Os dados de desemprego mostrados pela PNAD Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nesta sexta-feira (29), mostram que o emprego no Brasil segue surpreendendo, mas é ponto de cautela para política monetária, avaliam analistas.
A taxa de desocupação, de 6,2% no trimestre encerrado em outubro, é a é a menor da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. “Isso indica claramente que, para o final do ano, temos uma boa expectativa para o comércio e o consumo, com mais pessoas no mercado de trabalho”, comenta o economista e professor da Faculdade do Comércio Denis Medina.
No entanto, o economista independente Maykon Douglas lembra que o resultado é positivo, mas pode representar um desafio monetário. “O emprego continua sendo um dos vários fatores de cautela para a condução da política monetária”, afirma.
“As pressões no mercado de trabalho e da atividade como um todo vêm em linha com a avaliação do BC de que o hiato do produto agora é positivo, ou seja, a economia está em um nível acima do potencial. Isto tende a pressionar a inflação, o que, somado a outros fatores, exige mais juros“, detalha o analista.
Além do emprego, o rendimento real habitual de todos os trabalhos (R$ 3.255) ficou estável no trimestre e cresceu 3,9% no ano. Por sua vez, os salários médios efetivamente recebidos subiram 0,4%, com ajuste sazonal calculado por Douglas, e a massa de rendimentos (ganhos de todos os trabalhos somados) cresceu 0,7%.
“Começamos a ver uma perda de ritmo do fator salário nos últimos meses, quando comparamos a períodos anteriores. Mas são bons números”, opina o analista.
“O rendimento médio ficou estável, mas mostra mais pessoas entrando dentro da média”, afirma Medina. Segundo ele, esse número deve voltar a crescer no início de 2025, com reajustes salariais e atualização do salario mínimo.
Já a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) no trimestre de agosto a outubro chegou a 110,4 milhões de pessoas, novo recorde da série histórica, crescendo nas duas comparações: 0,9% (mais 989 mil pessoas) frente ao trimestre de abril a junho de 2024 e 1,8% (mais 2,0 milhões de pessoas) ante o mesmo trimestre móvel de 2023.
O número mostra um forte crescimento, diz Medina. “Nos últimos três anos a gente cresceu praticamente 10% em força de trabalho, isso é fundamental para o crescimento do país: que a gente tenha mais pessoas trabalhando ou dispostas a trabalhar”, comenta o economista.
“Os fatores salário e emprego voltaram a explicar, juntos, o desempenho da massa salarial, visto que o primeiro veio negativo na leitura passada”, conclui Douglas.
Aumento da informalidade preocupa, mas pode ser mitigado com isenção de IR
Mesmo que a ocupação siga puxada pelo emprego formal, a taxa de informalidade foi de 38,9% da população ocupada (ou 40,3 milhões de trabalhadores informais), contra 38,7 % (ou 39,4 milhões) no trimestre encerrado em julho. Com ajuste sazonal, calculado por Douglas, a alta foi de 0,6%, o que mostra uma alta mais forte.
Para Medina, isso pode demonstrar preferências tanto de empresas quanto de funcionários em manter o trabalho na informalidade. Uma das razões para isso é a de contornar a cobrança de impostos, especialmente sobre salários mais altos.
Dessa forma, a isenção do IR (imposto de renda) para salários abaixo de R$ 5 mil, anunciada pelo governo nesta quarta-feira (27), pode fazer com que a informalidade diminua no país, de acordo com o professor.
PNAD mostrou resultados de emprego melhores que o Caged
Por sua vez, o resultado do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de outubro, divulgado na última quarta-feira (27), mostrou uma redução na criação de vagas com carteira assinada. No mês, o saldo ficou positivo em 132.714 vagas.
“Os dados da PNAD foram um pouco melhores do que os registrados pelo Caged, apresentando crescimento estável da população ocupada nos últimos meses”, avalia o economista da ASA Investments Leonardo Costa.
O resultado mais fraco do Caged em outubro foi explicado pelo aumento das demissões, com as contratações em nível ainda elevado. Destacam-se as desacelerações no grupo de serviços, seguido pelo esfriamento na construção civil e na indústria de transformação.
Para Costa, esses primeiros dados do quarto trimestre do ano indicam continuidade do processo de desaceleração da atividade doméstica, o que está em linha com a projeção da ASA de PIB mais fraco no final de 2024.