Em meio a um cenário de mercado desfavorável e com apenas um cliente, a Aeris Energy executou uma demissão em massa de 700 funcionários no início do mês de fevereiro.
A medida ocorre enquanto a empresa se prepara para discutir com seus credores uma nova proposta de adiamento dos prazos de pagamento de juros e amortização, com a intenção de prorrogar o período por mais 30 dias. A companhia é fabricante brasileira de pás para geradores de energia eólica.
Uma assembleia geral de debenturistas da primeira emissão foi agendada para o dia 28 de fevereiro, com o objetivo de deliberar sobre a situação financeira da companhia.
Durante a reunião, a Aeris buscará discutir a possível alteração da data de vencimento das debêntures para 2030, além de mudanças no cronograma de amortização, nos juros remuneratórios e na periodicidade de pagamento dos mesmos. Também será discutida a inclusão de condições para resgates antecipados.
Essas assembleias fazem parte de um conjunto de ações adotadas pela fabricante de pás eólicas para melhorar sua estrutura de capital e otimizar sua posição financeira e operacional.
Houve, inclusive, uma tentativa de conversa com a chinesa Sinoma Blade sobre a possibilidade de aquisição de parte das ações da empresa.
Contudo, a proposta inicial e não vinculante foi considerada inviável pela Aeris devido a exigências e pré-condições que foram questionadas pelos sócios da companhia.
Sem o acordo com a chinesa e enfrentando dificuldades na demanda por novos contratos, a Aeris demitiu 700 colaboradores na semana passada, conforme informações do Sindicato dos Metalúrgicos do Ceará (Sindmetal).
De acordo com fontes consultadas pela MegaWhat, os cortes ocorreram em razão da “perda de alguns contratos” e vêm sendo realizados desde dezembro de 2024.
Aeris enfrenta forte onda de demissões
Nos últimos dois anos, a Aeris registrou a demissão de 5 mil colaboradores, com 1.947 desligamentos ocorrendo somente no primeiro semestre de 2024.
Em resposta a essa situação, o Sindicato dos Metalúrgicos do Ceará (Sindmetal) emitiu um comunicado solicitando que o governo intervenha para “estancar as demissões” e apontou a entrada de uma empresa chinesa como um dos principais fatores responsáveis pela crise enfrentada pela Aeris Energy.
“Hoje, a empresa anuncia que passa por ‘momento complexo e desafiador’, mas o que está em jogo é a perda para a economia cearense.[…] Isso, em detrimento de empresa chinesa instalado na Bahia. Vale lembrar que a entrada dessa empresa chinesa no mesmo setor, desestabilizou a produção da empresa em duas plantas no Ceará. As autoridades governamentais precisam ficar atentas ao nosso mercado, que perde empregos para a concorrência de fora, que tem preços diferenciados”, diz nota do sindicato.
Aeris registra prejuízo e busca renegociar dívidas
Em seu balanço financeiro divulgado em novembro de 2024, a fabricante de pás eólicas Aeris registrou um prejuízo líquido de R$ 56,7 milhões no terceiro trimestre, o que representa um aumento de 15,4% em relação ao prejuízo de R$ 49,1 milhões registrado no mesmo período de 2023.
A receita líquida da empresa caiu 13% no comparativo anual, totalizando R$ 367,4 milhões no trimestre, refletindo principalmente a diminuição nas vendas de pás e a fraca demanda por parte dos clientes.
No aspecto financeiro, a dívida líquida da Aeris alcançou R$ 552,5 milhões, com a alavancagem (relação entre dívida líquida e EBITDA) chegando a 3,2 vezes, um aumento em relação aos 3,0 vezes registrados no terceiro trimestre de 2023. A dívida bruta, no fim de setembro, foi de R$ 1,45 bilhão, e a empresa tinha programado pagar R$ 813,5 milhões em amortizações durante 2024.
Após divulgar os resultados financeiros, a Aeris convocou seus credores para uma assembleia no dia 30 de dezembro, com o objetivo de discutir possíveis ajustes nas condições de endividamento e o adiamento da amortização de uma das emissões de debêntures realizadas pela empresa.
Logo depois, a empresa sugeriu a prorrogação do prazo de pagamento de juros, que inicialmente seria em 15 de janeiro, para 60 dias. A proposta foi aceita pelos credores.