De olho no verão

Tropicool, marca global de açaí, mira expansão de franquias no Brasil

A Tropicool, criada por sócios brasileiros e arábes, chegou ao Brasil após 4 anos de operações em outros países do mundo; o head global da marca, Rafael Prado, falou sobre os planos do negócio ao BP Money

Xeique Mohammed Al Thani, um dos sócios da Tropicool e Rafael Prado, head global da empresa / Foto: Divulgação
Xeique Mohammed Al Thani, um dos sócios da Tropicool e Rafael Prado, head global da empresa / Foto: Divulgação

A sensação de refresco e prazer que um açaí gelado pode proporcionar já é conhecida pelos brasileiros – mesmo entre os que acreditam que o sorvete lembra um sabor terroso. Por ser um produto nacional, é comum que as fabricantes vejam a expansão para fora do Brasil como um segundo passo, mas não é o caso da Tropicool, uma marca que internacionalizou o açaí antes mesmo de operar no País, cujo DNA tem ligação, inclusive, com a família real do Catar.

As operações da Tropicool chegaram ao Brasil este ano, com três lojas nos bairros da Consolação, Pinheiros e Vila Olímpia, em São Paulo, e tem planos de alcançar até 100 lojas pelo País em 3 anos. Voltando um pouco no tempo, para 2020 quando a marca foi criada, para superar o desafio da pandemia, a empresa começou sua primeira operação nos hotéis em Dubai, começando pelo Dubai Mall e chegando a outros empreendimentos como o Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo.

A ligação com o Oriente Médio esteve presente desde a ideia de criar a marca, quando Mohammed Al Thani – conhecido como Moe, membro da família real do Catar – presenteou seu amigo Caio Nabuco com um pote de açaí congelado. Na época, ambos eram colegas na Harvard Business School, e as questões logísticas de demora na exportação e o estado em que o produto chegava para consumo (congelado) levou Nabuco e Moe a se juntarem em uma sociedade com Maurício Esteves e Ahmed Al Thani, irmão de Moe, na criação da empresa.

Esse problema logístico foi resolvido “na largada” das operações, porque a Tropicool desenvolveu seu açaí com uma base asséptica que é comercializada líquida, tanto em tetrapak quanto em bag-in-box. Sendo assim, tudo que o empreendedor franqueado da marca precisa fazer é pôr o produto na máquina de sorvete para extrair o creme, foi o que explicou Rafael Prado, , head global da empresa, em entrevista ao BP Money.

“Trazer a Tropicool para cá tem um quê de orgulho, por ser uma marca que nasceu global e retornou ao Brasil. O desafio era trazer para cá e dar certo, mas temos tido excelentes feedbacks nas lojas”, disse Prado.

Quanto aos tipos de operações que a marca oferece aos interessados na franquia, Prado ressaltou que dentre todos os modelos, a ideia principal é encontrar o melhor mix para maximizar o impacto e a força da Tropicool em diferentes locais. Esse formato ajuda a ampliar a visibilidade e a força da empresa em diferentes contextos. 

Além disso, o executivo afirmou que o desempenho de cada modelo depende também do tamanho e das características da cidade onde será iniciada a operação, algo que tem que ser levado em conta nas estratégias.  

“Salvador, por exemplo, trabalha muito bem com o shopping center. Acredito que o quiosque aberto no Shopping Salvador, ou no Shopping da Bahia é um ponto de largada, mas uma loja de rua de repente no [bairro do] Itaigara ou na Barra vai trazer experiência completa da marca. O consumidor poderia entrar, vai ver mais do storytelling, isso conecta mais”, explicou Prado.

A Tropicool já foi eleita duas vezes consecutivas como a melhor fabricante de açaí do mundo pela Taste Award, de Bruxelas, capital da Bélgica. Atualmente, o jogador do Al-Hilal Neymar Jr é o embaixador global da marca. 

Na definição de Prado, o que diferencia a empresa de outras que trabalham com açaí é o atendimento nas lojas, a experiência do cliente e o fato da marca variar nos sabores, não trabalhando apenas com o fruto roxo da Amazônia.

Confira a entrevista na íntegra:

A empresa nasceu no exterior como resposta aos problemas logísticos de quem mora em outro país e quer provar o açaí. Mas então, ao trazer a empresa ao Brasil, quais foram os principais desafios? Quais foram solucionados e quais persistem?

Começamos a operar em 2020, a Tropicool foi criada para ser global, apesar de ser a marca com os sócios brasileiros e árabes. A primeira operação aconteceu em Dubai, no Dubai Mall, em janeiro, já pensando nesta exposição para consumidores de várias culturas exigentes.

Solucionamos uma questão logística desde o começo, porque o açaí, via de regra, está congelado [para ser comercializado]. Nós desenvolvemos o açaí com uma base asséptica, então ele vai líquido, tanto em tetrapack quanto em bag-in-box, 4 litros, a pessoas abre, coloca na máquina de sorvete e tem ali o creme. 

Então, selecionamos a logística na largada, porém, não imaginávamos que em fevereiro chegaria a pandemia. Então, tivemos que respirar e refazer a operação, começando a trabalhar com os hotéis em Dubai, não dava para ficar abrindo loja e franquia naquela época, na crise de 2020. 

Pela qualidade do produto, superior para que o mercado está consumado, quanto a que ganhamos dois prêmios seguidos com chefes Michelin na Europa, 2023 e 2024 também, conseguimos bater nas portas os hotéis principais, por Seasons, Hilton, Bulgari, e fomos muito bem aceitos, então a operação começou a crescer e ter muita visibilidade.

A operação começou no exterior e a marca ganhou uma complexidade logística para vários mercados. No final do ano passado, vieram nossos atuais sócios aqui no Brasil, e perguntaram se queríamos trazer a operação para cá. Esses sócios, já tem outros negócios de franquia, então eles já tem expertise em montar e desenvolver essa expansão. 

Trazer a Tropicool para cá tem um quê de orgulho, por ser uma marca que nasceu global e retornou ao Brasil. O desafio era trazer para cá e dar certo, mas temos tido excelentes feedbacks nas lojas. A Tropicool não é apenas açaí, temos outros sabores, sempre em uma loja aconchegante, temos também o Neymar, que é o nosso embaixador, ele é o brasileiro, eu arriscaria dizer, mais conhecido hoje vivo, fora do Brasil.

No mercado brasileiro o tipo de produto da Tropicool não é necessariamente novo, então quais os diferenciais e estratégias em que a marca tem apostado para seguir se expandindo?

Estamos falando de um produto que o brasileiro já conhece, mas se fossemos pegar assim como tantos outros [produtos e negócios] que o Brasil tem… então, acreditamos sempre que todo o mercado tem um espaço, independente da quantidade de competidores, você tem que trazer uma diferenciação.

A Tropicool se diferencia no atendimento, na experiência do cliente, nessa questão de não ser só um sabor, então, temos um fluxo de inovação de sabores muito fortes. Outra coisa que trazemos é a parte de comunicação e branding, por essa ser uma marca brasileira que está no mundo e vive também aquele orgulho do Brasil.

Isso tudo estou falando além das premiações. O consumidor está testando um produto que já é querido, inclusive, com chefes renomados na Europa e em Munda Fora. Isso vale muito para o consumidor. 

A empresa começou a atuação no Brasil no formato de franquias. Por que esse modelo parece ser o melhor e qual foi o investimento necessário para iniciar as operações aqui?

Fizemos alguns testes de produtos, geralmente, quando vamos com a operação para um país novo, fazemos isso para pegar feedbacks, mas escolhemos franquias pela capacidade de escalar o negócio.

Hoje, inclusive, na visão do investidor, falamos: “junto com a Tropicool, você vai participar de um clube seleto para ter um investimento com um retorno acima da média”. Então, a Tropicool traz um ano de negócio muito simples. Temos três modelos de loja, que são o carrinho, os quiosques (aberto e fechado) e a loja de rua, com investimentos que partem de R$ 190 mil, podendo chegar a R$ 300 mil na estrutura da loja.

E por que é um clube? Porque ele está falando que aquele investidor que está a fim de abrir um negócio, na franquia, a gente tem toda a expertise de treinamentos, de suporte e marketing de receitas, logística, operação. Então, ele já está comprando um negócio mais seguro. Com todos os manuais montados e o suporte pronto.

Depois, temos um negócio que já se provou, que já tem loja aberta no mundo todo, pelo menos em dez países, e com retorno também, bem interessante. Estamos falando de um payback aqui, conservador, de 24 meses aqui para o Brasil. Acreditamos em 18, mas acho que é seguro 24 meses.

Este é um plano de expansão também para os três anos iniciais de abrir 100 lojas aqui no Brasil. Algo que acredito que já no segundo ano conseguimos chegar nesse número. Justamente porque o empreendedor não está disputando uma franquia que tem que montar uma cozinha grande, que tem que investir R$ 600 mil às vezes R$ 1 milhão. 

Sobre o futuro da marca, não apenas no Brasil, mas no mundo, vocês têm investido em novos produtos. O que se pode esperar dos novos lançamentos?

Ganhamos um prêmio em 2023 de melhor franquia internacional do Brasil, pelo sistema que montamos em expansão. E hoje estamos em negociação, além desses 10 mercados, com pelo menos outros 12 mercados.

A Tropicool Board já em 2025 pretende pelo menos dobrar a quantidade de mercados que a gente atua. Assinamos, há um mês, um contrato de mais de um franqueado para Europa, onde o investidor pegou Itália, Alemanha, Espanha, França e Andorra, ele vai começar a abrir lojas já em fevereiro de 2025, nos meses seguintes, março e abril já vão ter aberturas desses países todos.

Espanha vem forte, França vem forte. Estamos chegando ao Oriente Médio para consolidar a marca, já que foi onde começamos. Então, tudo isso está ocorrendo em paralelo.

Esses são os planos da marca, que continuam a expandir, mas também a solidificar as operações dos mercados em que já começamos. Em relação a lançamentos, temos um novo sabor que deve ficar pronto em fevereiro, que são: frutas vermelhas, com base vegana também. 

A Tropicool tem um aplicativo de treinamento, como funciona, o que ele oferece e quem pode ter acesso?

Quando você se torna um franqueado de uma marca o normal ainda é você receber manuais. Então o franqueado vai te dar um manual de arquitetura. Tem vários modelos de manuais, monta-loja, design, projetos de arquitetura, manual de marketing, às vezes vem até digital e o manual de operações que é super sensível.

[O investidor pensa] “poxa, como é que eu vou operar o meu negócio? Quantos contratados eu vou ter? Quais horário eu abro a loja? Qual é a rotina que eu tenho que fazer na loja? Como são as receitas?”.

Para facilitar colocamos tudo dentro de um aplicativo, que é o app Tropicool, depois vai ver a Universidade Tropicool, com um suporte mais amplo ao franqueado, onde ele conseguirá, por exemplo, colocar lá “como é que eu faço um bolo tradicional?”.

O app vai mostrar quais os ingredientes, em que ordens tem que misturar, como tem que bater, como tem que servir. Então está tudo digitalizado. Outra coisa legal, quando uma empresa franqueadora lança uma receita nova, ela tem que comunicar os franqueados às por e-mail.

Agora, colocamos no app e o franqueado já recebe uma nova receita disponível. Ele vai abrir e ter um treinamento em vídeo aula com nosso chef. Digitalizando conseguimos escalar e dar velocidade à informação também. Então o treinamento, as receitas, até a execução no ponto de venda em relação à abertura do cliente e a parte de marketing conseguimos colocar no aplicativo. 

Pode explicar mais sobre a ideia da Universidade de Tropicool?

Eu gosto de falar de sonhos. Por enquanto isso não existe ainda, mas imagina o seguinte: quando fazemos um app há a gestão do conteúdo para passar informações de forma organizada para a comunidade da Tropicool.

Então, à medida que formos aumentando a complexidade das informações, teremos um app para fazer isso. Estamos pensando em uma coisa adiante que seria a universidade por franquia. Depois as pessoas podem, cada um em sua casa, já que tudo é online, fazer o curso o tempo inteiro. 

O termo universidade ele quer dizer o que? Que você pode gerar conhecimento, conseguir se preparar. Novamente sobre os diferenciais, um dos grandes diferenciais é a experiência e ela só se faz com atendimento, com conteúdo chegando a quem está operando.

Agora, no quesito ESG, como é que a empresa tem trabalhado a governança sustentável e de que forma tem retribuído à região amazônica após a extração do açaí?

Quando criamos o brand da marca, o ESG veio como um pilar, ele já está no DNA. Decidimos criar algo para contabilizar 10 litros que vendêssemos para gerar um crédito de árvore para ser plantada na Floresta Amazônica.

Como fazemos isso? Com um parceiro sério, então fizemos uma parceria com a ONG SOS Amazônica, uma instituição que tem 120 mil hectares de florestas abonadas e conservadas, além de 1,3 milhão de árvores plantadas e 5,500 famílias beneficiadas. Até filhotes ela contabiliza, quantos filhotes ela devolveu à natureza.

Através deles conseguimos direcionar todo esse apoio ao meio ambiente e à comunidade local. Como o açaí vem da Amazônia, majoritariamente, esse plantio acontece de pouco a pouco em outras regiões, mas sobretudo lá.

Fizemos, inclusive, uma expedição, pensando transformar isso em um produto para os nossos investidores internacionais. [Queremos] trazê-los para cá para que eles também possam contribuir. Esse é o nosso sonho.

Por enquanto, estamos trazendo as pessoas da equipe primeiro, trouxemos os sócios árabes, xeiques da família real do Catar e de Charger, que é um dos emirados árabes. [Deve ter sido] o primeiro xeique que pisou no Acre, em Cruzeiro do Sul, para visitar as comunidades, uma tribo indígena. Isso tudo já vai gerando impacto, queremos mais à frente trazer um público maior para participar disso.