O desafio fiscal e a falta de confiança no Brasil: retrospectiva 2024

Especialistas avaliam que a progressão da inflação deve ser o maior desafio em 2025

Em 2024, o Brasil vive um cenário turbulento, com um conjunto de fatores econômicos que criam um ambiente de incerteza tanto para empresários e investidores quanto para os brasileiros não ativos na Bolsa. 

O ano começou com expectativas de mudança, mas a situação fiscal do país e a condução da política econômica têm gerado frustração e falta de confiança, refletindo diretamente nos mercados e na vida cotidiana da população. 

O aumento da inflação, o ritmo de trabalho do governo e o desempenho das empresas e da bolsa são apenas alguns dos pontos que ajudam a compor esse cenário desafiador.

Progressão da inflação deve ser o maior desafio em 2025

O ano pode ser novo, mas a preocupação deve permanecer a mesma. A inflação continua a ser uma preocupação central para a economia brasileira, com projeções preocupantes para 2025. 

O especialista Marcus Labarthe destaca que o Brasil enfrenta uma crise fiscal crescente, o que afeta diretamente a credibilidade do governo e seus planos para o futuro.

“Uma economia vive de credibilidade, uma economia vive de confiança. A falta de confiança no mercado brasileiro é reflexo das contas públicas do país, que vêm apresentando um rombo fiscal crescente, que só aumenta a cada ano”, afirmou Labarthe.

Esse aumento da inflação, que deve ficar entre 4,5% e 5% em 2025, é um reflexo da política econômica do governo, que até o momento não tem conseguido implementar as reformas necessárias para garantir a estabilidade fiscal.

O aumento da taxa de juros pelo Banco Central tem sido uma tentativa de controlar a inflação, mas, segundo Labarthe, isso pode ter efeitos negativos, como o aumento da taxa de desemprego e a diminuição do crescimento econômico.

“O governo brasileiro precisa urgentemente tomar medidas para controlar o rombo fiscal, ou o Brasil continuará enfrentando um cenário de alta inflação e altas taxas de juros, o que terá consequências negativas para a economia”, alerta o especialista.

Ritmo de trabalho e expectativas governamentais

A mudança de postura do governo em relação ao controle fiscal também foi notada ao longo do ano. Julio Ortiz, CEO da CX3, analisou o comportamento do governo ao longo de 2023 e 2024.

Segundo ele, o início do novo governo foi marcado por incertezas fiscais, com o fim do Teto de Gastos e um aumento no número de ministérios, o que gerou desconfiança. 

Ortiz afirma que em 2023 o governo deu um “voto de confiança” aos mercados, mas em março de 2024, as expectativas mudaram drasticamente. 

“O ministro da Fazenda anunciou que não teríamos déficit zero em 2024, como prometido, e talvez teríamos déficits até o final do governo. Estava instalada a crise”, afirmou Ortiz. 

Essa mudança de cenário gerou uma reação imediata dos mercados, resultando em uma queda na credibilidade do governo e na disparada do dólar, que atingiu a marca histórica de R$ 6 pela primeira vez.

A falta de um plano claro e efetivo para reduzir o déficit fiscal levou o governo a adotar uma política monetária mais agressiva, com aumento das taxas de juros. Essa estratégia, embora necessária para controlar a inflação, tem um custo significativo para o crescimento econômico e o bem-estar da população.

PIB e desempenho das empresas

Com a inflação fora de controle e a taxa de juros elevada, as perspectivas para o PIB de 2024 e 2025 não são animadoras.

O aumento nos custos de crédito e a falta de confiança nos investidores dificultam o crescimento das empresas brasileiras, especialmente aquelas que dependem de financiamento para expandir suas operações.

A perspectiva de uma maior alta na taxa de desemprego também gera preocupação, como pontuou Labarthe: “A tendência é que a taxa de desemprego no Brasil aumente em 2025, devido ao impacto das altas taxas de juros e à dificuldade das empresas em acessar crédito.”

O crescimento do PIB, portanto, está diretamente ligado à recuperação da confiança no governo e à implementação de reformas fiscais.

Enquanto isso, as empresas enfrentam um cenário desafiador, com dificuldades para crescer e gerar empregos, o que coloca uma pressão adicional sobre o mercado de trabalho.

Desempenho da bolsa e o nervosismo no mercado

O nervosismo do mercado também é refletido no desempenho da Bolsa brasileira. Em meio à crise fiscal e à volatilidade do câmbio, o mercado tem reagido de forma negativa.

O aumento da taxa de juros e a falta de um plano fiscal claro fizeram com que os investidores se afastassem do Brasil. O dólar disparou, atingindo recordes históricos, e a curva de juros se abriu, aumentando o custo do crédito e tornando a economia brasileira ainda mais vulnerável.

A reação dos investidores ao cenário fiscal desfavorável tem sido um reflexo direto da falta de credibilidade do governo.

Para Ortiz, o Brasil vive um momento de “crise instalada”, com o mercado sem confiança nas promessas do governo e temendo o impacto de um eventual aumento no déficit fiscal.

“O governo perdeu definitivamente a credibilidade e estamos fechando o ano no pior momento desde a eleição”, afirma Ortiz.

A falta de confiança pode ter um impacto duradouro nos mercados, dificultando a recuperação econômica e prejudicando o desempenho da Bolsa no futuro.