Os Fiagros (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) atingiram patrimônio líquido de R$ 41,96 bilhões ao fim do terceiro trimestre deste ano, um crescimento mensal de 13% e de 124,3% em 12 meses, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
O destaque do período ficou por conta dos fundos que investem em direitos creditórios (Fiagro-FIDC), que alcançaram 45% do total, superando pela primeira vez os produtos que alocam em ativos do mercado imobiliário (Fiagro-FII), que respondem por 43%.
Segundo o Boletim, a maioria dos Fiagros (63%) tem entre 2 mil e 5 mil cotistas, sendo que 12 produtos já alcançaram a faixa dos 15 mil investidores.
O volume financeiro do agronegócio também cresceu no mercado de capitais como um todo, com alta de 22,7% em 12 meses, contra 6% de evolução do todo.
Nova regra dos Fiagros pode ser ‘luz no fim do túnel’ do setor
As crises que se estendem entre os segmentos econômicos nacionais chegaram ao agronegócio em linhas diversas. Dentro do mercado financeiro, uma novidade aprovada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pode atrair e diversificar os investimentos desse setor através dos Fiagros (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).
Entre os especialistas consultados pelo BP Money, foi consenso que os Fiagros multimercado além de dinamizarem a gestão e os retornos, podem tornar mais acessível a diversificação dos ativos do agronegócio, como títulos de crédito e ações.
O órgão regulador do mercado financeiro brasileiro editou, no final de setembro, a Resolução 214, que regulamenta especificamente os Fiagros Multimercados. Esta era uma das novas normas mais aguardadas pelos agentes financeiros na agenda da CVM.
A norma substitui a Resolução CVM 39, de 2021, que tinha caráter experimental. O intuito dessa edição é facilitar o acesso dos produtores rurais e empresas do setor agroindustrial ao mercado de capitais, para que captem recursos com mais eficiência, explicou Fernando Kuyven, sócio do MKR Advogados.
“Além disso, os Fiagros tornam-se uma opção atraente pela introdução de benefícios fiscais, como a isenção, em determinadas circunstâncias, do imposto de renda sobre os rendimentos distribuídos para pessoas físicas”, pontuou Kuyven.
Com a substituição da estrutura segmentada pelo modelo “multimercado” os gestores terão a liberdade para criar estratégias personalizadas, disse Deisy Vanessa Novais Granado, advogada do Luchesi Advogados, combinando diferentes classes de ativos do agronegócio em um único fundo.
“Dessa forma, será possível não apenas ampliar as possibilidades de retorno, mas também fazer uma gestão otimizada de riscos, adaptando os portfólios às diferentes conjunturas do mercado”, prosseguiu Granado.
A Resolução 214 da CVM começará a valer a partir de 3 de março de 2025. Os Fiagros já existentes terão até 30 de junho de 2025 para se adequar às novas normas.
“Isso [a mudança] pode atrair novos investidores, aumentando a liquidez e eficiência do setor, além de fortalecer cadeias produtivas ao facilitar o acesso ao capital”, respondeu Vanessa Leone, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital.
Contudo, mesmo que nova Resolução da CVM torne essa categoria de fundos mais atraente para investidores em busca de oportunidades resilientes, ainda há alguns riscos.
“A diversificação pode complicar a gestão dos Fiagros, exigindo gestores mais capacitados. Há o risco de investimentos em ativos de alto risco e a possibilidade de saturação do mercado, o que pode diluir retornos. Além disso, a percepção negativa do setor agrícola pode desencorajar investidores, independentemente das inovações”, comentou Leone.