Represália

Carrefour (CRFB3): efeito do boicote não deve ter força a longo prazo

A polêmica começou quando o CEO global da Carrefour afirmou que as mercadorias do Mercosul não cumprem “requisitos e padrões”

Foto: Divulgação/Carrefour
Foto: Divulgação/Carrefour

O radar corporativo do mercado financeiro repercutiu na sessão de segunda-feira (25) o boicote dos frigoríficos brasileiros à Carrefour (CRFB3). No entanto, especialistas foram unânimes na avaliação de que o assunto não deve render muitas perdas à empresa no longo prazo.

A polêmica em torno da varejista francesa começou logo na quarta-feira (20), quando o CEO, Alexandre Bompard, questionou a qualidade da carne comercializada pelo Mercosul, afirmando que as mercadorias não cumprem “requisitos e padrões”. Em comunicado, ele afirmou que a Carrefour se comprometeu a não vender mais as proteínas.

Com isso, associações e frigoríficos do Brasil se uniram para rechaçar as declarações e cortar o fornecimento de carne à varejista. A JBS (JBSS3), através da marca Friboi, que corresponde a 80% das carnes vendidas pela varejista, interrompeu o fornecimento da proteína ainda na quinta-feira (21). 

Em seguida, na sexta-feira (22), foi a vez da Masterboi suspender o comércio de 250 toneladas de carne para a empresa.

Porém, na avaliação de Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, mesmo gerando impacto ele seria mais direcionado à imagem da empresa do que propriamente ao pilar financeiro do negócio.

“Ainda assim, a situação pode pressionar os resultados financeiros, com possíveis quedas no faturamento e impacto negativo na percepção dos investidores. A reação do mercado dependerá da forma como o Carrefour administrará a crise para minimizar danos à sua reputação e operação”, disse.

Na sessão da véspera, as ações ordinárias do Carrefour fecharam com alta de 1,05%, a R$ 6,71, ao passo que o Ibovespa, principal índice acionário do País, fechou com baixa de 0,07% aos 129.036 pontos.

O efeito midiático também foi reforçado por George Sales, Coordenador do Mestrado Profissional em Controladoria e Finanças da Faculdade FIPECAFI. Para ele, o maior impacto do boicote ao mercado brasileiro seria no câmbio.

“Com câmbio alto, em tese a nossa carne fica barata para exportação e isso acaba pesando internamente nos preços, então acho que o problema maior está no câmbio, não está nem nessas questões de boicote direcionado ou regional”, afirmou o especialista em finanças.

Com a decisão de interromper o fornecimento de carne à varejista francesa, a própria Carrefour Brasil afirmou que esse boicote impacta seus clientes no país.

“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, afirmou o Carrefour Brasil em comunicado.

A empresa citou que está em busca de “soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”.

Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, frisou que o Brasil é um mercado estratégico para a companhia, pois sua base de operações internas é grande.

“A interrupção no fornecimento de carne afeta diretamente as prateleiras e a experiência do consumidor, o que pode prejudicar as vendas e, consequentemente, a percepção de investidores sobre a estabilidade operacional da rede no país”, comentou Monteiro.

Com a busca por novos fornecedores e o possível desgaste da marca junto a consumidores e parceiros, as ações do Carrefour podem enfrentar mais volatilidade no curto prazo, por conta do aumento de custos operacionais resultante desses movimentos.

“No entanto, considerando as fortes conexões políticas entre grandes fornecedores de carne e o governo brasileiro, é provável que esse impasse seja resolvido rapidamente. Uma solução negociada não apenas normaliza as operações, mas também poderia restaurar a confiança dos investidores”, disse o CEO do Grupo Studio.

Sidney Lima reforçou que o boicote pode prejudicar os próprios fornecedores, visto que diversos frigoríficos têm alta dependência das vendas ligadas à rede francesa no Brasil.

Já George Sales apresentou uma visão de equilíbrio para o futuro dos frigoríficos da América do Sul, considerando que a questão protecionista aconteça efetivamente e perdure na Europa. Para ele, o impacto pode vir no primeiro momento, mas “esse mercado se ajusta e vai para outras localidades”.

“Consumidor de proteína animal no mundo inteiro tem e o Brasil tem o produto para distribuir”, frisou.