ano. Na última reunião do Copom, em setembro, a expectativa era de que o ritmo seguisse em aumentos de 0,25 p.p. o que levaria a taxa ao patamar atual apenas na reunião de dezembro.
Contudo, as demonstrações de que o controle da inflação ainda está longe de ser alcançado e a economia brasileira segue aquecida, com o câmbio também exercendo sua influência pela forte desvalorização do real, fizeram as apostas mudarem de rumo.
Na avaliação de Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, o tom do comunicado do Copom foi neutro, em linha com os argumentos apresentados em setembro.
“A atividade econômica do país está resiliente, o mercado de trabalho robusto, e a inflação corrente está acima do teto da meta, o que mostra ali uma preocupação com a desancoragem da inflação futura e continua sinalizando, na minha visão, que eles estão analisando muito de perto a questão fiscal para a tomada de decisão”, disse.
Para o estrategista, essa decisão não deve fazer grande preço na abertura do mercado acionário na quinta-feira (7).
“Acredito que um eventual anúncio de um pacote de gastos com mais detalhes pelo governo possa sim fazer um preço muito maior. Então acredito que isso não será um gatilho para a bolsa no amanhã”, finalizou.
Já para Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, o comunicado foi “hawkish” – ou seja, um tom mais duro – visando a ancoragem da inflação no médio prazo, mas também com um horizonte de 2026 no radar.
Um dos fatores a ser considerado, segundo o especialista, é a vitória de Donald Trump como novo presidente dos EUA, por conta do perfil expansionista do político, que deve acelerar gastos e fortalecer o dólar perante as demais moedas.
“Temos um BC com postura técnica e precisa, sem dúvida, sendo uma das luzes para a nossa economia, pois apesar de dar um remédio amargo via juros, está fazendo o necessário para o país com base em dados técnicos. Não por acaso o nosso BC foi eleito o melhor do mundo”, enfatizou Alves.
Na visão do economista Bruno Corano, não resta nenhuma outra alternativa ao Copom, do Banco Central, que não seja subir os juros no Brasil. “É um remédio amargo, mas o único possível para contrabalancear a ineficiência fiscal do Brasil”, completou.
“O desequilíbrio cambial é fruto do desequilíbrio fiscal, da falta de austeridade em relação às contas, as quais estão colocando o Brasil num caminho muito perigoso e com destino certo de consequências muito ruins”, afirmou o economista.
Decisão do Copom favorece investimentos em renda fixa
Voltando-se para outros investimentos além das ações, especialistas reforçaram que os produtos de renda fixa tendem a ganhar e se tornarem mais atrativos com esse aumento da Selic.
“Com a taxa mais alta, os rendimentos desses ativos crescem, enquanto os ativos de renda variável podem ser negativamente impactados, já que investidores tendem a migrar para a renda fixa em busca de menores riscos e retornos mais competitivos”, disse Leandro Ormond, analista da Aware Investments.
Apesar das expectativas de juros mais altos no futuro gerarem uma marcação negativa nos ativos em carteira, segundo Ormond, essa pode ser uma boa ocasião para avaliar emissores e taxas, aproveitando a chance de adquirir títulos com condições atrativas.
O aporte na renda fixa brasileira se torna mais atraente também para os estrangeiros, explicou Márcio Saito, CFO Entrepay, o que, no final das contas, pode aumentar a entrada de recursos no País e valorizar o real frente ao dólar.
“No entanto, esse movimento também tem implicações no mercado interno. Uma Selic mais alta encarece o crédito para empresas e consumidores, impactando diretamente o consumo e os investimentos das companhias locais”, comentou Saito.
No curto prazo, o crescimento que a economia vem demonstrando pode desacelerar, visto que os setores que dependem de financiamento, como o varejo e a construção civil, tendem a sentir mais forte os efeitos.