A Ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta terça-feira (12), veio com tom mais hawkish, após comunicado avaliado como ‘neutro’ por especialistas. Entre os principais pontos de atenção, destaca-se a enfâse no desafio da estabilização da dívida pública brasileira.
“Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos”, destacou a Ata.
“Políticas monetária e fiscal contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”, completou.
De acordo com o economista Maykon Douglas, o documento deixou claro, portanto, que o desafio em questão vai além de “apenas” garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal.
O economista chamou atenção ainda para uma mudança na parte sobre a inflação de curto prazo. “Nela, o cenário ‘se mostra mais desafiador’ em razão dos preços dos alimentos e do efeito cambial sobre os preços industriais. O que se soma a outros drivers de incerteza, como o hiato positivo, o mercado de trabalho apertado e a desancoragem das expectativas de inflação”, disse Maykon Douglas.
Em relação ao ambiente externo, a Ata do Copom destacou a permanência do cenário desafiador, com enfase para a “conjuntura econômica incerta nos EUA, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed”.
O documento frisou ainda que a menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países ao redor do mundo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Juros devem subir 0,50 p.p novamente
Para Leonardo Costa, economista do ASA, a expectativa é de mais uma alta de 0,50 p.p na próxima reunião do Copom, em dezembro, com risco de que o ritmo acelere para 0,75 p.p.
“A ata argumenta sobre o possível impacto da política fiscal nas variáveis macroeconômicas, com implicação de juro neutro mais elevado. Além disso, seguem reforçando a necessidade de queda nas expectativas de inflação, o que sugere juro elevado por mais tempo”, justificou Leonardo.
Maykon Douglas também aposta na continuação do ciclo de altas de 0,50 p.p. “Como de costume, deixaram a porta aberta sobre os próximos passos e a depender dos dados. Portanto, caso o cenário continue a piorar, principalmente o fiscal e o cambial, eles podem ser levados a acelerar mais uma vez o ritmo de alta”, disse.