Postura mais rígida

Tom duro e novas altas: Copom indica Selic a 14,25% a.a.

O Copom comunicou sua decisão sobre a trajetória da Selic nesta quarta-feira (12) e já deixou claro qual será a postura adotada a partir de 2025

BC do Brasil
Banco Central do Brasil/ Foto: Rodrigo Oliveir

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu nesta quarta-feira (11) elevar a Selic (taxa básica de juros) em 1 ponto percentual, o que levou a taxa a 12,25% ao ano. A alta já era projetada por alguns especialistas, mas o comunicado evidenciou um tom ainda mais duro, com o horizonte a médio prazo fechando o ciclo de aperto monetário em 14,25%. 

Observando a dinâmica da pressão inflacionária, cujos números do acumulado de 12 meses já rompeu o teto em 4,87%, o principal destaque do comunicado do Copom foi a indicação de que as próximas reuniões devem ter apertos monetários “da mesma magnitude” – ou seja, outras 2 altas de 1 p.p.

“O comunicado também fez referência à conjuntura econômica dos EUA e aos esforços dos bancos centrais mundiais em arrefecer a inflação. Por isso, há sinais de que a Selic tende a fechar 2025 em 14% ou acima, freando o crescimento do PIB”, projetou Alexandre Dellamura, head de conteúdo da Melver e mestre em economia.

O economista também apontou que devido à insegurança com o lado fiscal do Brasil, mesmo com o recente pacote de contenção de gastos públicos anunciado pelo governo federal, cortes da Selic devem ser esperados apenas para 2026.

Na avaliação de Marcelo Bolzan, CGA, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, uma outra diferença importante para os antigos comunicados foi a projeção da inflação no horizonte relevante – isto é, no 2º semestre de 2026 – que já tem estimativas de 4%, ainda acima da meta de 3% da autarquia.

“Comunicado deixa bem claro aqui que a dinâmica inflacionária está mais adversa. E esse cenário atual é marcado por uma desancoragem adicional das expectativas de inflação, então veio com um tom mais pesado aqui”, disse Bolzan.

Os analistas seguem atentos a como o mercado financeiro deve receber essa notícia na sessão de quinta-feira (12). Para o sócio da The Hill Capital, a repercussão deve ser positiva. Já o planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, Idean Alves, indicou que a Bolsa brasileira deve abrir em queda por conta dos juros futuros.

Copom sob Galípolo ainda é incógnita

Esta reunião do Copom foi a última sob a chefia de Roberto Campos Neto, cujo mandato encerra em 31 de dezembro e será sucedido pelo indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo.

Na visão de Idean Alves, se a inflação permitir, nas próximas reuniões sob o comando de Galípolo, deve-se observar um Copom com menos apetite à alta de juros.

“Penso que há uma grande interrogação se Galípolo vai manter o pulso firme assim como Campos Neto, mas a história recente da década passada, e do pós-pandemia mostra que a inflação é o inimigo global do século até aqui, e que se não for combatida com o remédio amargo da alta de juros”, afirmou. 

A decisão do comitê foi acertada, segundo Alexandre Espirito Santo, coordenador de economia e finanças da ESPM, e teve influência também do estresse que tomou o mercado financeiro nas últimas semanas e mexeu com variáveis relevantes para a inflação, como o dólar, que chegou a R$ 6,00.

“Nossa leitura é de que o documento foi bastante “duro”, com um guidance explícito de pelo menos mais 2,0 p.p., o que levará a Selic para 14,25% a.a. Não temos dúvidas que o Copom age corretamente ao ser mais hawkish agora”, reiterou.

Em paralelo a isso, as atenções sobre a atuação do Copom também passarão a captar, a partir de janeiro, quando começa o mandato de Galípolo, se a autarquia de fato mostrará autonomia para perseguir a meta inflacionária, como fincou subentendido no comunicado.

Efeitos da Selic

Os juros mais altos encarece a concessão de crédito e dificulta o poder de compra dos consumidores, o que afeta as ações e áreas mais sensíveis, especialmente o varejo. Pensando nisso, o planejador financeiro Idean Alves constatou que nos próximos anos “haverá mais renda circulando, porém com menos poder de compra, o famoso ‘ganha mais não leva’”, o que trará impactos negativos à economia.

A elevação mais radical da Selic não agradou a todos, conforme frisado por Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados). Segundo ele, o Copom tem adotado uma postura mais rígida para conter a inflação sem considerar diferentes instrumentos para tal.

“No cenário atual, aumentar os juros, desestimula o investimento e impede  a expansão da capacidade produtiva, assim como afeta diretamente o consumo e a demanda agregada, perpetuando os entraves estruturais ao desenvolvimento do país”, disse.

Queiroz ressaltou que o Brasil segue na liderança do ranking de maiores taxas de juros do mundo, e que para um “desenvolvimento sólido, sustentável e que não seja marcado por picos inflacionários” é necessário um aumento da capacidade produtiva. 

“Isto só ocorrerá quando tivermos uma taxa real de juros interna que seja compatível internacionalmente”, finalizou o economista.

Hebert Mota, sócio da gestora Tycoon, salientou que os efeitos da decisão mais radical do Copom podem freezer projetos e inovações de risco nos setores como entretenimento e gestão financeira. 

Ele reforçou que nessa conjuntura, é importante para os investidores estarem ainda mais atentos à segurança e estruturação patrimonial, o que reforça a importância de uma gestão financeira estratégica e bem planejada.