Boletim Focus

Selic a 15%: renda fixa resiste ao desgaste fiscal?

Especialistas recomendam cautela e gestão profissional em um cenário de juros elevados

Foto: Freepik
Foto: Freepik

A última projeção do Boletim Focus, divulgada pelo Banco Central na segunda-feira (6), apontou que o mercado financeiro espera uma Selic (taxa básica de juros) em 15% ao ano. Em um cenário típico, esse patamar impulsionaria os investimentos em renda fixa. No entanto, com o cenário fiscal desgastado, os títulos públicos já vêm oferecendo elevada rentabilidade em 2024.

“Com os anúncios do pacote fiscal, observamos uma volatilidade significativa. Ao mesmo tempo, no crédito privado corporativo, é importante lembrar que o investimento é na dívida das empresas, e estamos em um contexto de aumento da inadimplência”, comentou Fernando Camargo Luiz, gestor da Trópico Investimentos.

O especialista também destacou que a maior demanda por esses ativos pressionou os spreads (diferenças entre os preços de compra e venda) para baixo. “Ou seja, o investidor está assumindo risco para obter um retorno ligeiramente acima do CDI, o que, obviamente, não é uma estratégia recomendável”, acrescentou.

Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, ressaltou que, mesmo diante das incertezas fiscais, “a relação risco-retorno ainda é atrativa para ativos indexados ao CDI de curto e médio prazo”.

Selic em 15% ao ano sugere cautela, dizem analistas

Especialistas recomendam cautela e gestão profissional em um cenário de juros elevados. “A melhor estratégia é investir em fundos de renda fixa com baixo risco e sem crédito privado corporativo, em vez de aplicar diretamente no Tesouro Direto ou em ações”, sugeriu Camargo Luiz.

“Fundos de renda fixa sem crédito privado, conhecidos como fundos caixa, oferecem ganhos próximos ao CDI, baixa volatilidade e facilidade de resgate, funcionando como uma máquina de juros compostos, especialmente com a Selic no nível atual”, acrescentou.

Títulos como CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e opções do Tesouro Direto também permanecem atrativos, de acordo com especialistas ouvidos pelo BP Money. Para investidores mais conservadores, esta pode ser uma boa oportunidade para aumentar a exposição à renda fixa, com foco em títulos indexados ao IPCA (para proteção contra a inflação) ou prefixados (caso as taxas deem sinais de alívio).

“Em tempos de crise, a diversificação é a melhor defesa. Apesar do cenário desafiador para a renda variável, setores defensivos, como energia elétrica ou saneamento, podem oferecer resiliência, desde que o investidor aceite riscos controlados”, afirmou Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.

Outras alternativas citadas incluem LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letras de Crédito Imobiliário) pós-fixadas, atreladas ao CDI. Marco Saravalle, diretor da APIMEC Brasil, enfatizou: “Este ano, o investidor deve estar atento à qualidade das empresas em que investe, avaliando com cuidado se o crédito privado realmente é seguro”.