
Num cenário de estabilidade, intervenções do BC (Banco Central) no câmbio brasileiro fariam o dólar contrair. Contudo, não foi esse o caso. Na manhã de segunda-feira (16), a autarquia vendeu US$ 4,6 bilhões, sendo US$ 1,6 bilhão à vista e US$ 3 bilhões em um certame de linha, com compromisso de recompra.
Mesmo com a investida do BC, o dólar comercial encerrou o pregão da véspera com alta de 0,99%, cotado a R$ 6,09. Ou seja, se não tivesse ocorrido a intervenção, a divisa norte-americana poderia ter atingido patamares ainda mais altos frente ao real — em níveis sem precedentes.
Segundo especialistas ouvidos pelo BP Money, esse cenário alarma investidores por seu impacto inflacionário. “Algo em torno de um terço dos produtos, insumos e matérias-primas consumidos no país são importados e vêm em dólar”, explicou o economista da Corano Capital, Bruno Corano.
“Enquanto parte do mercado vê as intervenções como naturais para estabilizar a moeda em momentos de volatilidade, há debates sobre se essas operações sinalizam um comportamento mais defensivo por parte da autoridade monetária”, acrescentou o CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo.
Esse comportamento defensivo, apontado pelo especialista, ganha força com o contexto atual, com o dólar acumulando quatro dias de valorização expressiva.
BC: ambiente externo e interno contribuem para desvalorização do real
O cenário doméstico e internacional também não colaboram para uma recuperação da moeda brasileira. No Brasil, o ambiente fiscal segue afetando o humor de investidores, agravado por pressões inflacionárias e os efeitos do vencimento de títulos públicos indexados ao câmbio.
“O pacote fiscal divulgado há alguns dias não convenceu o mercado, que precifica os ativos de acordo com a perspectiva futura”, disse ao BP Money Douglas Ferreira, Head of FX Desk da Planner.
Além disso, prevalece a percepção de que o Brasil está em um momento de aversão ao risco. Com isso, a saída de capital estrangeiro é ampliada.
Lá fora, o dólar ganha força com sinais de persistência dos juros altos nos EUA, sustentados por dados econômicos robustos. “A queda nos preços das commodities e o aumento das incertezas sobre a política monetária global também contribuem para a valorização da moeda americana frente ao real”, comentou Bazzo.
Por outro lado, o presidente do Corecon-SP, Pedro Afonso Gomes, afirmou que “boa parte dessa elevação se dá pelo motivo tradicional: especulação”. Ele também aponta o “fator Trump” como influente. “Donald Trump, presidente eleito dos EUA, está fazendo propostas que possivelmente não conseguirá concretizar.”
Apesar da incerteza sobre a aprovação das medidas, Gomes alertou: “O que ele conseguir aprovar vai afetar a economia mundial.”