Após renovar a máxima histórica na véspera, chegando aos R$ 6, o dólar segue em disparada nesta sexta-feira (29). Às 10h45 (horário de Brasília), a moeda norte-americana bateu R$ 6,1040, em alta de 1,47%.
Especialistas consultados pelo BP Money atribuíram ao pacote fiscal a culpa pela subida da moeda. Segundo eles, ao focar em isenções e taxação quando o cenário exige medidas de corte de gastos, o governo aumentou a desconfiança do mercado em relação ao fiscal.
“Sem medidas claras que reforcem o compromisso com o equilíbrio fiscal e que gerem confiança, a tendência é que o mercado continue a precificar um cenário de risco elevado, o que torna ainda mais desafiadora a recuperação econômica das empresas no país”, disse João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
Analistas do mercado destacaram ainda que a alta do dólar reflete um cenário global de incertezas, o impacto das decisões de política monetária nos EUA e a vitória de Donald Trump – que pode impactar o ciclo de redução das taxas de juros americanas.
“As políticas protecionistas e potencialmente inflacionárias de Donald Trump exigirão maior cautela do Fed na condução do seu processo de afrouxamento monetário. Isso gera um efeito cascata para outros países desenvolvidos uma vez que os juros americanos costumam servir de base para suas respectivas políticas de juros”, disse Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital.
Dólar quase R$ 6: exportadores ganham, mas danos se alastram na Bolsa
O mercado financeiro brasileiro viveu momentos históricos na quinta-feira (28), quando o dólar bateu a marca inédita de R$ 6. O número foi mais um no quadro quase inteiramente vermelho que se tornou o Ibovespa na sessão, menos pelos papéis de exportadores, que tendem a ser aqueles a ganhar nesse cenário.
O recorde do dólar, que é extremamente negativo para a economia nacional, reflete a corrosão do resquício de confiança que os investidores tinham no compromisso do governo em criar uma limitação para o crescimento das despesas.
O analista de ações da Skopos Investimentos, Pietro Tortoreli, explicou ser difícil, no momento, visualizar gatilhos positivos ou alguma valorização expressiva do real até o final do ano.
“Nesse sentido, uma característica importante das empresas exportadoras é a proteção a eventuais desvalorizações da moeda, visto que estas possuem receita dolarizada”, afirmou.
Companhias como a Vale (VALE3), Suzano (SUZB4) e Klabin (KLBN4), cujos produtos são cotados e negociados em dólar, deverão ser os beneficiários do ritmo imposto ao câmbio, “oferecendo certa proteção aos investidores”.
Já na visão de Jeff Patzlaff, especialista em mercado de capitais e Planejador Financeiro CFP, uma exposição a setores como o Agro (que se beneficia do dólar mais alto), neste momento pode permitir lucros adicionais nas carteiras.
As avaliações se confirmam pelo fato de exportadores como a JBS (JBSS3), Suzano (SUZB4) e SLC Agrícola (SLCE3) terem fechado com as maiores altas da sessão de véspera, enquanto a maioria dos papéis recuaram.
Acompanhando a moeda brasileira em seu pior momento, o Ibovespa também teve um grande retrocesso a níveis não vistos há mais de 4 meses, caindo 2,40% no fim do pregão, aos 124.610 pontos.
Tortoreli reiterou ainda, que as empresas brasileiras desses segmentos também têm a seu favor a competitividade global.
“Independente do desarranjo da economia local, as vantagens competitivas em seus devidos setores permanecem intactas. No ramo da mineração e do agronegócio, incluindo a indústria de papel e celulose, as empresas brasileiras são líderes globais reconhecidas”, frisou.