Volatilidade

Especulação é maior ativo em cenário de câmbio instável, diz analista

A volatilidade da moeda exige cautela de gestores e empresários. Há quem ganha, independente de onde o dinheiro estiver, comenta Alison Correia

O  co-fundador da Top Gain, Alison Correia/Foto : Divulgação
O co-fundador da Top Gain, Alison Correia/Foto : Divulgação

O Dólar vem atingindo uma sequência de baixas nas últimas semanas e a volatilidade da moeda preocupa investidores e exige cautela de gestores e empresários. Em um ambiente de instabilidade, a especulação é o maior ativo, segundo o analista de investimentos e cofundador da Top Gain, Alison Correia.

“Especuladores de mercado financeiro gostam de volatilidade, porque eles ganham dinheiro independentemente de onde a moeda estiver”, afirmou Correia ao BP Money.

Em uma economia mundial altamente dolarizada, uma série de fatores externos e internos podem determinar o sucesso de uma empresa. Da mesma forma reage a economia das nações com balanças comerciais pautadas entre importação e exportação.

O mais recente balanço nessa rede de influências foram as medidas propostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre tarifas a diversos países, no qual já foram destacados Canadá, China e México. Analistas têm dificuldade em estabelecer até onde as falas do mandatário republicano irão atingir o campo do real.

Correia não acredita que Trump tenha calculado o custo real dessas reações, ele sabe que existe todo um ecossistema que os EUA também são dependentes, mas a prioridade do presidente é fazer valer seu discurso de campanha.

“Eu não acredito que ele está preocupado com a volatilidade do dólar, ele está preocupado em impor os seus ideais. Consequentemente, isso tem reflexo no câmbio, mas não só no câmbio, o reflexo nas commodities, o reflexo é num ecossistema muito maior”, comentou o especialista

A instabilidade do câmbio pode influenciar no saldo negativo do investidor brasileiro?

Com certeza, quando a gente tem uma instabilidade, a gente não consegue fazer previsões. Se a gente não faz previsões, por exemplo, se eu sou um importador, alguém que precisa comprar insumos de fora, às vezes não precisa nem ser um importador, às vezes pode ser um insumo local mesmo, mas que utilize utensílios dolarizados, com certeza eu vou ser prejudicado.

O mercado de câmbio se beneficia de uma alta ou queda do dólar?

Essa pergunta ela depende muito, se você está exposto a dólar, como por exemplo um exportador se beneficia de uma forma muito boa, por isso que empresas que estão dolarizadas, empresas que recebem em dólar, quando a o dólar sobe muito, são ações que se valorizam. Agora se você já é um importador que tem o teu fluxo de caixa atrelado a pagamentos em dólar, com certeza não é bom.

Como a empresa deve agir para se proteger?

Tem várias formas. A mais tradicional, que a gente conhece, é o famoso hedge cambial. Então essas empresas, elas podem recorrer, por exemplo, aos mercados futuros. Operar mercados futuros, por exemplo, se eu sou um importador e tenho uma preocupação com que o dólar suba, eu posso ir aos mercados de dólar futuro e comprar dólar.

O mesmo raciocínio serve para exportadores que vão receber e tem a preocupação do dólar cair. Que que eles podem fazer? Vender dólar futuro e fazer uma trava diante do que eles têm para receber com a volatilidade do mercado.

Os Estados Unidos se beneficiam dessa volatilidade? Esse risco parece ter sido calculado por Donald Trump com seu plano de tarifas? 

Quando a gente fala de uma volatilidade desproporcional, ela não beneficia ninguém, quer dizer, a não ser os especuladores de mercado. Especuladores de mercado financeiro gostam de volatilidade, porque eles ganham dinheiro independente de onde a moeda estiver.

Quanto ao Donald Trump, eu não acredito que ele está preocupado com a volatilidade do dólar, ele está preocupado em impor os seus ideais. Consequentemente, isso tem reflexo no câmbio, mas não só no câmbio, o reflexo nas commodities, o reflexo é num ecossistema muito maior. E envolve naturalmente o dólar também, mas não acredito que isso seja uma preocupação nem que tenha sido algo calculado.

Existem riscos de crescimento da economia brasileira em 2025?

Com certeza. Ano passado, por exemplo, a gente foi muito prejudicado ou por chuvas muito extensas ou por muito fortes, como aconteceu no Rio Grande do Sul, onde a gente acabou tendo muitas produções devastadas ou por estiagens muito fortes também, os fatores climáticos atrapalharam bastante.

Este ano o governo conta com uma supersafra, se a gente tem uma supersafra para exportar e o dólar está alto, com certeza isso não vai fazer mal para nossa economia, porque boa parte da nossa balança comercial está, por exemplo, através de exportações em produtos agrícolas.

Os custos de Hedge se tornam mais atrativos para proteção cambial ou existem alternativas mais seguras?

Na verdade, os custos de Hedge, eles geralmente não são alterados pela volatilidade do mercado. O que faz na verdade, uma volatilidade muito intensa, são empresários, Traders, agricultores, terem que fazer mais operações de Hedge, o que naturalmente acaba se tornando um custo maior, mas não necessariamente que a operação fique mais cara pela volatilidade.

Qual a alternativa de mercado estável diante de uma grande desvalorização da moeda norte-americana?

Acho que commodities, por exemplo, o ouro. Muitas pessoas estão indo para criptomoedas, outras vão para Bonds, tressuares, títulos, enfim. Então a gente tem falado de estabilidade, não vou contar aqui o Brasil, que tem taxas de juros até muito boas, mas vamos falar de economias estáveis, como por exemplo o Japão, há Bonds alemães muito boas, assim como Traders europeus, são todas boas alternativas nesse sentido.